Por CLAUDIA DREIFUS
Daniel Lieberman, 47, é um professor de biologia evolutiva na Universidade Harvard, que passa o tempo estudando como a cabeça e o pé humanos evoluíradurante os milênios Conversamos no último inverno e novamente agora em junho. Leia abaixo a íntegra.
P. Por que cabeças?
R. Se você encontrasse um Neandertal ou um Homo erectus, veria que eles são iguais a nós -exceto do pescoço para cima. Quando você pensa no que nos torna humanos, são nossos grandes cérebros, o pensamento complexo e a linguagem.
P. Existem benefícios práticos da sua pesquisa?
R. A maioria dos estudantes que se inscrevem em meu curso de anatomia e fisiologia evolutivas são estudantes de medicina. Muitas das condições que eles vão tratar têm origem no contraste entre o mundo em que vivemos hoje e os corpos paleolíticos que herdamos.
Por exemplo, dente do siso impactado é um problema muito recente. Ele surge porque hoje processamos tanto nosso alimento que mastigamos com pouca força.
Essas interações afetam como nossos rostos crescem, o que causa problemas dentários antes desconhecidos.
Os caçadores-coletores não têm dentes do siso impactados ou cáries. Existem muitas outras condições originárias desse contraste -pés chatos, osteoporose, câncer, miopia, diabetes e dores nas costas.
P. Sua outra especialidade é a evolução do pé. Por que essa ênfase nos pés?
R. Entrei nisso por causa de meu interesse pelas cabeças. Alguns anos atrás, fiz um experimento onde coloquei porcos em esteiras rolantes.
O objetivo era aprender como a corrida estressava os ossos da cabeça. Um dia, um colega, Dennis Bramble, entrou no laboratório, viu o que estava acontecendo e declarou: "Olhe, aquele porco não consegue manter a cabeça parada!"
Foi o meu momento "eureca". Percebi que havia características especiais no pescoço humano que nos permitem manter a cabeça ereta. Isso nos dá uma vantagem evolutiva, porque nos ajuda a evitar quedas.
E isso parecia uma evidência da seleção natural em nossa capacidade de correr, um fator importante de como nos tornamos caçadores em vez de apenas coletores, e tivemos acesso a alimentos mais ricos, que promoveram a evolução de nossos grandes cérebros.
Antes dos arcos e flechas e antes de os cavalos serem domados, fizemos "caçada de persistência", onde corríamos atrás de antílopes e zebras até a exaustão. Esses animais não conseguem arfar quando galopam. Eles superaquecem.
Os homens encontravam um grande animal e o perseguiam até ele cair. Você não precisa de tecnologia para fazer isso, apenas da habilidade de correr longas distâncias, o que todos nós temos.
P. O senhor estuda a corrida sem calçados. Como chegou a isso?
R. Dei uma palestra pública onde um sujeito barbado, apenas de meias e fita isolante nos pés, se aproximou e disse: "Eu não gosto de usar sapatos quando corro -como pode ser?"
O homem era "Jeffrey Descalço", um estudante de Harvard. Evidentemente, as pessoas correram descalças durante milhões de anos. Jeffrey pisava primeiro com a almofada na parte dianteira do pé, e não havia onda de choque em sua cabeça. Isso nos levou a produzir outro trabalho em que estudamos corredores descalços como Jeffrey.
O que descobrimos era que as pessoas que correm descalças tendem a correr de modo diferente das que usam calçados modernos; elas correm de maneira muito mais leve e delicada, porque seria doloroso correr como fazem as pessoas calçadas.
P. O senhor corre descalço?
R. Só no verão. Obviamente, não é possível correr descalço durante o duro inverno da Costa Leste dos EUA!
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