20 de setembro de 2011 Educação no Brasil | Gazeta do Povo | Ensino | PR
Jamil Salmi, coordenador de ensino superior do Banco Mundial (Bird) O Brasil tem potencial para ser um líder mundial na área de educação, mas falta acreditar que isso é possível. A opinião é do marroquino Jamil Salmi, coordenador de ensino superior do Banco Mundial. Ele esteve em Curitiba na semana passada para participar do seminário internacional Estratégias de apoio das universidades ao desenvolvimento regional , realizado no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para ele, as universidades brasileiras precisam ter um olhar mais internacional e transferir conhecimentos. O Brasil é um gigante economicamente, mas nenhuma universidade brasileira está entre as 100 melhores do mundo. Na Copa do Mundo, vocês acreditam que podem ser os melhores. Por que não acreditar que podem ser os melhores também em educação? , indaga. Salmi é o principal autor da estratégia do Bird para o ensino superior denominada Constructing Knowledge Societies: New Challenges for Tertiary Education. Nos últimos 17 anos foi assessor para políticas de ensino superior em mais de 60 países, inclusive para o Brasil. Publicou cinco livros e centenas de outros trabalhos sobre educação e desenvolvimento; seu ultimo livro, Challenge of Establishing World-Class Universities, foi publicado em 2009. Em sua palestra, Salmi apresentou rankings com as melhores universidades do mundo, falou sobre o conceito de world-class university e que caminhos podem ser tomados para se chegar a esse padrão de excelência em educação superior. Analisando as universidades brasileiras, Salmi ressaltou o problema de diversidade social e questionou quantos estudantes nunca terão a chance de chegar ao ensino superior. Ele também afirmou que na cultura brasileira, os professores tendem a permanecer na mesma instituição, o que não é bom para ter novas ideias e se autodesafiar. Após a palestra Ensino Superior no Brasil, Inclusão Social e World Class University , Salmi conversou com a Gazeta do Povo. Confira os principais trechos da entrevista. O senhor diz que todos querem uma world-class university, mas que ninguém sabe o que é ou como conseguir uma. Quais seriam as características e os desafios de se formar uma instituição como esta? Essencialmente temos três fatores complementares em world-class universities. O primeiro seria uma alta concentração de estudantes, professores e pesquisadores talentosos. Depois estariam os recursos, que precisam ser abundantes. As principais universidades no ranking das melhores são ricas. E o terceiro fator é relacionado à estrutura governamental, se a instituição tem uma administração favorável, que incentiva a visão estratégica, inovação e flexibilidade, além da capacidade de tomar decisões. No caso das instituições públicas, os desafios em relação à administração são maiores? Imagine o maior time de futebol do mundo. Eu citaria o Barcelona, mas você poderia escolher um time local. Se eles tivessem uma administração como a de uma universidade pública, não pudessem chamar jogadores de outros países, ou dispensar os que não estão jogando bem, não pudessem tomar decisões e apenas seguir instruções do Ministério dos Esportes, eles seriam campeões? Educação é tão importante quanto futebol, então porque o que não faz sentido para o futebol tem de fazer sentido para a educação? World-class universities precisam de autonomia administrativa, flexibilidade e poder para agir. Em sua palestra o senhor disse que no Brasil não temos nenhum exemplo de world-class university. O que tem a dizer sobre nossas instituições de ensino superior? As instituições brasileiras estão olhando muito para dentro delas mesmas e precisam ter um olhar mais internacional, uma mobilidade maior e transferência de conhecimentos. Há um avanço na parte de pós-graduação e pesquisa e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] tem um importante papel nesse aspecto. Mas, considerando que o Brasil é um gigante economicamente, há espaço para um progresso maior e a necessidade de aumentar o investimento. O Brasil deveria ser um líder em educação, mas está atrás da China. O Brasil é o quinto país mais populoso, a décima maior economia do mundo, o sexto em produção de carros, é líder em vários setores, mas nenhuma das universidades brasileiras está entre as cem melhores do mundo. O Brasil é um país rico em recursos naturais, mas, no fim das contas, o recurso mais importante é o talento de seu povo. Este é o melhor investimento, e está sendo subaproveitado. Na Copa do Mundo, vocês acreditam que podem ser os melhores. Por que não acreditar que podem ser os melhores também em educação? O sistema de cotas adotado pelo governo brasileiro facilita, por exemplo, o acesso de alunos que estudam em escolas públicas à universidade, sendo que há grande disparidade entre o desempenho de alunos que estudam em escolas públicas e os de escolas privadas. Como o senhor avalia essas iniciativas? Se a escola pública não é muito boa e as pessoas da elite, as que estão no poder, colocam seus filhos no sistema privado, nem mesmo elas acreditam no sistema que administram. O sistema de cotas sociais parece positivo, mas não é apenas uma questão de autorizar a entrada de minorias na universidade. É preciso dar suporte acadêmico e psicológico para que se sintam em casa. Se um aluno de escola pública está na universidade e todos os outros alunos vieram de escolas privadas, é outra cultura, eles não se sentem à vontade e precisam de ajuda. Em Campinas [Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)] estão tendo bons resultados, os alunos oriundos de escolas públicas têm os mesmos resultados dos demais e assim não se deixa de fora estudantes talentosos, mas pobres. [Na Unicamp, há programas como o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS), que atribui pontuação adicional no vestibular para estudantes vindos da rede pública, e o Programa de Formação Interdisciplinar (Profis), que seleciona pelo desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em comparação aos colegas que cursaram a mesma escola]. Como professor, o senhor afirmou em sua palestra que antes não gostava de mudanças, assim como os seus colegas. Há algo que precisa mudar no papel dos professores universitários pra a melhora do ensino superior? Eu ensinava da maneira que achava melhor. Quando entrava na sala de aula, era como se estivesse entrando em um barco, e eu era o único comandante. Mas eu não estava preparado pedagogicamente. Ter um diploma de doutorado não quer dizer que se está preparado para ser um professor. Para que a aula seja interessante para os alunos, o professor precisa ser preparado e ensinado a ensinar. É preciso ter aulas mais interativas, o professor deve ser o guia do estudante, ajuda-lo a pensar, não simplesmente passar a informação. Outro aspecto importante é a orientação dos alunos, assim que entram na universidade, para que sejam envolvidos no trabalho em laboratório e em pesquisas de campo, que são lugares onde eles aplicam o conhecimento, em vez de ficarem somente olhando para a teoria. Como avalia a forma com que a maioria dos estudantes brasileiros entram na universidade, o vestibular? De que forma esse processo de seleção poderia ser aprimorado? O desafio é aumentar nesse processo de seleção a importância de habilidades gerais, do pensamento crítico, da capacidade de resolução de problemas e de trabalhar em equipe. Essas são habilidades necessárias para o mundo do trabalho, mais importantes que a memorização. Eu não posso dizer que um único exame é a melhor maneira de selecionar estudantes, na verdade é perigoso definir o futuro de uma pessoa usando a nota de uma prova. Mas utilizar o histórico escolar, entrevistá-lo e avaliar o que o aluno está fazendo além de estudar e se sabe trabalhar em equipe pode ter um resultado melhor e dá para organizar tudo isso facilmente com o uso da internet. |
20 de setembro de 2011
A educação deveria ser levada tão a sério quanto o futebol
Postado por
jorge werthein
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