19 de setembro de 2011 Educação e Ciências | Diário Catarinense | Editorial | SC O Ministério da Educação abriu debate com a sociedade e com entidades representativas da área educacional sobre três propostas para ampliar o tempo que os alunos brasileiros passam dentro da escola. A primeira alternativa é o aumento dos dias letivos de 200 para 220. Uma segunda possibilidade é a ampliação em 30 minutos da atual carga horária de quatro horas, com foco na educação integral. O ministro Paulo Haddad admite ainda uma terceira medida, que não fixa número de dias e horas de aula, mas exige que as redes escolares se organizem de modo a ampliar a permanência dos estudantes na escola. Apesar da resistência de muitos profissionais de educação, qualquer comparação do sistema de ensino brasileiro com o de países mais desenvolvidos aponta para a necessidade de manter as crianças por mais tempo no ambiente escolar. As avaliações internacionais também não deixam dúvidas de que estamos a anos-luz de distância dos campões de desempenho e em todos eles os estudantes permanecem por mais tempo nas salas de aula. Mas o ponto principal não é apenas a elevação do período de presença na escola. É, muito mais, a qualificação deste tempo. Manter crianças e adolescentes nas escolas já teria a vantagem adicional de tirá-los das ruas. Mas só terá sentido se esse tempo for bem aproveitado, com práticas educativas consistentes, planejadas e executadas por profissionais bem preparados e comprometidos com a aprendizagem. Não adianta apenas transformar escolas em depósitos de crianças. Para que a medida traga os benefícios desejados, é imprescindível que os governantes contratem mais e remunerem melhor os professores, é indispensável que o poder público invista na infraestrutura escolar, é urgente que as famílias se envolvam efetivamente na educação de suas crianças. O governo todos os governos precisa se preocupar ainda com outro aspecto da educação que os especialistas consideram a prioridade das prioridades: a formação de professores. A qualidade do ensino começa com a qualificação de quem ensina. E só se qualifica adequadamente quem vê na profissão uma atividade atraente, rentável e digna. De nada adianta elevar a carga horária dos alunos se eles não puderem aproveitar este tempo para efetivamente aprender. O país precisa de mudanças profundas no seu modelo de ensino para se adequar aos novos tempos e preparar seus estudantes para a competição global. Nenhuma transformação será suficiente, porém, se não incluir a qualificação dos docentes o que envolve formação eficiente, boas condições de trabalho, oportunidade de aperfeiçoamento e recompensa compatível com a importância do ofício. Para elevar a carga horária dos alunos e obter vantagens com a medida, o Brasil deve primeiro aliviar a carga pesada do desgaste emocional, da desvalorização salarial, da exposição à violência e da desconsideração por parte dos governantes que recai diariamente sobre os profissionais da educação. |
PDF • Imprimir • E-mail • Link da página 19 de setembro de 2011 Educação e Ciências | Diário Catarinense | Editorial | SC TEMPO E QUALIDADE O Ministério da Educação abriu debate com a sociedade e com entidades representativas da área educacional sobre três propostas para ampliar o tempo que os alunos brasileiros passam dentro da escola. A primeira alternativa é o aumento dos dias letivos de 200 para 220. Uma segunda possibilidade é a ampliação em 30 minutos da atual carga horária de quatro horas, com foco na educação integral. O ministro Paulo Haddad admite ainda uma terceira medida, que não fixa número de dias e horas de aula, mas exige que as redes escolares se organizem de modo a ampliar a permanência dos estudantes na escola. Apesar da resistência de muitos profissionais de educação, qualquer comparação do sistema de ensino brasileiro com o de países mais desenvolvidos aponta para a necessidade de manter as crianças por mais tempo no ambiente escolar. As avaliações internacionais também não deixam dúvidas de que estamos a anos-luz de distância dos campões de desempenho e em todos eles os estudantes permanecem por mais tempo nas salas de aula. Mas o ponto principal não é apenas a elevação do período de presença na escola. É, muito mais, a qualificação deste tempo. Manter crianças e adolescentes nas escolas já teria a vantagem adicional de tirá-los das ruas. Mas só terá sentido se esse tempo for bem aproveitado, com práticas educativas consistentes, planejadas e executadas por profissionais bem preparados e comprometidos com a aprendizagem. Não adianta apenas transformar escolas em depósitos de crianças. Para que a medida traga os benefícios desejados, é imprescindível que os governantes contratem mais e remunerem melhor os professores, é indispensável que o poder público invista na infraestrutura escolar, é urgente que as famílias se envolvam efetivamente na educação de suas crianças. O governo todos os governos precisa se preocupar ainda com outro aspecto da educação que os especialistas consideram a prioridade das prioridades: a formação de professores. A qualidade do ensino começa com a qualificação de quem ensina. E só se qualifica adequadamente quem vê na profissão uma atividade atraente, rentável e digna. De nada adianta elevar a carga horária dos alunos se eles não puderem aproveitar este tempo para efetivamente aprender. O país precisa de mudanças profundas no seu modelo de ensino para se adequar aos novos tempos e preparar seus estudantes para a competição global. Nenhuma transformação será suficiente, porém, se não incluir a qualificação dos docentes o que envolve formação eficiente, boas condições de trabalho, oportunidade de aperfeiçoamento e recompensa compatível com a importância do ofício. Para elevar a carga horária dos alunos e obter vantagens com a medida, o Brasil deve primeiro aliviar a carga pesada do desgaste emocional, da desvalorização salarial, da exposição à violência e da desconsideração por parte dos governantes que recai diariamente sobre os profissionais da educação. |
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