19 de setembro de 2011 Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | Fernando Veloso | BR Fernando Veloso Demanda por trabalhadores qualificados cresceu acima da oferta de trabalhadores com diploma universitário As diversas interpretações da crise financeira internacional em geral enfatizam desequilíbrios macroeconômicos e falhas na regulação do sistema financeiro. No livro "Fault Lines: How Hidden Fractures Still Threaten the World Economy", o economista Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, acrescenta um elemento surpreendente: a ineficiência do sistema educacional americano. Nas últimas três décadas, houve uma elevação significativa da desigualdade de renda nos Estados Unidos. Isso decorreu principalmente de um grande aumento da desigualdade salarial. Por exemplo, em 1975 o salário de um trabalhador no grupo dos 10% mais ricos correspondia a cerca de três vezes o salário de um trabalhador dentre os 10% mais pobres. Em 2005, essa diferença passou a ser de cinco vezes. No mesmo período, o salário dos 10% mais ricos aumentou mais de 60% em relação ao salário médio. Um dos principais fatores responsáveis pela elevação da desigualdade foi um aumento expressivo do salário de trabalhadores com ensino superior completo em relação ao de trabalhadores que concluíram apenas o ensino médio. Isso decorreu do fato de que a demanda por trabalhadores com maior qualificação, associada ao uso de novas tecnologias, cresceu muito acima da oferta de trabalhadores com diploma universitário. Embora restrições financeiras possam ter contribuído para o lento aumento da oferta de trabalhadores com ensino superior completo, pesquisas mostram que o principal motivo foi o baixo nível de aprendizagem ao final do ensino médio. Outra manifestação do descompasso entre demanda e oferta de trabalho qualificado nos Estados Unidos é o fato de que, muitas vezes, trabalhadores demitidos não possuem as qualificações necessárias para preencher novas vagas. Essa é uma das razões pelas quais, desde o início da década de 90, a recuperação dos empregos perdidos após as recessões tem sido cada vez mais lenta. Segundo Rajan, diante das pressões resultantes do aumento da desigualdade e das dificuldades de se produzir avanços rápidos na qualidade da educação, a solução política foi expandir de forma maciça o crédito para a aquisição da casa própria. Além disso, Rajan argumenta que a dificuldade da economia americana em gerar empregos após a recessão de 2001 levou o Banco Central (Fed) a manter as taxas de juros baixas por um tempo excessivamente longo. Em resumo, a elevação das tensões sociais associada às dificuldades do sistema educacional dos Estados Unidos em prover educação de qualidade teve um papel relevante na crise financeira. Isso ajuda a entender a importância atual do tema da reforma da educação no debate público americano. FERNANDO VELOSO, 44, é pesquisador do Ibre/FGV |
19 de setembro de 2011
FERNANDO VELOSO: Educação e a crise financeira
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jorge werthein
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07:43
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