6 de setembro de 2011

Um tema para a Rio+20


06 de setembro de 2011
Educação e Ciências | O Globo | Razão Social | BR
 Um tema para a Rio+20

Artigo
Paulo de Sousa Coutinho*
A cada ano cresce a pressão para as grandes corporações brasileiras incorporarem a sustentabilidade ao core business dos seus negócios. O mercado exige isto das companhias e a sociedade cobra uma postura próativa nas questões socioambientais.
Tudo tem que ser feito para que elas não percam sua competitividade e conservem uma imagem positiva.
O principal desafio para as empresas é a conquista da licença social para operar, que se pode definir como o fruto do consenso que deverá ser alcançado entre os grupos de interesse sobre a importância e validade de determinada operação empresarial. Esta licença, com seu caráter intangível, é fundamental para os processos de certificação e pressupõe um intenso trabalho de relacionamento social com as comunidades vizinhas de qualquer atividade produtiva.
Uma empresa que planeja e implanta políticas para alcançar a licença social sabe que estará ainda contribuindo para: Fortalecer para o desenvolvimento local; Minimizar riscos de prejuízos operacionais devidos a conflitos com comunidades afetadas pelas operações; e Maximizar ganhos mútuos (para as comunidades e para si)por meio da identificação de oportunidades advindas da sinergia de ações integradas e sistêmicas.
Um conceito-chave para o desenvolvimento social é a socioeficiência.
Assim como a ecoeficiência é a melhor combinação entre o econômico e o ambiental, uma operação socioeficiente permite ampliar os ganhos sociais dos empreendimentos sem prejudicar a sua lucratividade. Os investimentos sociais realizados com este conceito produzem resultados concretos e tornam possível o equilíbrio do tripé da sustentabilidade.
A socioeficiência só pode ser atingida quando as corporações passam a trabalhar com a visão do empreendedorismo social, que supera todas as formas de paternalismo e assistencialismo.
Este empreendedorismo é a base para o empoderamento individual e comunitário; sua construção se dá por meio da utilização de metodologias participativas que devem estar no cerne de qualquer atividade de engajamento social e que servirão de base para o surgimento de uma cultura empreendedora territorial no âmbito de uma certa comunidade ou região.
Os recursos financeiros investidos na criação desta cultura alavancam ações sociais sustentáveis que se ampliam e se multiplicam pela sua própria característica empreendedora.
Esta prática caracteriza uma gestão inovadora que, no entanto, não produz milagres. Para que ela seja eficaz e gere valor aos negócios, é preciso considerar cinco aspectos relevantes para o seu sucesso.
O primeiro aspecto é a necessidade de uma gestão integrada e informatizada de todo o processo.
O segundo é a formação do capital social nas comunidades num contexto de precariedade de todo o sistema educacional local.
A existência de um plano de comunicação é o terceiro aspecto; ele deve dar conta do fluxo de informação interno a cada projeto e planejar adequadamente a comunicação externa com todos os stakeholders.
O quarto aspecto é a necessidade do plano de negócios para as atividades produtivas a serem desenvolvidas pelas comunidades como parte dos projetos realizados em parceria com as empresas.
O último aspecto é a existência de uma estrutura de apoio ao monitoramento e avaliação das ações socioambientais que, com ajuda de indicadores de desempenho adequados, vai permitir validar e corrigir cada passo do processo.
A principal e mais difícil inovação será a participação conjunta dos gestores da empresa e da comunidade num processo criativo que otimiza recursos e que, no fundo, estará garantindo a sustentabilidade de qualquer solução adotada.
O trabalho social não produz resultados no curto prazo e os gestores devem ter isto claro para que sua gestão leve sempre em conta que os processos de mudança de consciência não acontecem da noite para o dia. Exigem, sim, boas doses de paciência.
Nas regiões onde há conflitos históricos com as empresas ou que haja tensões internas significativas nas comunidades, isto se torna mais crítico.
No entanto, sabe-se que pelas características culturais do povo brasileiro - sua história, seu processo de miscigenação e sua convivência social mais aberta - a maior facilidade para o diálogo social pode se transformar numa vantagem competitiva para as empresas brasileiras, acompanhadas de melhorias da qualidade de vida e o desenvolvimento humano das milhares de comunidades espalhadas por todo o país. Esta pode ser uma contribuição relevante que o Brasil deve levar adiante no processo em curso da Rio+20 e sua missão de expandir a sustentabilidade.
Afinal, as agendas da economia verde e da governança global, propostas pela ONU como temas principais da conferência em 2012, não têm como avançar sem que o social esteja no centro do debate.

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