7 de setembro de 2011

videogame,computador,tevê: Miopia, ameaça crescente


07 de setembro de 2011
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Saúde | BR

Beto Novaes/EM/D.A Press

Giovanna e Breno são fãs de computadores, não só para jogar, mas para estudar. No entanto, já usam óculos por conta da refração visual







Horas a fio de jogos de videogame e uso intensivo do computador ou da tevê estão deixando mais crianças com problemas nos olhos. Alerta é da presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica

LUCIANE EVANS
Porto Alegre - Os olhos da chamada geração high-tech - as crianças de hoje, que crescem entre computadores, videogames e jogos no celular, além do uso dos dispositivos para leituras e deveres escolares - correm sérios riscos. Com o hábito de passar muitas horas na frente das telas, os pequenos começam a desenvolver cada vez mais um distúrbio visual perigoso: a miopia, a dificuldade de enxergar objetos distantes. O alerta é da presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), Célia Nakanami, que participa, em Porto Alegre, do 36º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. O impacto que o excesso de tempo em atividades eletrônicas pode causar para a visão das crianças é um dos temas do evento, que tem novidades também para males como o glaucoma e a catarata e reúne 8 mil médicos e 654 palestrantes (22 deles, oftalmologistas estrangeiros).
Célia garante ser cada vez maior o número de meninas e meninos, com até 8 anos, que usam óculos. "É o preço do progresso. Nossas crianças atualmente passam dias se divertindo com os eletrônicos e deixaram de brincar ao ar livre. Além disso, estudam mais. Tudo isso é um esforço para a vista e, consequentemente, uma ameaça à saúde dos olhos. Na Ásia, a miopia infantil já é epidemia."
Dados da SBOP indicam que, no Brasil, há 8 milhões de jovens, entre 7 e 14 anos, com problemas de visão graves o suficiente para atrapalhar o desempenho escolar e outras tarefas do dia a dia. Desde 2005, Célia Nakanami está debruçada em um estudo, com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para conhecer os erros refrativos visuais em crianças brasileiras - como miopia, hipermetropia e astigmatismo - que causam a perda da nitidez da imagem. Como parte do trabalho, entre 2005 e 2009, ela percorreu escolas públicas e particulares de São Paulo e analisou 2,8 mil estudantes.
"Nas instituições privadas avaliadas, 22% das crianças têm problemas de visão, 15% delas com miopia. Na rede pública, o percentual total não chega a 5%, dos quais 4% com miopia. São exemplos de um país em desenvolvimento. Na teoria, a instituição privada exige mais dos alunos, o que implica mais livros, acesso a computadores e outras tecnologias", diz a presidente da SBOP, justificando a discrepância de fatores socioeconômicos que refletem o quadro tão diferente. "Quanto maior o poder aquisitivo da criança, maiores serão as chances de desenvolver um desvio nos olhos. Uma criança rica tem mais acesso aos equipamentos eletrônicos", exemplifica.
O distúrbio também ocorre por fatores genéticos. "Quando os pais têm miopia, os filhos têm uma predisposição maior para desenvolvê-la. Já o segundo fator está relacionado aos hábitos", afirma Célia. "Faça o teste: depois de passar horas diante do computador, quando você sai da frente dele, parece enxergar embaçado. É uma miopia temporária. Insistir no hábito pode fazer que não seja mais passageiro e se torne um distúrbio visual." Com as crianças, alegam os especialistas, é ainda pior, porque, até os 8 anos, elas estão desenvolvendo o globo ocular. Mesmo as que não têm casos de miopia na família correm riscos.
O que ocorre, segundo explica a especialista, é que, quando se está diante das telas, nas quais há milhares de pixels, as pessoas tendem a se esforçar mais para focar a visão. "Isso faz com que o sistema ótico se esforce para ter nitidez e pisca-se menos. Há uma pressão nos músculos internos dos olhos e, na medida em que isso se repete, a tendência é de desenvolver um problema refrativo", diz, lembrando que médicos consideram a visão estável somente aos 25 anos. "Por isso, adolescentes e pré-adultos também estão dispostos aos riscos." Ao desenvolver o mal ainda na infância, de acordo com Célia, a pessoa tem chances de ter progressão do desvio na fase adulta, chegando aos perigosos cinco graus de miopia. "Pode ser vítima da alta miopia, que limita a visão em menos de 10% e não se consegue ver com nitidez objetos a menos de três metros", explica.
Controle necessário
Breno Gouveia Schettino, 12 anos, descobriu a miopia há um ano. Está em estágio inicial, com apenas 0,5 grau em cada olho. "O médico perguntou se eu jogava muito videogame ou computador. Respondi que sim. Em média, devo passar de três a quatro horas por dia na frente de um ou do outro, mas ele não me mandou parar", conta o garoto.
O tempo de exposição aos computadores e videogames é o veneno dessa história. Segundo a presidente da SBOP, como não há como proibi-los de usar os equipamentos, o melhor, tanto para crianças quanto para adultos, é, depois de duas horas diante das telas, fazer uma pausa e descansar a vista. "As crianças estão estudando mais, lendo mais e mais ativas e integradas às tecnologias.
É o progresso. Por isso, dizemos que um país desenvolvido é o berço para a miopia infantil", avalia. "O melhor é ter uma atitude moderada e não usar os equipamentos em excesso. Ao estar diante de um computador, regule o brilho da tela e não fique a menos de 50 centímetros de distância. Ao fazer a leitura de um livro, procure um ambiente com iluminação adequada, onde sua vista estará confortável. Assim, vamos aumentar as chances de ter uma visão mais saudável", diz Célia.
O alerta é parte do estudo da oftalmologista Célia com a OMS, que deve ser finalizado ainda este ano. Giovanna Margot Alcoba Pinto, 13 anos, colega de escola de Breno, convive com o problema há mais tempo que o amigo. "Há três anos passei a usar óculos. Comecei a sentir a vista embaçada. Tenho 0,75 grau em um olho e 1,25 em outro. Esqueci qual é qual. Se piorar, devo fazer a cirurgia de miopia, mas só quando eu completar 18 anos", revela.
Laura Alcoba, mãe de Giovanna, diz que o histórico familiar pesou no caso da filha. "Há muitas pessoas na família com o problema, mas ela realmente passa bastante tempo em frente ao computador. Até porque quase todas as tarefas escolares são feitas nele.
Em dias de semana, ainda tento colocar regras, mas nos fins de semana é o dia inteiro. Consultamos quatro oftalmologistas, nunca haviam levantado essa questão do uso de PC e games. É bom saber e importante que os pais fiquem atentos", conclui.
O QUE É MIOPIA
Devido ao alongamento do globo ocular e à excessiva convergência do cristalino, a imagem de um objeto distante se forma antes da retina, não permitindo uma visualização nítida. Para correção, utiliza-se uma lente divergente, que, associada ao cristalino, projeta a imagem sobre a retina.

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