5 de fevereiro de 2012

Pobreza no Brasil caiu mais para idoso que para criança


5 de  Fevereiro de 2012
Educação no Brasil | Folha de S. Paulo | Poder | BR




ANTONIO GOIS
Apenas 2% da população de 60 a 74 anos anos vive com menos de US$ 2 ao dia
Redução em 30 anos se deu mesmo com aumento de 6 para 15 milhões de pessoas nessa faixa etária
Graças ao aumento de gastos públicos com aposentadoria após a Constituição de 1988, beneficiando até quem nunca havia contribuído, o Brasil conseguiu em 30 anos praticamente erradicar a pobreza entre idosos.
Do início da década de 80 até o final da passada, a proporção de brasileiros entre 60 e 74 anos vivendo com menos de US$ 2 por dia (linha de pobreza do Banco Mundial) caiu de 45% para 2%.
Os dados são de estudo dos pesquisadores Cassio Turra (Universidade Federal de Minas Gerais) e Romero Rocha (Banco Mundial).
Foi o maior declínio de todos os grupos etários. Esta redução é ainda mais expressiva quando se leva em conta que foi conciliada com um aumento populacional de 6 para 15 milhões de idosos.
A mesma eficiência não se verificou entre crianças. A pobreza também caiu significativamente (de 66% para 17%) no grupo, mas a proporção de pobres na população de zero a 14 anos hoje é o dobro da verificada entre adultos e quase oito vezes a encontrada entre idosos.
A discrepância na taxa de pobreza entre idosos e crianças é, em boa parte, explicada pelo perfil de gastos do poder público.
Num estudo que comparou 22 países, publicado em 2010 pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o consumo per capita de idosos no Brasil representava praticamente o dobro do das crianças.
Neste cálculo, leva-se em conta tanto o consumo bancado pelas famílias quanto o custo dos serviços públicos utilizados, como os gastos por aluno em escolas públicas ou por idosos em hospitais do SUS, por exemplo.
Do grupo comparado, apenas três países -os Estados Unidos, a Suécia e o Japão- gastavam mais do que o Brasil, proporcionalmente, com seus idosos.
PÚBLICO E PRIVADO
A maior igualdade nos gastos entre mais velhos e crianças foi encontrada em países asiáticos como a China, a Coreia do Sul e Taiwan, graças, principalmente, ao alto investimento em educação.
Outra constatação do estudo foi que, no Brasil, 90% do consumo dos idosos é financiado por transferências do poder público.
No caso de crianças, esta proporção é de apenas 17%, ou seja, são as famílias que arcam com maior parte dos custos do investimento da infância no Brasil.
O pesquisador Cassio Turra explica que o percentual pequeno de idosos vivendo hoje com menos de US$ 2 dólares ao dia deve-se principalmente à Constituição, que deu aos trabalhadores rurais aposentadoria até para quem nunca havia contribuído.
Outro benefício constitucional que contribuiu para isso foi o BPC (Benefício de Prestação Continuada), que assegura a qualquer idoso com renda per capita inferior a um salário mínimo o pagamento de um salário mensal.
Na avaliação de Turra, no entanto, esses programas só foram possíveis porque o país passava por um momento demográfico favorável, com uma proporção ainda pequena de idosos em relação a adultos, que puderam contribuir com seus impostos para sustentar a Previdência.
"Isso não vamos conseguir fazer mais, pois haverá menos adultos e mais idosos no país", afirma o pesquisador.
"Além de repensar as políticas para idosos, será preciso investir para aumentar a produtividade do trabalhador. Para isso, é fundamental aumentar o investimento em educação", emenda.

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