HÉLIO SCHWARTSMAN
Procrastinadores
SÃO PAULO - Faltam menos de 48 horas para a entrega da declaração do IR e milhões de brasileiros não cumpriram com suas obrigações. O nome disso é procrastinação, e ela está bem fundada em nossa psicologia. O cérebro tem horror a tarefas chatas e faz de tudo para evitá-las.
O problema é que o que é bom para o cérebro nem sempre é bom para nós. Atrasar a entrega do IR gera multa; adiar a dieta e os exercícios pode ser a antessala do infarto. Sabemos lidar com essas questões?
Um experimento conduzido por Dan Ariely sugere que não. Ele escolheu três de suas turmas no MIT e combinou diferentes regimes para a entrega dos três trabalhos exigidos. Na primeira, cada aluno definiria sozinho as datas e perderia pontos no caso de atrasar. Na segunda, Ariely estabeleceu que os três ªpapersº deveriam ser entregues até o último dia de aula. Na terceira, agiu ditatorialmente: determinou datas escalonadas para cada um dos textos.
Os alunos da terceira classe, embora reclamando do autoritarismo, conseguiram as melhores notas. Os da segunda, que tiveram toda a liberdade, se saíram pior. Como era previsível, deixaram tudo para a última hora, o que resultou em peças mal escritas e com pouca pesquisa.
Os estudantes da primeira turma não foram, na média, tão bem quanto os da terceira, mas o incentivo à autodisciplina funcionou. Quem espaçou mais as datas de entrega teve notas comparáveis às da classe submetida à tirania. Ocorre, contudo, que a decisão mais racional para essa classe, a que maximizava as oportunidades, era fixar a entrega dos três textos para a última ocasião possível.
Esse é o dilema que fratura hoje a economia. Os modelos clássicos pressupõem agentes plenamente racionais que não existem no mundo real. É aí que entra a nova economia comportamental, da qual Ariely é um representante. A ideia aqui é incorporar à teoria as imperfeições e vieses que marcam a condição humana.
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