by
O Ministério da Educação abre uma janela para a universidade brasileira, ao estender para a graduação a modalidade de estudos no exterior, a conhecida bolsa-sanduíche.
Nenhuma universidade é uma ilha.
Talvez uma península, uma expansão geográfica, uma república dinamizada pelos desafios do conhecimento.
O ministério deu um sinal positivo do quanto se deve aprofundar.
Como disse Anísio Teixeira "não se faz reforma da universidade sem mudança de saber que ela vai transmitir. Essa mudança não é, de maneira alguma, mudança de forma, de estrutura: a mudança é de conteúdo, dos programas e da aplicação que o Brasil vai fazer".
A presença dos estudantes brasileiros nas universidades estrangeiras deve levar ao aumento de qualidade nos cursos de graduação, bem como à transparência crítica do ensino, deixando na berlinda os inimigos viscerais da própria universidade.
Refiro-me aos cavaleiros da entropia, à "polícia das fronteiras" do conhecimento, dos que defendem os resíduos hegemônicos de cada disciplina, impedindo um fluxo mais livre e solidário entre as diversas unidades acadêmicas. Desses que preferem um encontro com o próprio diabo, em vez de um diálogo radial ou transversal mais consistente.
Para mudar esse quadro, impõese redobrada a vigilância cultural e a imaginação administrativa, para assegurar o predomínio de uma ética interdisciplinar contra o obscurantismo do mesmo. Nada que se limite ao manejo de um conjunto de verbetes - politicamente corretos e vazios, que elogiam o diálogo entre as disciplinas para simplesmente liquidá- lo no dia a dia - e nem tampouco ao uso de um jargão deficitário, mas a uma práxis positiva, que condene com veemência o sacrifício da esfera pública em favor de projetos de carreira pessoal. Aposta-se numa universidade de profunda noosfera, que compreenda a interdisciplinaridade como a demanda ética de maior prioridade.
Como lembra Eric Gould, a proliferação de departamentos, com o repertório fixo de suas atividades didáticas, faz com que o compromisso de alunos e professores seja maior com as próprias disciplinas do que com a universidade. Uma alienação altamente perigosa. Como se deixassem de perceber o horizonte do conhecimento em que se inscrevem, o da vocação universitária por excelência, para naufragarem nas vísceras de uma instância funcional, como se fossem brâmanes de um fatal descompromisso.
É preciso romper os impostos das aduanas burocráticas, fronteiras que atingiram uma estranha condição dogmática, um perigoso estatuto metafísico, reificadas ao extremo, quando não passam de meros circuitos funcionais - unidades, setores e departamentos - defendidos com um fervor apostólico, como quem se bate por uma escolástica desprovida de todo vigor. De portas e janelas curriculares hermeticamente fechadas. É preciso vencer a tese da pureza instrumental das disciplinas, contra uma espécie de promiscuidade curricular, em nome de uma cômoda situação funcional, que parece matizar, de alguma forma, a derrota intelectual das glebas improdutivas, a que se prende a vassalagem de um conhecimento desprovido de aventura.
Apesar disso, a universidade brasileira investe em grandes projetos de diálogo, que merecem toda a visibilidade pública, nos centros de estudos avançados, núcleos e escolas de alta flexibilidade curricular e formas burocráticas positivas, inclinadas a manter aproximações entre centros aparentemente distantes ou antes impenetráveis.
Projetos que garantem a sinergia entre a graduação e a pós, oferecendo, no lugar de um abismo, uma solução de continuidade, com larga proficiência, nos domínios da pesquisa, do ensino e da extensão.
Atitudes que correm ao largo de uma xenofobia interdisciplinar e que abrem interfaces transversais, em territórios de alta e recorrente contaminação.
Essa é a universidade com que sonhamos, democrática e republicana.
MARCO LUCCHESI é escritor.
Nenhuma universidade é uma ilha.
Talvez uma península, uma expansão geográfica, uma república dinamizada pelos desafios do conhecimento.
O ministério deu um sinal positivo do quanto se deve aprofundar.
Como disse Anísio Teixeira "não se faz reforma da universidade sem mudança de saber que ela vai transmitir. Essa mudança não é, de maneira alguma, mudança de forma, de estrutura: a mudança é de conteúdo, dos programas e da aplicação que o Brasil vai fazer".
A presença dos estudantes brasileiros nas universidades estrangeiras deve levar ao aumento de qualidade nos cursos de graduação, bem como à transparência crítica do ensino, deixando na berlinda os inimigos viscerais da própria universidade.
Refiro-me aos cavaleiros da entropia, à "polícia das fronteiras" do conhecimento, dos que defendem os resíduos hegemônicos de cada disciplina, impedindo um fluxo mais livre e solidário entre as diversas unidades acadêmicas. Desses que preferem um encontro com o próprio diabo, em vez de um diálogo radial ou transversal mais consistente.
Para mudar esse quadro, impõese redobrada a vigilância cultural e a imaginação administrativa, para assegurar o predomínio de uma ética interdisciplinar contra o obscurantismo do mesmo. Nada que se limite ao manejo de um conjunto de verbetes - politicamente corretos e vazios, que elogiam o diálogo entre as disciplinas para simplesmente liquidá- lo no dia a dia - e nem tampouco ao uso de um jargão deficitário, mas a uma práxis positiva, que condene com veemência o sacrifício da esfera pública em favor de projetos de carreira pessoal. Aposta-se numa universidade de profunda noosfera, que compreenda a interdisciplinaridade como a demanda ética de maior prioridade.
Como lembra Eric Gould, a proliferação de departamentos, com o repertório fixo de suas atividades didáticas, faz com que o compromisso de alunos e professores seja maior com as próprias disciplinas do que com a universidade. Uma alienação altamente perigosa. Como se deixassem de perceber o horizonte do conhecimento em que se inscrevem, o da vocação universitária por excelência, para naufragarem nas vísceras de uma instância funcional, como se fossem brâmanes de um fatal descompromisso.
É preciso romper os impostos das aduanas burocráticas, fronteiras que atingiram uma estranha condição dogmática, um perigoso estatuto metafísico, reificadas ao extremo, quando não passam de meros circuitos funcionais - unidades, setores e departamentos - defendidos com um fervor apostólico, como quem se bate por uma escolástica desprovida de todo vigor. De portas e janelas curriculares hermeticamente fechadas. É preciso vencer a tese da pureza instrumental das disciplinas, contra uma espécie de promiscuidade curricular, em nome de uma cômoda situação funcional, que parece matizar, de alguma forma, a derrota intelectual das glebas improdutivas, a que se prende a vassalagem de um conhecimento desprovido de aventura.
Apesar disso, a universidade brasileira investe em grandes projetos de diálogo, que merecem toda a visibilidade pública, nos centros de estudos avançados, núcleos e escolas de alta flexibilidade curricular e formas burocráticas positivas, inclinadas a manter aproximações entre centros aparentemente distantes ou antes impenetráveis.
Projetos que garantem a sinergia entre a graduação e a pós, oferecendo, no lugar de um abismo, uma solução de continuidade, com larga proficiência, nos domínios da pesquisa, do ensino e da extensão.
Atitudes que correm ao largo de uma xenofobia interdisciplinar e que abrem interfaces transversais, em territórios de alta e recorrente contaminação.
Essa é a universidade com que sonhamos, democrática e republicana.
MARCO LUCCHESI é escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário