Danos ambientais como efeito estufa e extinções não entram no PIB. O esforço de limpeza criado por um derramamento, aliás, faz com que fique maior
O PIB é o grande objeto de desejo das forças que governam nações. Ele é a somatória das transações -compras e vendas- realizadas nos mercados de um país em um ano.
Como a grande maioria dos bens e serviços produzidos se destina à venda, o valor de todas as transações corresponde ao total de mercadorias produzidas.
De um modo ou outro, as mercadorias produzidas são transacionadas e passam a satisfazer necessidades e desejos dos que as adquiriram. Daí a noção de que o PIB mede a riqueza produzida, que ao ser consumida passa a ser a causa eficiente do bem-estar da população.
Daí a importância econômica e política do PIB e de sua variação anual, pela qual se mede o sucesso ou o fracasso dos governos. Se não for o único medidor, é certamente um dos mais importantes.
Por isso, as nações se esforçam pela expansão perene e intensa de seu PIB. Mas, apesar de seu prestígio, o PIB, enquanto medidor indireto de bem-estar, tem lacunas.
A primeira é não incorporar o desgaste de recursos naturais, porque ninguém precisa pagá-lo. Evidentemente, se a terra sujeita a sucessivos plantios e colheitas perde a fecundidade, alguém pagará no futuro. O mesmo vale para o esgotamento de jazidas de petróleo, de minerais e da extinção de espécies de peixes e outras prendas da natureza.
Essa lacuna do PIB se torna mais grave quando a humanidade se defronta com os efeitos acumulados do consumo de combustíveis fósseis, que agravam o efeito estufa, aquecendo o planeta e trazendo calamidades. O PIB, além de não medir o custo da perda dos recursos naturais, contabiliza como positivos os gastos das nações para lutar contra desastres naturais como incêndios florestais, poluição de oceanos por derramamentos de petróleo, terremotos e maremotos.
Quanto mais desastres um país sofre, mais o seu PIB aumenta, de modo que o seu crescimento às vezes não representa o aumento do bem-estar do povo, mas a redução.
A outra lacuna do PIB é que ele ignora a forma como os produtos são distribuídos entre a população. Para medir a contribuição do PIB ao bem-estar popular, o seu valor é dividido pelo número de habitantes do país - daí o PIB per capita, que pressupõe que todos participam dele por igual, o que nunca ocorre.
No capitalismo neoliberal hoje prevalecente, a desigualdade de renda está em aumento: os pobres, em sua maioria, ficam mais pobres, e os ricos ficam ainda mais ricos.
Por causa dessas falhas do PIB, ganha importância a iniciativa do Butão, um pequeno reino no Himalaia, que no ano passado propôs à Assembleia Geral da ONU que a contabilidade nacional adotada pelas nações substitua o PIB pelo FIB, a Felicidade Interna Bruta, que o próprio Butão adota desde 2008.
O FIB foi construído para medir com exatidão a variação da felicidade da população. Após diversas consultas à população, os cientistas concluíram que a felicidade pode ser medida pelo grau de suficiência em nove áreas: bem-estar psíquico, saúde, uso do tempo, educação, diversidade cultural, boa governança, vitalidade comunitária, diversidade ecológica e padrões de vida.
O governo do Butão chegou à seguinte compreensão de felicidade: "Sabemos que a felicidade verdadeira, fiel a si mesma, não pode existir enquanto outros sofrem. Ela provém apenas de servir aos outros, vivendo em harmonia com a natureza".
Em julho de 2011, o reino do Butão apresentou à Assembleia Geral da ONU, com o apoio de 68 nações, uma proposta de resolução sobre "Felicidade: por uma abordagem holística ao desenvolvimento", que foi adotada por unanimidade pelos 193 países-membros da ONU.
Essa resolução urge uma abordagem mais inclusiva, equitativa e equilibrada, que promova o desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza, felicidade e bem-estar de todos os povos.
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