22 de junho de 2012

Choque de metáforas, Hélio Schwartsman


22/06/2012 - 03h00

F.DE SÃO PAULO

O povo, ao menos aquele que escreve cartas à imprensa e participa de redes sociais, ficou revoltado com a aliança lulo-haddado-malufista. Até petistas contumazes, daqueles que não creem em mensalão, ficaram incomodados. A pergunta é: por quê? Constatar que o PP participa da coalizão que apoia o governo federal não é novidade.
Uma resposta plausível é que, enquanto os acordos se traduzem numa sopa de letras como PT-PMDB-PC do B-PDT-PSB-PSC-PTN-PP, não é difícil manter distanciamento, mas, quando o apoio se materializa numa concretíssima foto em que os três políticos confraternizam, reações emocionais se tornam quase inevitáveis.
Um bom modelo para explicar esse efeito é o da metáfora conceitual, proposto pelo linguista George Lakoff, que, não por acaso, tem feito incursões pela teoria política.
Para o autor, metáforas são muito mais que um recurso linguístico para explicar ideias. Elas são a própria matéria-prima do pensamento e têm existência física no cérebro. Pares de ideias frequentemente disparadas juntas se consolidam numa rede neuronal que se fortalece à medida que vai sendo mais utilizada.
O público mais à esquerda passou tanto tempo associando Maluf ao que há de pior na política que essa imagem se solidificou numa metáfora. Os mais velhos se lembrarão que "malufar" fez uma aparição na língua como sinônimo de "roubar".
O que Lula pede à militância, quando se congraça com Maluf, é não só que iniba a velha metáfora como também que a reformule, incorporando-a à imagem positiva que os simpatizantes têm do PT. Só que esse movimento não acontece sem uma boa dose de sofrimento psíquico, que dispara reações viscerais.
Para Lakoff, essas emoções orgânicas, mais que o cálculo racional, determinam o comportamento do eleitor. Se o voto aqui não fosse obrigatório, uma manobra como essa poderia afastar a militância das urnas.

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