20 de junho de 2012
OCIMARA BALMANT , LUIS CARRASCO, ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo
Para os professores das escolas públicas brasileiras, a dificuldade de aprendizagem dos alunos não é culpa deles: apenas 11% dos profissionais da área creditam o baixo rendimento ao não cumprimento do currículo ou à insegurança física da escola. A responsabilidade sobre o fracasso, para 60% deles, é da família e do próprio aluno.
Os dados foram tabulados pelo Estado a partir do questionário da Prova Brasil 2009, respondido por 216.495 docentes de instituições públicas de todo o País que dão aulas para alunos do 5.º e 9.º ano do ensino fundamental, público-alvo da avaliação.
No ranking dos culpados, que apresentou 14 opções de resposta aos docentes, o nível cultural dos pais e, entre os alunos, a baixa autoestima, o desinteresse e a indisciplina ocuparam as sete primeiras posições (veja quadro nesta página). No primeiro lugar - como principal problema que afeta o desempenho dos estudantes, apontado por 68,9% dos professores - está o não acompanhamento, por parte das família, dos deveres de casa.
O índice é 40 pontos porcentuais acima da primeira proposição, que relaciona o rendimento dos alunos à figura do professor.
Ao todo, 26,9% dos docentes acreditam que sua sobrecarga de trabalho dificulta o planejamento das aulas e para 26,4%, os baixos salários geram insatisfação e desestímulo.
Para especialistas, essa percepção dos docentes ajuda a explicar a situação precária da educação no Brasil. "Com isso na cabeça, o professor já desiste do aluno de cara. Nem considera a hipótese de que o menino tem capacidade de aprender", diz a educadora Guiomar Namo de Mello, diretora de uma instituição dedicada a projetos de educação inicial e continuada de professores da educação básica.
"Essa visão simplista cai se olharmos estudos que mostram que alunos da mesma escola com professores diferentes têm rendimento mais díspares do que o registrado na mesma sala entre os que têm família engajada ou não", completa.
Para Maria de Lourdes Mello Martins, que trabalha na Comunidade Educativa Cedac, instituição que oferece programas de formação a professores da rede pública, falta capacitação. "Mal preparado, a primeira reação (do professor) é reclamar da família e se isentar da responsabilidade. É claro que uma família atenta, que arruma a mochila e aponta o lápis, é linda. Mas quando você coloca isso como condição, culpa a criança duas vezes: por ela ir mal e por não ter uma família exemplar. Daí é óbvio que os alunos terão baixa autoestima."
Docentes da rede pública de São Paulo confirmam os resultados do questionário. Para o professor de física Michael Robson Costa, da Escola Estadual Tarcísio Álvares Lobo, os educadores apenas cumprem as exigências da grade curricular. "O retorno tem que ser do aluno", diz ele, embora admita que o sistema não atraia os estudantes. "As avaliações, as normas, tudo é fora do que eles esperam."
A participação da família também é bastante citada. "Tem aluno que não tem pai nem mãe. E, quando tem, não se interessa", comenta a professora de matemática da Escola Estadual Capitão Pedro Monteiro do Amaral, Andrea Landi. Segundo a professora de inglês Melissa Campos, que dá aulas na mesma escola, a ausência da família desestimula não só a criança, mas os educadores. "Alguns largam mão, mas a maioria se interessa, porque você não pode deixar de lado os alunos que querem aprender."
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