28 de agosto de 2012

Assad mais perto do fim


Editorial, Folha de S.Paulo, 28/8/2012

Após denúncia de um massacre com 330 mortos em Daraya, subúrbio de Damasco, o presidente da França, François Hollande, exortou a oposição síria a formar um governo provisório, que teria imediato reconhecimento de seu país. Hollande também declarou que o eventual uso de armas químicas pelo ditador Bashar Assad justificaria intervenção militar externa.
A manifestação do presidente francês, a mais contundente de líderes ocidentais, é sintoma da irritação -e da impotência- diante do regime de Assad.
Apenas o cálculo pragmático e político tem contido, até aqui, o ímpeto intervencionista que se manifestou anteriormente na Líbia, onde uma coalizão internacional entrou em cena, em março de 2011, para derrubar o ditador Muammar Gaddafi. Como já argumentou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a Síria não é a Líbia. Trata-se de sociedade mais diversificada, com clivagens étnicas complexas e poderio militar superior.
Além disso, Assad beneficia-se do apoio de duas potências nucleares, Rússia e China, além das relações estreitas com o explosivo Irã.
O ditador sírio, entretanto, tenta culpar o Ocidente pelo conflito interno, mas perde terreno. A deserção do premiê Riyad Farid Hijab, no início de agosto, foi um sinal claro de sua fragilidade.
Observadores afirmam que dezenas de funcionários, entre os quais diplomatas e militares de alta patente, já deixaram o governo. Contam-se às centenas os soldados que abandonam os combates, e milhares de pessoas tentam cruzar as fronteiras em busca de refúgio.
Nada sugere que Assad possa estabilizar a Síria e manter-se no poder. As condições para sua queda revelam-se cada vez mais propícias. Russos e chineses podem continuar no papel de aliados intransigentes, mas o agravamento da guerra, a tragédia humanitária e a impaciência dos governos ocidentais pesarão mais na balança.
O endurecimento das declarações contra Assad vem num momento em que os rebeldes ganham capacidade militar, com o fornecimento de armas por parte de países vizinhos, como a Turquia. Por ora, contudo, as potências ocidentais parecem limitar-se a esperar que os combates se tornem mais desfavoráveis para Assad, o que poderia precipitar um desfecho sem intervenção militar externa.
Paralelamente, num esforço do qual a diplomacia brasileira precisa participar, redobram-se as pressões para que Rússia e China abandonem a blindagem ao ditador.

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