5 de noviembre. 2012 | |
A secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) é cética sobre criação de bibliotecas em escolas dentro de prazo previsto por lei.
A secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Elizabeth Serra, se diz cética em relação ao cumprimento da lei brasileira que obriga todas as escolas a ter bibliotecas até 2020. E afirma que só a medida não basta.
Quais projetos colombianos de incentivo à leitura podem servir de inspiração para o Brasil?
O Brasil ainda não tem um sistema nem de biblioteca pública nem de biblioteca escolar. Por isso é que veio a lei. Mas, sozinha, ela não vai fazer nada. Temos que nos mobilizar. As crianças têm que aprender a usar a biblioteca na escola. No Brasil, nós temos salas de leitura e raríssimas bibliotecas nas escolas.
Por que as escolas têm que ter bibliotecas em vez de salas de leitura?
A sala de leitura não cumpre o papel de biblioteca, pois às vezes tem um tratamento biblioteconômico e às vezes não. Se não houver um procedimento de catalogação dos livros e de adequação deles na estante, não é possível ter um acervo coletivo. Isso também é um processo educativo que tem que ocorrer na escola. A organização é fundamental. A biblioteca dá continuidade à escolaridade. Se os alunos não aprendem na escola que a biblioteca é o lugar onde poderão buscar livros e estudar, eles vão interromper o processo deles. A biblioteca é o coração da escola, é onde se pode buscar informação. Na Colômbia, os cidadãos têm uma compreensão de convivência e de cidadania e sabem que este espaço é um direito. Os colombianos conseguiram perceber que uma forma de romper com o tráfico de drogas é por meio de ações sociais e culturais, e escolheram a biblioteca como ponto de referência. Nisso é que a gente tem que se espelhar.
O número de escolas com bibliotecas cresceu pouco no Brasil desde que a lei entrou em vigor. Estamos caminhando muito devagar?
Sim. Um estudo diz que nós teríamos que construir 25 bibliotecas por dia para obedecermos a lei. Isso é difícil. O professor não está bem formado, e ele seria um grande defensor da biblioteca.
A média de livros lidos por ano na Colômbia é menor que no Brasil. Devemos nos inspirar na Colômbia mesmo assim?
Na organização de bibliotecas públicas, estamos atrás deles. Mas estamos fazendo melhor a formação de leitores. Os professores brasileiros cada vez mais estão entendendo que o trabalho de formação de leitores é com livro. Aqui, muitas vezes eles douram a pílula, e fazem atividades como teatrinhos para convidar o aluno a ler.
A Experiência colombiana - Um aluno entra na sala do diretor da escola Benjamín Herrera sendo puxado pela camisa por sua professora, que pede a expulsão do rapaz, pois ele se recusou a ler livros "chatos". O diretor deu a ele uma tarefa: fazer uma pesquisa de campo para saber por que os jovens não queriam ler. O trabalho causou uma revolução na escola. O interesse pela leitura cresceu tanto que foi preciso construir um prédio para abrigar outra biblioteca.
O episódio aconteceu na cidade de Medellín, na Colômbia, há 20 anos, mas até hoje serve para exemplificar as dificuldades dos professores para estimular a leitura e como elas podem ser superadas.
A capital colombiana também tem práticas de estímulo à leitura e uma rede de bibliotecas públicas que podem inspirar o Brasil. Bogotá foi a primeira cidade da América Latina a ser considerada Capital Mundial do Livro, título dado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e pela indústria editorial mundial em 2007, devido a projetos de estímulo à leitura. Além dela, apenas Buenos Aires, na Argentina, detém o título no continente.
Assim como o Brasil, a Colômbia não tem bibliotecas escolares perfeitas e em número ideal, mas projetos desenvolvidos por colombianos já inspiram professores brasileiros.
O diretor da escola Benjamín Herrera, em Medellín, Oscar Mejía Henao, já esteve três vezes no Brasil para falar da pesquisa sobre por que os alunos não gostavam de ler. Descobriu que eles queriam ter mais liberdade de escolha. "Com a investigação, os jovens derreteram, lentamente, o autoritarismo no colégio. Os professores ficaram mais sensíveis. Quando diminuíram a pressão sobre a obrigação de ler livros clássicos e escrever relatórios sobre eles, os alunos passaram a ler muito mais", disse Henao.
Outra escola pública de Medellín, o Centro Formativo de Antioquia (Cefa), só para garotas, também conseguiu bons resultados. As alunas que mais pegam livros na biblioteca, que tem 12.053 volumes, são premiadas. Os professores ajudam as estudantes a descobrir de qual estilo literário gostam e estimulam uma espécie de "rodízio literário", em que uma aluna lê o livro preferido da outra.
A estudante Leslye Cuervo, de 16 anos, costumava ler apenas o que era necessário para as provas. Mas de 2011 para 2012 leu 26 obras. "Se eu lia um romance e não gostava, a professora perguntava por que eu não tinha gostado e me ajudava a descobrir outro. Isso me ajudou a escolher melhor", diz Leslye.
Em Bogotá, bibliotecas de escolas públicas têm estimulado a leitura não apenas entre os alunos, mas também entre pais de estudantes e professores. No colégio Alfonso Lópes Michelsen, na capital colombiana, profissionais que trabalham na biblioteca reúnem pais de alunos para ler textos. "A ideia é que os pais tenham ferramentas para estimular as crianças a ler. Os pais se aproximam mais dos filhos e replicam, em casa, com a família, tudo aquilo que aprenderam durante o projeto", explica o professor-bibliotecário da escola, José Diaz.
O colégio público Los Alpes, em Bogotá, promove rodas de leitura entre os professores, pois acredita que eles têm que ser leitores. A orientadora de sala de leitura da Escola Municipal Dilermando Dias dos Santos, em São Paulo, Paula de Souza e Castro, conheceu o projeto em visita à Colômbia e quer usá-lo como inspiração. "Eu quero trabalhar com a família dos alunos e com professores que não atuam diretamente com a área da Língua Portuguesa e da Literatura", afirma Paula.
A vice-diretora da Escola Municipal Valneri Antunes, em Porto Alegre (RS), Nara Freitas, quer instalar um espaço especial de leitura para mães e bebês na sua escola, conhecido na Colômbia como "bebeteca". "Eu gostei da ideia de estimular os pais a contar histórias para os seus filhos. Já estou até pensando em um lugar para instalar uma "bebeteca" na minha escola", conta Nara.
Assim como no Brasil, nem todas as escolas da Colômbia possuem bibliotecas. No Brasil, uma lei federal de 2010 estabeleceu que até 2020 todos os colégios, públicos e particulares, devem ter bibliotecas com acervo de, no mínimo, um livro por aluno.
No entanto, segundo o Censo Escolar 2010 do Ministério da Educação, menos da metade (40,8%) das escolas públicas e privadas de ensinos fundamental e médio do país possuía bibliotecas. Em 2011, esse percentual era de 41,5%. O Ministério da Educação da Colômbia não informou quantas escolas do país têm bibliotecas.
Em Bogotá, segundo a prefeitura, todas as escolas têm bibliotecas, mas em apenas 90 das 360 o acesso aos livros é fácil e há instalações adequadas. Além disso, as bibliotecas escolares recebem livros da rede municipal, e há eventos de promoção de leitura em conjunto. A meta é melhorar 91 bibliotecas escolares até 2014.
Segundo a Unesco, a média de livros lidos por ano no Brasil é de quatro por habitante, enquanto na Colômbia o índice é de 2,2. "Uma biblioteca escolar ideal é a que trabalha em conjunto com a aula e o professor, com projetos que permitam que as crianças leiam mais profundamente certas obras", diz a presidente da Associação Colombiana de Leitura e Escrita, Silvia Castrillón.
Em intercâmbio promovido pelo Instituto C&A, professores de 24 escolas públicas brasileiras foram à Colômbia conhecer bibliotecas e políticas de incentivo à leitura. Os colégios receberam R$ 12 mil cada para promover a leitura e construir bibliotecas.
(O Globo)
|
6 de novembro de 2012
O Brasil não tem um sistema de bibliotecas
Postado por
jorge werthein
às
07:50
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário