Uma das grandes complexidades na comparação entre escolas ou países é que os resultados de alunos medidos em testes de aprendizagem refletem muito mais o nível socioeconômico das famílias do que a qualidade do sistema educacional. Num momento em que lamentamos os resultados frustrantes do Brasil no Pisa, a afirmação pode até soar como desculpa para maus resultados. Mas trata-se de uma evidência sólida do campo da avaliação educacional, conhecida desde que o sociólogo americano James Coleman publicou seu famoso relatório sobre as causas da desigualdade no aprendizado de alunos nos Estados Unidos, há exatos 50 anos.
Nenhuma avaliação de larga escala é perfeita, ainda mais quando envolve países em contextos econômicos e culturais tão distintos, mas chegamos mais próximo de um diagnóstico menos impreciso sobre a qualidade dos sistemas educacionais quando comparamos apenas o desempenho de jovens de famílias com características semelhantes.
Essa comparação de algo mais próximo de laranjas com laranjas pode ser feita no Pisa quando analisamos apenas o desempenho dos jovens de famílias de alto nível socioeconômico em cada nação. São alunos cujos pais têm nível superior e ocupações de maior renda. No caso desse grupo específico, não é o dinheiro gasto no ensino que explica os resultados, pois são famílias com muito mais condições de investir seus recursos em educação. No Brasil, este é um grupo cujos filhos tendem a estudar em colégios privados ou nas melhores escolas da rede federal, que atendem também a uma minoria de estudantes de maior nível socioeconômico em comparação com as escolas estaduais ou municipais, como demonstram as estatísticas do Inep.
Esses alunos mais privilegiados representam 14% do total dos avaliados no Pisa no Brasil. Em nações mais ricas esta proporção é maior, já que há mais famílias de maior renda e escolaridade. A média da OCDE (entidade que organiza o Pisa e que congrega nações mais desenvolvidas), por exemplo, é de 27%. No Canadá, chega a 48%.
De um conjunto de 68 nações e territórios para os quais é possível fazer essa comparação, o Brasil fica na 61a posição em ciências quando se consideram todos os alunos. Quando a comparação é feita apenas entre as elites de cada nação, o desempenho do Brasil melhora, mas não muito: ficamos na 53a posição. A distância da elite brasileira para a média da OCDE é de 55 pontos, o que equivale dizer que os jovens mais ricos brasileiros teriam que estudar mais dois anos letivos para alcançar o nível de seus pares em nações desenvolvidas. Se pegarmos Singapura, nação no topo do ranking, a distância entre elites chega a 123 pontos, algo como cinco anos letivos na escala do Pisa.
Desde a primeira edição do Pisa, em 2000, estudos têm demonstrado que os jovens mais ricos brasileiros também vão mal quando comparados com os de outras nações no mundo. É por isso que, por aqui, apenas 0,7% dos estudantes avaliados estão nos dois níveis mais altos da escala de aprendizado em Ciências. Não é fácil estar nesse patamar de excelência, mas, na média da OCDE, o percentual chega a 8% do que poderíamos chamar de uma elite global de jovens com alto desempenho acadêmico.
Não há bolha que proteja nossos jovens, mesmo os mais ricos, enquanto não enfrentarmos os problemas estruturais da educação brasileira.
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