RIO- Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) 2015, divulgados ontem pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), trouxeram más notícias para o Rio de Janeiro. O estado teve as piores notas da região Sudeste e ficou abaixo da média nacional em ciências, leitura e matemática. No ranking das unidades da federação, o Rio aparece em 15º nas três áreas. Educadores ressaltam ainda o abismo entre os estados do país: em alguns casos, a diferença de desempenho entre o melhor e o pior colocado representa dois anos e meio de atraso nos estudos. LINKS PISA
Nesta edição, o Pisa analisou o desempenho de alunos de 70 países e economias. No Rio, 758 estudantes participaram da avaliação, que é realizada a cada três anos. O pior desempenho do Rio foi em matemática, com média 366, abaixo dos já poucos 377 pontos do Brasil. Quando comparado à média dos países da OCDE, a diferença é ainda maior, já que essas nações alcançaram média 490. Para agravar o quadro, o índice fluminense caiu 23 pontos em relação ao Pisa de 2012, quando o Rio alcançou média de 389 em matemática.
Em 2015, o estudo da OCDE teve ênfase em ciências — e também nessa área o resultado não foi animador para o Rio. Os estudantes registraram 392 pontos, enquanto a nota brasileira foi 401. Já a média da OCDE ficou em 493 pontos. Em relação à pesquisa de 2012, a queda da nota fluminense foi de nove pontos. O melhor desempenho do Rio na avaliação ficou por conta da prova de leitura, com 400 pontos, enquanto a nacional foi 407 e a média da OCDE 493. Ainda assim, o índice obtido foi oito pontos menor que o da edição de 2012 do Pisa.
DESCONTINUIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Chama atenção o fato de o Rio estar distante dos outros estados do Sudeste que, no caso de matemática, ficaram entre os dez primeiros do ranking, com Espírito Santo em segundo (atrás apenas do Paraná), Minas Gerais em terceiro e São Paulo em sexto. Para Ruben Klein, membro da Academia Brasileira de Educação, não é surpresa que o estado apresente essas notas.
— Quando olhamos os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) vemos algo parecido. O Rio está com problemas há muito tempo. Temos um histórico de muitas greves, além disso as más condições de formação de professores, a pobreza e a violência fazem com que a qualidade da educação caia— analisa.
A explicação para o desempenho aquém do esperado, segundo Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação, está tanto no ponto de partida, quanto na interrupção de políticas públicas do estado.
— A educação do Rio melhorou nos últimos cinco anos, mas vinha de um patamar muito baixo, então a caminhada é muito longa— afirma Priscila. — É um estado que está entre os maiores do Brasil, então poderíamos esperar resultados maiores e sustentáveis, mas o Rio tem tido muita descontinuidade de políticas.
A falta de diretrizes firmes, sobretudo na área de formação de professores, segundo os educadores, também explica o desempenho de estados ricos como São Paulo, que acabou não figurando nas três primeiras posições de nenhuma das áreas. Isso explicaria porque um estado como Espírito Santo, que teve melhor média de ciências (435) e leitura (441), e segunda melhor em matemática (405), está à frente de unidades da federação maiores.
O pior desempenho do país foi em Alagoas, onde os estudantes ficaram na lanterna nas três áreas analisadas. Em matemática a pontuação alcançada foi 339, em ciências foram 360 pontos, e em leitura, a média foi de 362 pontos.
— O nível socioeconômico desses estados que ficaram nas últimas posições é mais baixo e isso acaba afetando seu desempenho. Quanto maior o repertório de um aluno, mais ele aprende. Quanto maior o acesso a teatro, cinema e esporte, além de estímulos da família, mais a criança aprende. A pobreza infelizmente tem efeito contrário. Uma escola boa compensa esse fator, mas no Brasil, em geral, a escola acrescenta pouco — explica Priscila Cruz, acrescentando que isso pode ser minimizado:
— O Ceará tem o nível de pobreza parecido ao desses estados e tem conseguido, através da politica pública, melhorar a o serviço educacional.
O Ceará foi o 8º melhor estado do país em matemática com 382 pontos, o 10º em ciências, atingindo média 401; e, em leitura, também ocupou o 10º lugar no ranking do país, com 409 pontos. Com esses resultados, ficou acima da média nacional em matemática e leitura, e empatou com a nota do Brasil em ciências.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro afirmou que “tem investido em ações para melhorar a qualidade do ensino em suas unidades, especialmente nas áreas de conhecimento avaliadas pelo Pisa”. O órgão diz ainda que pretende reforçar o ensino dessas disciplinas em 700 escolas que participarão de dois programas do Ministério da Educação para impulsionar aprendizagem. O governo do estado informou ainda que o Rio ficou entre as quatro melhores notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no Brasil.
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