26/12/2016 Folha de S.Paulo
Não há brasileiro que não sinta justificada indignação diante dos escândalos que envolvem políticos, empresários e verbas públicas.
Ainda que em alguns casos seja indisfarçável uma vocação decidida para a malfeitoria, surgem com frequência exemplos de condutas deploráveis praticadas por homens públicos e privados que sempre foram considerados "normais".
Obviamente cônscios de terem agido ao arrepio da lei, parecem ao mesmo tempo espantar-se com as ações judiciais de que são objeto.
Imaginam-se as perguntas que vêm às suas mentes. Não seguiam as regras do jogo? Não são sempre assim as concorrências no Brasil? Não é com dinheiro de propina que todos financiam suas campanhas? O que querem os juízes e promotores? Que o país deixe de funcionar?
Essa sensação de "normalidade" –dentro da qual não se enquadram os casos mais flagrantes de esbórnia com dinheiro público– sem dúvida impregnou e impregna largas fatias do estamento político e empresarial.
Se de certo ponto de vista o sistema em vigor no país torna corriqueiro o crime, usual a propina e protocolar o caixa dois, como lidar com a responsabilidade ética de cada indivíduo nessa interpretação?
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, colunista desta Folha, escreveu na última terça-feira (17) sobre os mecanismos íntimos, azeitados pelo hábito e pelo autoengano, que contribuem para o surgimento dos grandes corruptos.
Ao que indicam recentes pesquisas científicas, não apenas a impunidade os estimula. O próprio cérebro tende a diminuir, com o tempo, as tensões e reproches que o desvio ético normalmente suscita.
O centro responsável pelas emoções da angústia e do medo parece habituar-se a cada passo dado, sem punição, no caminho da delinquência. O indivíduo repete o comportamento e até se arrisca mais.
Para quem possui padrões razoáveis de decência, soa incrível a naturalidade com que somas astronômicas têm sido embolsadas no escândalo da Petrobras.
Ao lado de políticos ativamente envolvidos nas maquinações, não é impossível que se encontrem aqueles que simplesmente se deixaram persuadir pelos profissionais desse ramo.
Não se trata de desculpar tais comportamentos, bem entendido. Ao contrário, sua compreensão é razão ainda maior para combater a impunidade –não por moralismo, mas em favor do bem comum.
Ainda que em alguns casos seja indisfarçável uma vocação decidida para a malfeitoria, surgem com frequência exemplos de condutas deploráveis praticadas por homens públicos e privados que sempre foram considerados "normais".
Obviamente cônscios de terem agido ao arrepio da lei, parecem ao mesmo tempo espantar-se com as ações judiciais de que são objeto.
Imaginam-se as perguntas que vêm às suas mentes. Não seguiam as regras do jogo? Não são sempre assim as concorrências no Brasil? Não é com dinheiro de propina que todos financiam suas campanhas? O que querem os juízes e promotores? Que o país deixe de funcionar?
Essa sensação de "normalidade" –dentro da qual não se enquadram os casos mais flagrantes de esbórnia com dinheiro público– sem dúvida impregnou e impregna largas fatias do estamento político e empresarial.
Se de certo ponto de vista o sistema em vigor no país torna corriqueiro o crime, usual a propina e protocolar o caixa dois, como lidar com a responsabilidade ética de cada indivíduo nessa interpretação?
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, colunista desta Folha, escreveu na última terça-feira (17) sobre os mecanismos íntimos, azeitados pelo hábito e pelo autoengano, que contribuem para o surgimento dos grandes corruptos.
Ao que indicam recentes pesquisas científicas, não apenas a impunidade os estimula. O próprio cérebro tende a diminuir, com o tempo, as tensões e reproches que o desvio ético normalmente suscita.
O centro responsável pelas emoções da angústia e do medo parece habituar-se a cada passo dado, sem punição, no caminho da delinquência. O indivíduo repete o comportamento e até se arrisca mais.
Para quem possui padrões razoáveis de decência, soa incrível a naturalidade com que somas astronômicas têm sido embolsadas no escândalo da Petrobras.
Ao lado de políticos ativamente envolvidos nas maquinações, não é impossível que se encontrem aqueles que simplesmente se deixaram persuadir pelos profissionais desse ramo.
Não se trata de desculpar tais comportamentos, bem entendido. Ao contrário, sua compreensão é razão ainda maior para combater a impunidade –não por moralismo, mas em favor do bem comum.
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