25 de dezembro de 2016

Retrospectiva 2016: O ano em que alunos tomaram as escolas


“Em uma semana de ocupação, aprendemos mais sobre política e cidadania do que em muitos anos dentro de sala de aula. Somos um movimento apartidário dos estudantes pela educação”, disse Ana Julia Ribeiro, estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães, o Cesmag, de Curitiba, no Paraná. A fala fez parte do discurso de dez minutos proferido pela estudante na Assembleia Legislativa do Paraná, no dia 26 de outubro. Os deputados quiseram ouvir as reivindicações dos estudantes que, naquele estado, chegaram a ocupar 800 escolas. Em nenhum outro a mobilização foi tão intensa. A estimativa dos movimentos estudantis é de 1.100 escolas ocupadas em todo o Brasil no ápice da mobilização, em outubro. Como bem explicou Ana Julia, na fala que viralizou pelas redes sociais, os alunos decidiram ocupar as escolas porque são contra a Medida Provisória 746, que prevê mudanças no ensino médio, e contra o Projeto de Emenda Constitucional que estabelece um teto para os gastos públicos, a PEC 241. Em ambos os casos, os estudantes têm receio de que a qualidade da Educação seja (ainda mais) penalizada.
O que isso significa
A ocupação de escolas é a herança do bem-sucedido protesto dos estudantes paulistas contra a reorganização das escolas do estado em 2015. Há exatamente um ano, as ocupações das escolas paulistas fizeram o governador Geraldo Alckmin desistir da reorganização. O efeito das ocupações estudantis foi, porém, muito mais amplo do que fazer o governo recuar. A proliferação de ocupações de escolas por todo o país, ao longo deste ano, comprova isso. “Sentimos que a escola nos pertence. Somos responsáveis por ela e pela educação que queremos ter”, disse Ana Julia a ÉPOCA. Levar adolescentes a sentirem-se responsáveis pela educação que recebem – ou que deixam de receber – não é pouca coisa. Os estudantes querem participar das decisões que afetem suas vidas. O que ocorreu com São Paulo em 2015 e em todo o país neste ano mostra que decisões unilaterais serão cada vez menos aceitas. “Você mexe com a minha escola e eu tiro a sua paz”, diziam os alunos em uníssono numa escola.
Esses jovens começam a ganhar experiência na ação política das ruas. Nunca é demais lembrar que políticos importantes, como o ministro José Serra e o vereador paulistano Eduardo Suplicy, começaram no movimento estudantil. O tom dos estudantes, no entanto, é muitas vezes exaltado. A tolerância ao questionamento sobre o que consideram verdades absolutas é baixa. Em meio a jovens bem-intencionados, não faltam caronas equivocadas que não têm ideia do que reclamam. Falta, sobretudo, maturidade para ouvir e refletir sobre opiniões plurais e, a partir delas, ser capaz de um diálogo saudável com quem pensa diferente. Nada disso, é claro, tira o mérito e a legitimidade da primavera secundarista. Os cidadãos jovens enriquecem o país quando vêm opinar, escutar e debater sobre a escola que, afinal, sempre foi deles.

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