6 de dezembro de 2016

Rosely Sayão, É pequeno o número de pais e escolas que refletem sobre boatos na internet

rosely sayão
Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação. Escreve às terças-feiras.


Eduardo Knapp - 7.abr.2010/Folhapress
SAO PAULO,SP. BRASIL. 07.04.2010. SAUDE. Garoto joga no computador em Lan House no centro de Sao Paulo. Foto para ilustrar materia que aborda que os novos jogos virtuais podem gerar dependencia da mesma forma que outros jogos tradicionais (foto Eduardo Knapp/FOLHA IMAGEM. COTIDIANO)Eduardo Knapp - 7.abr.2010
Em frente ao computador, garoto acessa à internet
O uso exagerado dos aparelhos tecnológicos e o tempo que crianças e jovens gastam na internet são questões que preocupam os pais. Eles querem saber se devem bisbilhotar os aparelhos para saber o que e com quem os filhos falam, se devem colocar filtros que restringem determinados conteúdos etc.
É pequeno o número de pais que reflete a respeito da quantidade de informações incorretas e/ou falsas com as quais os filhos têm contato na rede, e que dialoga com eles sobre esses assuntos. Precisamos pensar a esse respeito, porque os mais novos ainda não têm formação crítica para diferenciar conteúdos que têm relação com a realidade daqueles que são inventados, por exemplo.
Um estudo da Universidade Stanford, com quase 8.000 estudantes que frequentam do ensino fundamental 2 à faculdade, apontou que cerca de 82% deles não conseguiram distinguir uma notícia real de conteúdos patrocinados em um site.
Não é surpreendente? Surpreendente e perigoso, porque os mais novos consomem esses conteúdos e os incorporam como se fossem saberes! Por isso, é preciso dialogar com os filhos sobre o que eles leem e veem nas redes que frequentam, além de tutelar o seu uso.
Aliás, inúmeros adultos também caem nessas armadilhas nas redes. Não é à toa que pelo menos dois sites bem conhecidos -o boatos.org e o e-farsas.com-, dedicam-se exclusivamente a desmentir notícias compartilhadas milhares de vezes e que não têm relação com a realidade.
Muitos trabalhos escolares que os alunos fazem consultando a internet apresentam incorreções históricas gritantes que eles não identificam. Por isso, a escola também tem grande responsabilidade nessa história. Em vez de apenas pedir aos alunos trabalhos de busca na internet, precisam avaliar com eles o que e onde eles encontraram tal conteúdo e analisar o que trouxeram, para que aprendam conteúdos corretos e o bom uso que é possível fazer da rede nas questões escolares.
Muitas crianças e adolescentes idolatram alguns de seus pares que têm canais no YouTube com milhares de seguidores. Muitos desses canais apresentam, porém, discursos vazios e que exaltam as qualidades disto ou daquilo, o que é patrocinado, mas não esclarecem isso aos seus ingênuos espectadores.
Sobre isso, conversei recentemente com a mãe de duas meninas que estão prestes a entrar na adolescência. Elas queriam ir a um lugar para ver -apenas ver- uma jovem youtuber que elas veneram e a mãe nem sabia. Precavida, ela pediu para assistir com as filhas a alguns vídeos dos quais elas gostavam e logo percebeu que a youtuber não falava nada, mas usava muitas palavras. Você sabia que alguns desses youtubers e blogueiros têm livros publicados que são sucessos editoriais entre adolescentes e crianças?
Essa mãe explicou às filhas a inutilidade do que elas viam e ouviam e trocou o passeio por um espetáculo teatral, que as filhas curtiram muito, por sinal, e vai dedicar-se a procurar na internet canais que acrescentem algo na formação das filhas.
Oferecer o uso da internet a crianças pequenas é bobagem: elas têm muito o que aprender no mundo real, na natureza, no contexto em que vivem. Os maiores podem, além do entretenimento, usar muito bem a rede, desde que tenham boa companhia para comentar o que absorvem dela. Pais e escola devem ser essas boas companhias. 

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