SÃO PAULO - As meninas brasileiras tiveram um desempenho menor do que o dos meninos em Ciências e Matemática no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), em 2015. Em leitura, elas tiveram um desempenho superior. De acordo com o relatório do programa e especialistas em educação, a diferença se deve ao comportamento e estereótipos de gênero que são reproduzidos desde o começo da infância.
A disparidade nessas áreas não é exclusividade do Brasil e acontece também em outros países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No Brasil, cerca de 1% dos meninos alcançou nível de proficiência em Ciências de nível 5 e 6 - o porcentual de meninas que atingiu esses níveis é de apenas 0,5%.
Em Matemática, o Brasil está entre os 28 países em que o desempenho dos meninos superou o das meninas em mais de 15 pontos. Já em leitura, as estudantes brasileiras tiveram desempenho superior aos dos meninos em todos os Estados - na Bahia, a média delas foi 34 pontos a mais do que a deles.
"Infelizmente, esse dado é recorrente e já apareceu em avaliações nacionais. As meninas têm um desempenho um pouco mais baixo em Matemática e melhor em Português. Obviamente, essa diferença não é consequência de fatores biológicos, mas culturais", disse Sandra Unbehaum, coordenadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.
Para Sandra, a educação e os incentivos que as crianças recebem desde a primeira infância são, em geral, diferentes para meninos e meninas. "Pode parecer banal, mas essas influências são muito importantes. As brincadeiras e brinquedos para elas são mais voltados para o cuidado, o afeto. Já para os meninos, é mais comum o estímulo para o cálculo, experiências laboratoriais."
De acordo com o relatório, as diferenças de desempenho em Ciências e as expectativas para a carreira profissional estão mais relacionadas à área que meninos e meninas acham que são bons do que para o que realmente querem seguir. "Pais e professores podem desafiar os estereótipos de gênero sobre as atividades relacionadas à ciência para permitir a meninas e meninos atingirem seu verdadeiro potencial", diz o documento.
Outros países. Em geral, nos países da OCDE, os meninos tiveram em Ciências uma média de 4 pontos a mais do que as meninas. De acordo com o relatório, esse resultado é "estatisticamente significativo, mas representa uma diferença numérica pequena". Os meninos tiveram notas maiores significativamente maiores (mais de 15 pontos) em 24 países e elas, em 22.
Em geral, os meninos também tendem a ter pontuação melhor em Matemática, mas em nove países - incluindo os que estão no topo de desenvolvimento mundial, como a Finlândia - elas tiveram melhor desempenho.
Profissão. O estudo também analisou os interesses dos estudantes sobre a carreira profissional que pretendem seguir e encontrou diferenças significativas de interesse entre os gêneros. Entre os jovens que demonstraram interesse em carreiras ligadas às ciências e tecnologia, os meninos relataram maior interesse para Física e Química. Já as meninas, maior interesse para tópicos relacionados à saúde.
"Em geral entre os países da OCDE, a probabilidade dos meninos quererem trabalham como engenheiros, cientistas e arquitetos é mais de duas vezes maior do que as meninas. Mas, as meninas tendem quase três vezes mais que eles a querer trabalhar como médicas, veterinárias ou profissionais de saúde".
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