12 de dezembro de 2010

PISA 2009 e o Brasil e a leitura

Educação é resultado de esforço conjunto


Agência Estado SÃO PAULO Ainda que o Brasil tenha ficado na 53ª colocação em uma relação de 65 países na tabela geral do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), divulgada na última terça-feira (7), o resultado é de se comemorar na avaliação de Jorge Werthein, doutor em Educação pela Universidade de Stanford, que foi representante da Unesco no Brasil e atualmente é vice-presidente da Sangari no Brasil, empresa que cria, desenvolve, produz e implementa metodologias e materiais educacionais para o aprendizado de ciências no Ensino Fundamental. Não só porque tivemos a terceira maior evolução na performance entre 2000 e 2009, mas principalmente porque isso é fruto de um grande esforço conjunto, que precisa ser reconhecido e estimulado , diz. O Pisa é realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em países membros e não-membros, como é o caso do Brasil. O resultado divulgado semana passada refere-se aos dados coletados em 2009 em 65 países. Foram entrevistados 470 mil alunos na faixa dos 15 anos de idade, sendo 20 mil brasileiros. O Pisa avalia as habilidades em matemática, leitura e ciências. AGÊNCIA ESTADO O desempenho de estudantes brasileiros no exame internacional melhorou, mas ainda estamos em 53º Lugar entre 65 países analisados. Há realmente algo a comemorar? JORGE WERTHEIN O avanço acentuado do Brasil, revelado no relatório Pisa 2009, é sem dúvida uma boa notícia e merece comemoração. Não só porque tivemos a terceira maior evolução na performance entre 2000 e 2009, mas principalmente porque isso é fruto de um grande esforço conjunto, que precisa ser reconhecido e estimulado. Sabemos o quanto é difícil avançar num país com as dimensões do Brasil, com políticas descentralizadas. E o documento da OCDE mostra exatamente a necessidade de um conjunto coerente de políticas e medidas em diversos níveis. Educação é responsabilidade compartilhada, não depende apenas do presidente da República e do ministro da Educação dizerem que ela é prioritária. Isso deve ser dito e assumido por todos os responsáveis pela implementação das políticas educacionais nos Estados e municípios.
AE É um esforço que outros países já fizeram e continuam fazendo.
WERTHEIN Sim, daí a importância de andarmos muito mais rápido, para recuperar o atraso. O Pisa 2009 mostra com clareza que a melhoria da qualidade da educação é um desafio mundial. Podemos, portanto, nos sentir bem acompanhados e felizes pelo fato de estarmos no caminho certo, mas temos de reconhecer que, nesta corrida global, os outros países também estão lutando para avançar rapidamente. Os resultados desta avaliação de 2009 devem servir-nos de motivação, por um lado, e de lembrança quanto ao que temos de enfrentar adiante.
AE O que este relatório revela sobre os desafios brasileiros?
WERTHEIN Destaco entre os principais dados o fato de termos a imensa maioria dos estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos de idade com um grau mínimo, insuficiente, de conhecimentos e capacidades para a vida moderna. Para serem cidadãos participantes da democracia e profissionais na economia do século 21, terão de se esforçar muito. Quando vemos que mais de 50% dos nossos estudantes não passam do nível 1 de proficiência em leitura, de uma escala com seis níveis, temos de ficar muito preocupados. A situação é pior na área de matemática: apesar da redução de 6 pontos no número de estudantes com baixa performance, ainda estamos com 69% deles no nível mínimo. Em ciências, uma das áreas que qualificam as crianças e jovens para a produção futura do conhecimento científico e tecnológico, o avanço foi semelhante ao do desempenho em matemática, mas 54% dos estudantes ainda estão no nível 1 e abaixo dele , incapazes de identificar um tema científico dentre diversos outros, ou de tomar decisões baseadas em conhecimentos científicos. Temos de acordar para esse problema de importância estratégica, e reforçar o currículo de ciências em nossas escolas. O relatório de 2009 alerta para essa necessidade ao reafirmar o papel da educação no desenvolvimento sustentável das nações.
AE Podemos identificar as principais causas desse desempenho tão ruim?
WERTHEIN São muitos fatores, que se somam há muito tempo, e só recentemente começamos a lidar seriamente com eles. Além disso, há novos desafios que as escolas do mundo inteiro estão tendo de enfrentar. A baixa proficiência em leitura é um exemplo. Mesmo os países tradicionalmente leitores apresentam pouca ou nenhuma melhora. Para a escola e para os pais, é difícil competir com as três principais fontes de leitura mencionadas pelos jovens entrevistados: a mensagem de texto, o e-mail e os websites. Teremos de ser criativos para atrair os jovens para o prazer da leitura. De forma geral, a escola precisa reconquistar os estudantes com uma dinâmica mais viva e criativa, menos baseada naquela relação tradicional do professor-que-ensina versus aluno-que-memoriza. Pode-se superar esse padrão com atividades investigativas, por exemplo, aproveitando-se a curiosidade das crianças e jovens, dirigindo suas iniciativas para o amadurecimento natural dos conceitos fundamentais que tentamos, sem sucesso, introduzir na sua memória deles.
AE Isso mostra que o professor precisa adotar novas práticas...
WERTHEIN Sim, sem dúvida. O professor precisa ter uma nova formação, sólida e compatível com o aluno de hoje, precisa ter suporte para suas atividades, precisa ter suas dúvidas e propostas acolhidas. O Pisa 2009 chama atenção para o papel fundamental do professor como principal agente nesse esforço por maior qualidade e equidade na educação. O relatório insiste na necessidade da excelência em sua formação, no reconhecimento social de sua tarefa, da importância da sua carreira profissional e da retribuição aos seus esforços. E aponta a importância de levar os melhores professores às escolas e aos alunos com maiores dificuldades. Esta seria uma das maneiras mais rápidas e eficientes de romper o círculo vicioso da reprodução das desigualdades no sistema educacional.
AE Existe maneira rápida de melhorar a educação de um país?
WERTHEIN Soluções amplas para a educação são difíceis e demoradas, mas há exceções importantes. E esta é outra revelação que o Pisa 2009 faz: há exemplos de países e localidades que cresceram espetacularmente na avaliação em prazos menores, em seis ou nove anos, como Xangai (China), Polônia e Catar, entre outros.

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