Na turma dos piores
Obstáculo á Inovação Aula no ensino médio mau resultado em ciências orna o Brasil menos competitivo
Avaliação da OCDE ressalta que o ensino no Brasil avançou na última década - mas não o suficiente para aproximar o país dos melhores na sala de aula
Malu Gaspar
É consenso que o Brasil tem muito que avançar na sala de aula para ombrear com os melhores países do mundo em educação. Três novos rankings divulgados na semana passada, resultado do mais abrangente levantamento internacional existente sobre a qualidade do ensino. ajudam a mensurar quanto exatamente o país precisa caminhar. Não é pouco. Na prova aplicada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que mediu o conhecimento dos estudantes de 65 países, os brasileiros figuram nas piores colocações tanto em ciências e leitura (53) como em matemática (57). Os jovens submetidos ao exame. todos na faixa dos 15 anos, foram sorteados em escolas públicas e particulares. E verdade que as médias do Brasil melhoraram como as de poucos países na última década - um fato a comemorar. fazendo-se as necessárias ressalvas diante da espantosa situação trazida à luz pelo relatório da OCDE. Ele mostra que uma parte dos brasileiros está chegando ao fim do ensino fundamental com lacunas tão graves quanto não conseguir interpretar textos indicados para os primeiros anos escolares, ter dificuldade em discernir órgãos do corpo humano e tropeçar em operações de soma e subtração.
Diante disso, olhar para os países que encabeçam a lista é lição de casa mais do que obrigatória para o Brasil. Pela primeira vez presente na avaliação da OCDE. a China está no topo dos três rankings (veja o quadro ao lado). Ponderado o fato de que a prova foi aplicada apenas na cidade de Xangai (a mais rica do país). o feito é ainda assim notável. Reflete o pragmático esforço que os chineses vêm fazendo nas últimas três décadas para proporcionar bom ensino a milhões de estudantes. Um ponto central para o salto chinês foi canalizar esforços para o aprimoramento dos professores, que receberam treinamento maciço, assim como salários mais atrativos - a ponto de hoje essa carreira figurar entre as mais cobiçadas pelos estudantes de Xangai. Em contraste, no Brasil o ofício é tão desprestigiado que apenas 2% dos alunos de ensino médio manifestam algum interesse em segui10. Atenta a especialista Maria Helena Guimarães: "A experiência internacional mostra que conseguir atrair os melhores cérebros para a docência é o único caminho realmente eficaz rumo à excelência académica".
Sem exceção. todos os países que habitam o topo da pirâmide do ensino se beneficiam de uma situação da qual o Brasil está ainda muito longe: nesses lugares. a qualidade não se restringe a um reduzido grupo de escolas particulares. mas se irradia por todo o sistema educacional. O caso brasileiro é justamente emblemático do contrário - aqui saltam aos olhos as enormes discrepâncias de nível entre os colégios particulares e os da rede pública. De acordo com o estudo da OCDE. elas só se agravam. Eis o dado: enquanto os alunos de escolas privadas brasileiras alcançam notas semelhantes as de países como Estados tinidos e Inglaterra tem posição mediana no rankinet os de colégios públicos estão mais próximos do Cazaquistão e da Albânia, na rabeira do ranking. E preocupa me. segundo alena Cláudio de Moura Castro, especialista em educação e colunista de VEJA: "Massificar o bom ensino é condição básica para qualquer país ascender economicamente".
Os reflexos do ainda sofrível ensino básico brasileiro se fazem sentir em outros indicadores ruins. Para se ter uma ideia, o Brasil responde por 2.69% dos artigos publicados em periódicos científicos de relevo internacional (um quarto da participação da China) e por não mais que 0.N dos pedidos internacionais de palenes. O país deveria mirar-se aí no exemplo das nações asiáticas em destaque nos rankings da OCDE. como japão e Coreia do Sul, onde. desde muito cedo. os estudantes são apresentados a tais disciplinas de maneira disciplinada - e atraente. Resume o matemático Jacob Pális. presidente da Academia Brasileira de Ciências: "Não dá para almejar avanço tecnológico e inovação sem uma boa aula de ciências no ensino fundamental".
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