10 de dezembro de 2010

PISA 2009 e o Brasil

Educação e Ciências | O Estado de S. Paulo |
País tem 38% dos alunos abaixo do nível 1 do Pisa

Resultado, da prova de matemática, revela que estudantes de 15 anos não conseguem fazer conta de multiplicação, ensinada até a 4ª série
Lisandra Paraguassú - O Estado de S.Paulo

As dificuldades da educação brasileira em todas as áreas ficaram explícitas nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), divulgados esta semana. Mas foi em matemática que a dimensão do problema apareceu com mais clareza. Os resultados do exame mostram que praticamente 4 em cada 10 brasileiros de 15 anos não consegue fazer nem mesmo uma conta de multiplicar - habilidade ensinada até a 4ª. série do ensino fundamental.

O Pisa mostrou que 38% dos 20 mil estudantes que fizeram a avaliação no Brasil ficaram, em matemática, abaixo no nível 1 da prova. Em países europeus que tiveram bons resultados, como a Finlândia, apenas 1,4% dos estudantes caiu nessa faixa. Na China continental, também um país em desenvolvimento, foram apenas 1,4%. No México, que figurou um pouco melhor que o Brasil no Pisa 2009, 21,9% dos alunos ficou abaixo do nível 1.

Ficar abaixo do nível 1 do Pisa significa que esses estudantes, apesar de estarem entre a 7ª. série do fundamental e o 1º. ano do ensino médio, não conseguem completar uma simples de multiplicação.

Uma das questões desse nível de dificuldade apresentada pelo Pisa é um cálculo de taxa de câmbio: para chegar à resposta, o aluno precisa multiplicar o valor que a personagem possui em sua moeda (3 mil) pela taxa de câmbio, 4,2. Boa parte dos brasileiros não conseguiu.

A questão colocada para o nível acima, que deixaria os estudantes no nível 2, é uma divisão: para saber a altura de cada um dos 14 degraus de uma escada, o estudante precisava dividir 14 pela altura total da escada. Além dos 38% que não conseguiram passar da conta de multiplicação, outros 31% empacaram nesse tipo de divisão.

Obstáculo. É bastante provável que o enunciado das questões tenha atrapalhado os brasileiros. Para saber o que fazer, é preciso ler, entender e interpretar os textos e imagens que explicam a questão. Com dificuldades de leitura, os brasileiros já começam mal a solução dos problemas.

O Pisa chama de "competência matemática" a capacidade de uma pessoa formular, aplicar e interpretar conceitos matemáticos na vida diária e em uma variedade de contextos. Estudantes que não atingem um nível mínimo, como os brasileiros, diz o estudo, não têm capacidade nem mesmo de se beneficiar completamente de anos a mais de estudo. Mais do que isso, o País pode desistir de se tornar um "exportador de inteligência", como tanto deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O número de estudantes atingindo o nível 5 ou 6 em matemática e ciências será particularmente importante para países que desejam criar um grupo de trabalhadores capazes de avançar a fronteira do conhecimento científico e tecnológico e, no futuro, competir na economia global", diz o relatório do Pisa. No Brasil, apenas 0,8% dos estudantes chegaram aos níveis 5 e 6, enquanto na China, a metade dos que fizeram a prova estão nesse nível.

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