8 de dezembro de 2010

PISA 2009 e o Brasil

Houve avanços, mas há necessidade de investir no professor

O Estado de S. Paulo/BR

Quarta-feira, 08 de dezembro de 2010

  Análise: Jorge Werthein 


O relatório Pisa 2009 traz a boa notícia do avanço do Brasil, fruto de um esforço que precisa ser reconhecido. Sabemos o quanto é difícil avançar num país com as dimensões do Brasil, com políticas descentralizadas. E o documento da OCDE mostra a necessidade de um conjunto coerente de medidas para que ocorra uma transformação para melhor. Educação é responsabilidade compartilhada: não depende só do presidente da República e do ministro da Educação dizerem que ela é prioritária. Isso deve ser dito e assumido por todos os responsáveis pela implementação das políticas educacionais nos Estados e municípios.

Enquanto festejamos esse avanço, temos de atentar para os desafios que persistem. Temos mais de 50% dos estudantes na faixa dos 15 anos com níveis 1 e 2 de proficiência em leitura, de uma escala com seis níveis. A situação é pior na área de matemática: apesar da redução de seis pontos no número de estudantes com baixa performance, ainda estamos com 69% deles nos níveis 1 e 2.

Em ciências, o avanço foi semelhante ao do desempenho em matemática, mas 54% dos estudantes ainda estão nos níveis inferiores, incapazes de identificar um tema científico dentre diversos outros. Temos de reforçar o currículo de ciências. O relatório reafirma o papel da educação no desenvolvimento sustentável das nações.

O Pisa 2009 nos chama atenção para o papel fundamental do principal agente nesse esforço por maior qualidade e equidade na educação: o professor. O relatório insiste na necessidade da excelência em sua formação, no reconhecimento social de sua tarefa, da importância da sua carreira e da retribuição aos seus esforços. E aponta a importância de levar os melhores professores às escolas e aos alunos com maiores dificuldades. Essa seria uma das maneiras mais rápidas e eficientes de romper o círculo vicioso da reprodução das desigualdades no sistema educacional.

Soluções para a educação podem parecer difíceis e demoradas, mas não precisam ser assim. E essa é outra revelação que o relatório faz: há exemplos de locais que cresceram espetacularmente no Pisa em prazos menores, em seis anos, como Xangai/China, Polônia e Catar. Os esforços em todo o mundo mostram que a melhoria da qualidade da educação é um desafio mundial. Podemos, portanto, nos sentir bem acompanhados e felizes pelo fato de estarmos no caminho certo. Mas temos de reconhecer que, nessa corrida global, os parceiros também avançam.

É DOUTOR EM EDUCAÇÃO POR STANFORD, FOI REPRESENTANTE DA UNESCO NO BRASIL E É VICE-PRESIDENTE DA SANGARI NO BRASIL

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