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Brasil S/A
Carências da educação e de mão de obra qualificada já obstruem a fluência do crescimento - Antônio Machado O Brasil está diante de um problemão - e não tem nada a ver com as mazelas triviais da economia, como a inflação. O problema até parece prosaico, mas é sério: as intenções de investimento no país estão se avolumando e não há economia preparada para recebê-los.Sabe-se da carência da infraestrutura, com estradas deficientes, portos operando no limite, energia abastecida com termoelétricas caras e poluentes, cidades engarrafadas, estrutura de saneamento limitada. Pouco se fala de outra carência dramática e sem solução em curto prazo: o apagão de cérebros e mão de obra especializada. Estudo da consultoria McKinsey estima um déficit de cerca de 130 mil engenheiros em 2013. Números recentes da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, relativos a 2008, situam a taxa de formação no ensino universitário em níveis muito aquém do necessário, com a economia crescendo à base de 4% ao ano sob o impulso de novos investimentos. É de 0,48 ao ano por habitante, contra 0,91 nos EUA, 1,00 na França, 1,40 na Rússia. O número de graduados/ano per capita na faixa de 20 a 30 anos de idade é de 2,43 no Brasil. Na Rússia, França e Inglaterra, é mais que o triplo. Nos EUA chega a 6,36, patamar semelhante ao da taxa de graduados na Índia e China. Sem gente preparada, muito projeto só sairá do papel se tiver ampla assessoria externa. Números da Secretaria de Tecnologia de Pernambuco, estado com uma das mais altas taxas de negócios emergentes no país, estimam que o déficit na disciplina de física passe de 70 mil. E o Ministério de Minas e Energia considera a construção de quatro usinas nucleares, além das duas existentes em Angra dos Reis e outra em construção. A própria Petrobras se serve de pessoal especializado do exterior em suas plataformas, contornando as restrições ao emprego de mão de obra estrangeira com contratos temporários ou com cláusulas que preveem a operação dos equipamentos pelos prestadores de serviços. Sair dessa situação leva tempo. A presidente Dilma Rousseff está com o programa de enviar 70 mil bolsistas às universidades nos EUA até 2014 para especialização em áreas técnicas, conforme o tratado assinado durante a recente visita de Barack Obama a Brasília. É o que Japão, Índia, China e Coreia do Sul, todos com políticas de longo prazo de especialização de jovens nos EUA, fazem há mais de 30 e 40 anos. Mas em tais países a formação escolar demandada pela inovação tecnológica que os distingue foi concomitante e até antecedente à industrialização de ponta. Aqui ainda mal começou. Competição do pré-sal O resultado do despreparo profissional está em toda parte. Pegue-se a instalação dos centros de pesquisa e desenvolvimento no país por grandes empresas estrangeiras. É fruto do trabalho de atração da Petrobras e do BNDES, em grande parte motivada pelo pré-sal. A IBM, o BG Group e a GE, entre as maiores, estão instalando seus laboratórios no Rio. Só o da GE está orçado em US$ 550 milhões. De onde vêm os pesquisadores? Boa pergunta. Para acelerar a inovação tecnológica, está se descobrindo o pouco que há em outras áreas. Desfalque de talentos À falta da oferta de quadros técnicos em nível superior, agravada pela restrição à entrada de profissionais estrangeiros, mesmo como professores ou pesquisadores convidados, tais centros foram à caça em universidades e incubadoras de projetos nascentes, desfalcando os talentos dos escassos laboratórios de desenvolvimento nacional. Além da baixa taxa de graduação superior, a maioria dos graduados não atende às novas demandas. As áreas de engenharia, manufatura e construção formam apenas 5% dos graduados, pelos dados da Unesco, contra, por exemplo, 16% na França e 22% na Rússia. Graduados em ciências equivalem a 7% no país. Inglaterra e Alemanha formam 13%. Sem o olhar atrevido O déficit de pessoal qualificado seria maior, se muitas empresas não cuidassem elas mesmas de formar o seu pessoal. Mas em algumas atividades a formação técnica requer habilidades não compensadas por programas internos de treinamento, como as áreas de tecnologia de informação, ou, simplesmente, TI. O déficit nessa área, segundo compilação da McKinsey, foi de 71 mil profissionais no ano passado e deverá chegar a 200 mil em 2013. A demanda por engenheiros seria já o dobro da oferta atual de 32 mil formados por ano. O governo está ciente dessas dificuldades. O senso de urgência é que deixa a desejar, além de também faltar o "olhar" atrevido para o que está mais para oportunidade que para problema. Já ajudaria o governo constatar que se mais não faz é pela sua falta de ousadia.
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