30 de maio de 2011

A morte do grande Abdias do Nascimento


Jornal do Comércio RS | Opinião | RS, 30 de Maio
A morte do grande Abdias do Nascimento

A luta do negro no Brasil, sob olhar de direitos civis, tem Abdias como marco definitivo. Penso que foi lá pelos anos 1960, então muito jovem, que tomei contato com as obras deste líder, que morreu em 24/5/2011. Frequentando a Biblioteca Pública do Estado, encontrei o livro Drama para negros e Prólogo para brancos , bem como informações do Teatro Experimental do Negro (TEN). Passei a acompanhar sua trajetória a distância. Somente nos anos 2000 é que tive o prazer de trocar algumas palavras com o mestre lá na sede do PDT. Abdias está para os negros brasileiros o que significa Nelson Mandela para os irmãos da África do Sul. Foi ator, diretor, dramaturgo, escritor, professor e político. Em tudo um negro orgulhoso da cor de sua pele e da trajetória de seus antepassados escravos. Foi ainda deputado e senador, sempre com o mesmo discurso brilhante em favor da sua comunidade negra.Quando, aqui no Estado, integrei na condição de um dos fundadores do Grupo Palmares, que enaltece o 20 de novembro e diz não ao 13 de maio, jamais imaginei que em São Paulo, em 2006, por intermédio do mestre fora dedicado o dia 20 de novembro como data oficial da consciência negra, repito: por iniciativa do Abdias. Ninguém chega aos 97 anos de idade com boa parte da vida dedicada a profícuo trabalho por nada. Foi dos primeiros a denunciar o genocídio praticado ao negro brasileiro. Sempre que elevamos nossa voz nos tribunais utilizando leis para condenar racistas, me vem à mente o agradecimento e oração ao grande Abdias, que também foi precursor da luta de políticas públicas afirmativas. O pensamento a seguir bem define o que foi Abdias do Nascimento: Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem, lutar sempre que a igualdade nos descaracterize (Boaventura de Souza Santos). É justa a afirmação da presidente Dilma Rousseff ao dizer: O Brasil perdeu um dos seus maiores líderes no combate à discriminação racial . Arrisco afirmar que foi o maior, eis que referência de minha geração, pela projeção internacional que alcançou, tanto que recebeu em 2001 prêmio da Unesco na condição de ativista de direitos civis.
Advogado, um dos fundadores do Grupo Palmares e conselheiro de Cultura

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