24 de Maio, Correio Brasiliense
Pesquisa do Ministério Público mostra que 64% dos adolescentes que praticaram atos infracionais graves confessaram ser usuários de drogas. Boa parte deles é reincidente e 90,5% foram reprovados no colégio
» SAULO ARAÚJO
Bruno*, 17 anos, entrou para o mundo do crime em agosto de 2009. Sob efeito de alguns cigarros de maconha, assassinou com seis tiros um desafeto da mesma idade na QNN 1, em Ceilândia Sul. Antes de cumprir medida socioeducativa no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) pelo homicídio, confessou ter roubado duas pessoas para alimentar o vício. A triste história de Bruno se confunde com a de centenas de jovens do Distrito Federal que passaram a roubar, matar e traficar depois que se envolveram com entorpecentes. A constatação está na pesquisa Perfil do adolescente infrator, feita pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O relatório de 61 páginas, ao qual o Correio teve acesso, mostra que 64% daqueles com menos de 18 anos que praticaram atos infracionais graves confessaram fazer uso de substância ilícita.
A relação droga e crime impressionou até mesmo o promotor de Justiça e coordenador administrativo da pesquisa, Renato Barão Varalda. "Significa que nem o Estado nem a família têm controle sobre esses jovens. Tem adolescente que chega à promotoria tão tomado pelo crack que a única solução é mandá-lo para o Caje. Essa não é a medida adequada, mas temos que fazer isso para que ele não regresse para as ruas. O melhor seria encaminhá-lo para internação, mas o DF, infelizmente, não possui estrutura para atendê-los", disse Varalda.
O estudo (veja arte) ainda revela que meninos e meninas em conflito com a lei fazem parte de famílias desestruturadas, são reincidentes e consideram a escola pouco estimulante. A educação, aliás, não é prioridade na vida de quem trocou as brincadeiras por armas. Entre os 504 entrevistados na pesquisa, 90,5% (456) admitiram ter reprovado de ano no colégio. Para Renato Varalda, o desinteresse dos jovens pela sala de aula é motivado, principalmente, pela linguagem distante entre escola e aluno. "A reprovação é consequência da evasão escolar. Eles se matriculam na rede pública, mas não frequentam as aulas. Essa evasão se dá porque eles não se sentem atraídos pelo que o universo escolar oferece", afirmou o promotor de Justiça, que sugere medidas simples para a mudança de comportamento desse público.
"É possível detectar as falhas do sistema e tentar traçar estratégias, seja tornando o ambiente escolar acolhedor e atraente, seja melhorando o meio de transporte entre a residência e a escola, seja orientando os pais, responsáveis e educadores à imposição de limites e respeito aos valores e aos malefícios do uso de drogas e bebidas alcoólicas", complementou.
* Nome fictício em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
_________
"Não podemos sempre relacionar a ausência do pai ao cometimento de delitos por parte dos adolescentes. Hoje, não existe apenas a família tradicional. Inúmeros lares são formados apenas por pai e filho,mãee filho etc.
Miriam Abramovay, coordenadora da área de juventude da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Rio de Janeiro
Pesquisa do Ministério Público mostra que 64% dos adolescentes que praticaram atos infracionais graves confessaram ser usuários de drogas. Boa parte deles é reincidente e 90,5% foram reprovados no colégio
» SAULO ARAÚJO
Bruno*, 17 anos, entrou para o mundo do crime em agosto de 2009. Sob efeito de alguns cigarros de maconha, assassinou com seis tiros um desafeto da mesma idade na QNN 1, em Ceilândia Sul. Antes de cumprir medida socioeducativa no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) pelo homicídio, confessou ter roubado duas pessoas para alimentar o vício. A triste história de Bruno se confunde com a de centenas de jovens do Distrito Federal que passaram a roubar, matar e traficar depois que se envolveram com entorpecentes. A constatação está na pesquisa Perfil do adolescente infrator, feita pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O relatório de 61 páginas, ao qual o Correio teve acesso, mostra que 64% daqueles com menos de 18 anos que praticaram atos infracionais graves confessaram fazer uso de substância ilícita.
A relação droga e crime impressionou até mesmo o promotor de Justiça e coordenador administrativo da pesquisa, Renato Barão Varalda. "Significa que nem o Estado nem a família têm controle sobre esses jovens. Tem adolescente que chega à promotoria tão tomado pelo crack que a única solução é mandá-lo para o Caje. Essa não é a medida adequada, mas temos que fazer isso para que ele não regresse para as ruas. O melhor seria encaminhá-lo para internação, mas o DF, infelizmente, não possui estrutura para atendê-los", disse Varalda.
O estudo (veja arte) ainda revela que meninos e meninas em conflito com a lei fazem parte de famílias desestruturadas, são reincidentes e consideram a escola pouco estimulante. A educação, aliás, não é prioridade na vida de quem trocou as brincadeiras por armas. Entre os 504 entrevistados na pesquisa, 90,5% (456) admitiram ter reprovado de ano no colégio. Para Renato Varalda, o desinteresse dos jovens pela sala de aula é motivado, principalmente, pela linguagem distante entre escola e aluno. "A reprovação é consequência da evasão escolar. Eles se matriculam na rede pública, mas não frequentam as aulas. Essa evasão se dá porque eles não se sentem atraídos pelo que o universo escolar oferece", afirmou o promotor de Justiça, que sugere medidas simples para a mudança de comportamento desse público.
"É possível detectar as falhas do sistema e tentar traçar estratégias, seja tornando o ambiente escolar acolhedor e atraente, seja melhorando o meio de transporte entre a residência e a escola, seja orientando os pais, responsáveis e educadores à imposição de limites e respeito aos valores e aos malefícios do uso de drogas e bebidas alcoólicas", complementou.
* Nome fictício em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
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"Não podemos sempre relacionar a ausência do pai ao cometimento de delitos por parte dos adolescentes. Hoje, não existe apenas a família tradicional. Inúmeros lares são formados apenas por pai e filho,mãee filho etc.
Miriam Abramovay, coordenadora da área de juventude da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Rio de Janeiro
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