21 de maio de 2011
Educação no Brasil | O Estado de S. Paulo
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo
Um levantamento da ONG Parceiros da Educação com 3.249 alunos de 18 escolas de São Paulo mostrou que metade dos estudantes do ensino médio que estudam no período noturno não trabalha.
Segundo a pesquisa, que ouviu estudantes e diretores, os adolescentes não estão matriculados no diurno por falta de espaço físico. Um problema, afirmam os diretores, que se agravou com o acréscimo de um ano no ensino fundamental.
"Com mais crianças na escola, ficou mais difícil ter salas disponíveis para atender aos alunos mais velhos durante o dia", diz Celso Teixeira, diretor da Escola Estadual Luis Gonzaga Travassos da Rosa, na zona sul.
É o caso de Daniele Lira de Freitas, de 17 anos, aluna do 3.º ano do ensino médio na Escola Estadual Francisco Brasiliense Fusco, também na zona sul. Ela nunca trabalhou, mas não conseguiu vaga em outras quatro escolas públicas próximas de sua casa que oferecem vagas durante o dia. Resultado: passa o dia todo esperando chegar o horário da aula. "Tenho certeza de que rendo muito menos do que eu renderia se eu estudasse de dia."
Números da pesquisa mostram essa defasagem no aprendizado. Quanto maior a porcentagem de salas à noite, menor o índice no Idesp. Entre as escolas pesquisadas, a nota das que oferecem o ensino médio durante o dia é o dobro do registrado pelas que só têm o curso noturno.
"Não dá nem para comparar. Eles rendem menos, a indisciplina é muito maior, surgem os problemas com drogas e, o pior de tudo, a evasão é muito grande", diz Teixeira. "No começo do ano, a sala está cheia de alunos. Depois de poucos meses, metade já sumiu."
Somente à noite. Por lá, até o ano passado, o ensino médio era oferecido somente à noite, em seis salas. Dos cerca de 200 alunos, apenas 15% trabalhavam. Para o início de 2011, a empresa parceira do colégio construiu duas novas salas e arranjos no espaço administrativo possibilitaram que outras duas classes pudessem receber alunos do ensino médio. Com isso, o diretor conseguiu montar três turmas do 1.º ano e uma do 2.º ano no período da manhã.
A aluna Karina Augusta Roberto de Carvalho, de 16 anos, que está no 2.º ano, conseguiu uma das vagas. Ela volta a estudar pela manhã, depois de cursar o 1.º no noturno. "É muito melhor. Pela manhã, acordo mais disposta. À noite, eu já chegava cansada, menos disposta, apesar de não ter trabalhado durante o dia."
Karina também acha os professores mais animados. "À noite, eles estão exaustos. Alguns dão aulas nos períodos da manhã, tarde e noite. E no dia que o trânsito está ruim, muitos nem conseguem chegar."
Segundo Teixeira, a mudança de horário e os problemas decorrentes dela transformam o aluno. "Quando saíram do fundamental, que cursavam durante o dia, 70% desses adolescentes tinham rendimento satisfatório. Vão para o noturno, e, ao sair, 90% estão abaixo do básico."
Adaptações. Para os especialistas, aumentar a oferta diurna para o ensino médio é uma resposta às mudanças da sociedade.
"O noturno segue uma lógica antiga, a de que o emprego é pleno e de que todos os jovens precisam trabalhar. O fato é que não há trabalho para todos e há aqueles cujos pais podem sustentar sem que entrem cedo no mercado", diz Wagner Antônio dos Santos, coordenador do programa jovens urbanos do Centro de Estudos e Pesquisa de Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Uma pesquisa do IBGE mostrou que, no País todo, os jovens de 15 a 17 anos estão estudando mais e trabalhando menos. Dos jovens dessa faixa etária, 18,9% deles faziam parte da população economicamente ativa em 2010. É a menor taxa média nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em 2003, o porcentual era de 26%.
O grande contingente de alunos fora do mercado de trabalho também tem relação com a queda da defasagem entre série e idade. Até há algum tempo, os estudantes chegavam mais velhos ao ensino médio e, portanto, a maioria deles estava empregada. Hoje, os estudantes chegam ao ensino médio com a idade adequada, entre 15 e 18 anos.
A Secretaria Estadual de Educação diz que aumentou a oferta de ensino médio diurno por causa da regularização do fluxo escolar. Segundo o órgão, em 1995, 24,2% dos alunos estudavam no diurno, ao passo que, em 2010, o índice aumentou para 54,9% do total de matrículas.
"É muito. O ensino noturno é uma aberração brasileira. Quando você olha para outros países, é um ensino técnico ou supletivo. Aqui, acabou se institucionalizando o ensino noturno", diz Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). "É preciso forçar os professores e escolas a se ajustarem. Temos de atacar e não aprender a conviver com essa distorção."
PARA ENTENDER
Saresp dá "vermelho" ao ensino médio
O resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) mostra que o ensino médio vai mal. Ao terminar o terceiro ano, 57,7% dos alunos tiveram desempenho considerado insuficiente em matemática. Em língua portuguesa, o porcentual foi de 37,9%.
Tirar uma nota abaixo do básico - ou insuficiente - significa que o estudante não foi capaz de assimilar o mínimo do conteúdo esperado para aquela disciplina.
Educação no Brasil | O Estado de S. Paulo
Levantamento realizado pela ONG Parceiros da Educação mostra que estudantes do ensino médio noturno não estão matriculados durante o dia por falta de vagas; rendimento dos alunos da noite é inferior ao dos que fazem parte das turmas diurnas
Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo
Um levantamento da ONG Parceiros da Educação com 3.249 alunos de 18 escolas de São Paulo mostrou que metade dos estudantes do ensino médio que estudam no período noturno não trabalha.
Segundo a pesquisa, que ouviu estudantes e diretores, os adolescentes não estão matriculados no diurno por falta de espaço físico. Um problema, afirmam os diretores, que se agravou com o acréscimo de um ano no ensino fundamental.
"Com mais crianças na escola, ficou mais difícil ter salas disponíveis para atender aos alunos mais velhos durante o dia", diz Celso Teixeira, diretor da Escola Estadual Luis Gonzaga Travassos da Rosa, na zona sul.
É o caso de Daniele Lira de Freitas, de 17 anos, aluna do 3.º ano do ensino médio na Escola Estadual Francisco Brasiliense Fusco, também na zona sul. Ela nunca trabalhou, mas não conseguiu vaga em outras quatro escolas públicas próximas de sua casa que oferecem vagas durante o dia. Resultado: passa o dia todo esperando chegar o horário da aula. "Tenho certeza de que rendo muito menos do que eu renderia se eu estudasse de dia."
Números da pesquisa mostram essa defasagem no aprendizado. Quanto maior a porcentagem de salas à noite, menor o índice no Idesp. Entre as escolas pesquisadas, a nota das que oferecem o ensino médio durante o dia é o dobro do registrado pelas que só têm o curso noturno.
"Não dá nem para comparar. Eles rendem menos, a indisciplina é muito maior, surgem os problemas com drogas e, o pior de tudo, a evasão é muito grande", diz Teixeira. "No começo do ano, a sala está cheia de alunos. Depois de poucos meses, metade já sumiu."
Somente à noite. Por lá, até o ano passado, o ensino médio era oferecido somente à noite, em seis salas. Dos cerca de 200 alunos, apenas 15% trabalhavam. Para o início de 2011, a empresa parceira do colégio construiu duas novas salas e arranjos no espaço administrativo possibilitaram que outras duas classes pudessem receber alunos do ensino médio. Com isso, o diretor conseguiu montar três turmas do 1.º ano e uma do 2.º ano no período da manhã.
A aluna Karina Augusta Roberto de Carvalho, de 16 anos, que está no 2.º ano, conseguiu uma das vagas. Ela volta a estudar pela manhã, depois de cursar o 1.º no noturno. "É muito melhor. Pela manhã, acordo mais disposta. À noite, eu já chegava cansada, menos disposta, apesar de não ter trabalhado durante o dia."
Karina também acha os professores mais animados. "À noite, eles estão exaustos. Alguns dão aulas nos períodos da manhã, tarde e noite. E no dia que o trânsito está ruim, muitos nem conseguem chegar."
Segundo Teixeira, a mudança de horário e os problemas decorrentes dela transformam o aluno. "Quando saíram do fundamental, que cursavam durante o dia, 70% desses adolescentes tinham rendimento satisfatório. Vão para o noturno, e, ao sair, 90% estão abaixo do básico."
Adaptações. Para os especialistas, aumentar a oferta diurna para o ensino médio é uma resposta às mudanças da sociedade.
"O noturno segue uma lógica antiga, a de que o emprego é pleno e de que todos os jovens precisam trabalhar. O fato é que não há trabalho para todos e há aqueles cujos pais podem sustentar sem que entrem cedo no mercado", diz Wagner Antônio dos Santos, coordenador do programa jovens urbanos do Centro de Estudos e Pesquisa de Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Uma pesquisa do IBGE mostrou que, no País todo, os jovens de 15 a 17 anos estão estudando mais e trabalhando menos. Dos jovens dessa faixa etária, 18,9% deles faziam parte da população economicamente ativa em 2010. É a menor taxa média nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em 2003, o porcentual era de 26%.
O grande contingente de alunos fora do mercado de trabalho também tem relação com a queda da defasagem entre série e idade. Até há algum tempo, os estudantes chegavam mais velhos ao ensino médio e, portanto, a maioria deles estava empregada. Hoje, os estudantes chegam ao ensino médio com a idade adequada, entre 15 e 18 anos.
A Secretaria Estadual de Educação diz que aumentou a oferta de ensino médio diurno por causa da regularização do fluxo escolar. Segundo o órgão, em 1995, 24,2% dos alunos estudavam no diurno, ao passo que, em 2010, o índice aumentou para 54,9% do total de matrículas.
"É muito. O ensino noturno é uma aberração brasileira. Quando você olha para outros países, é um ensino técnico ou supletivo. Aqui, acabou se institucionalizando o ensino noturno", diz Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). "É preciso forçar os professores e escolas a se ajustarem. Temos de atacar e não aprender a conviver com essa distorção."
PARA ENTENDER
Saresp dá "vermelho" ao ensino médio
O resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) mostra que o ensino médio vai mal. Ao terminar o terceiro ano, 57,7% dos alunos tiveram desempenho considerado insuficiente em matemática. Em língua portuguesa, o porcentual foi de 37,9%.
Tirar uma nota abaixo do básico - ou insuficiente - significa que o estudante não foi capaz de assimilar o mínimo do conteúdo esperado para aquela disciplina.
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