23 de maio de 2011

Ciência & Tecnologia O cientista mais famoso do mundo :Stephen Hawking


23 de maio de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | The New York Times | BR

Por CLAUDIA DREIFUS
TEMPE, Arizona - Como Einstein, ele é tão famoso por sua história quanto por sua ciência. Aos 21 anos, o físico britânico Stephen Hawking foi diagnosticado com a esclerose lateral amiotrófica (ELA), a doença de Lou Gehrig, que é geralmente fatal em cinco anos. Mas Hawking sobreviveu e brilhou. Na década de 1960, ele usou a matemática para explicar as propriedades dos buracos negros. Em 1973, aplicou a teoria geral da relatividade, de Einstein, aos princípios da mecânica quântica. E demonstrou que buracos negros não eram completamente negros e que podiam emitir radiação.
Em 1988, Hawking tentou explicar o que sabia sobre o universo ao público leigo em "Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros". O livro vendeu mais de 10 milhões de exemplares.
Hoje, Hawking, 69, é diretor de pesquisas do Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge. Ele está quase todo paralisado. Com um músculo da bochecha, ele envia sinais para um sensor nos seus óculos e, assim, escolhe entre as palavras que passam piscando numa tela ligada à sua cadeira de rodas. O computador fala essas palavras em uma voz metálica familiar para a legião de fãs de Hawking.
Hawking viajou aos EUA no mês passado para um festival de ciências patrocinado pelo Projeto Origens, da Universidade Estadual do Arizona. Em sua palestra, "Minha Breve História", ele falou das alegrias da descoberta científica. "Eu não a compararia ao sexo", disse ele, "mas dura mais tempo". A plateia urrou. Na tarde seguinte, Hawking concedeu uma rara entrevista. Uma semana antes, dez perguntas haviam sido enviadas a sua filha, Lucy, 40. Para não cansar o pai, que ficou mais fraco após uma doença quase fatal dois anos atrás, Lucy leu as perguntas para ele ao longo dos dias.
Durante nosso encontro, o físico reproduziu suas respostas. Apenas um diálogo, no final, foi espontâneo.
P. O que é um dia típico para o sr.?
R. Eu me levanto cedo todas as manhãs e vou para o meu escritório onde trabalho com meus colegas e alunos da Universidade de Cambridge. Por e-mail, posso me comunicar com cientistas do mundo todo. Obviamente, por causa da minha deficiência, eu preciso de assistência. Mas eu sempre tentei superar as limitações da minha condição e levar a vida mais completa possível. Eu viajei o mundo, da Antártida à gravidade zero [pausa]. Talvez um dia, eu vá ao espaço.
P. Há especialistas em ELA que insistem que o sr. talvez não sofra dessa doença. Dizem que o senhor evoluiu bem demais. Como reage a esse tipo de especulação?
R. Talvez eu não tenha o tipo mais comum de doença neurológica motora, que normalmente mata em dois ou três anos. Certamente, contribuíram os fatos de eu ter um emprego e de ter sido tão bem cuidado. Eu não tenho muitas coisas positivas a dizer sobre a doença neurológica motora. Mas ela me ensinou a não ter pena de mim, pois há quem esteja pior, e a continuar fazendo o que eu ainda consigo. Estou mais feliz agora do que antes de desenvolver o transtorno.
P. Sobre o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), o supercolisor na Suíça, havia uma enorme expectativa quando ele foi inaugurado. O sr. está frustrado com ele?
R. É muito cedo para saber o que o LHC vai revelar. Ele levará dois anos para alcançar a potência máxima. Quando isso ocorrer, vai trabalhar com energias cinco vezes superiores a de aceleradores de partículas anteriores. Podemos intuir o que ele vai revelar, mas quando abrimos uma nova gama de observações, descobrimos, muitas vezes, o que não esperávamos. É aí que a física se torna realmente emocionante, pois estamos aprendendo algo novo sobre o universo.
P. Embora o sr. evite expor suas crenças políticas muito abertamente, o sr. entrou no debate sobre a saúde pública aqui nos EUA no ano passado. Por que fez isso?
R. Entrei no debate sobre a saúde em resposta a uma declaração na imprensa [...] de que o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha teria me matado se eu fosse um cidadão britânico. [...] Sou britânico, vivo em Cambridge, e o Serviço Nacional de Saúde dedica ótimos cuidados a mim há mais de 40 anos.
P. Os cientistas do Fermilab, recentemente, anunciaram algo que um dos nossos repórteres descreveu como "um solavanco suspeito nos dados deles, que podem evidenciar uma nova partícula elementar ou mesmo, dizem alguns, uma nova força da natureza". O que o sr. pensou ao ouviu falar a respeito?
R. É muito cedo para ter certeza. Se isso nos ajudar a entender o universo, seria algo bom. Mas, em primeiro lugar, o resultado precisa ser confirmado por outros aceleradores de partículas.
P. A palestra que o sr. fez aqui em Tempe, "Minha Breve História", foi muito pessoal. O sr. queria deixar um registro para que as pessoas saibam quem o sr. é?
R. [Após cinco minutos] Espero que minha experiência ajude outras pessoas. geoff robins/agence france-presse-getty images Stephen Hawking disse que doença o ensinou a fazer o que ainda consegue, sem ter pena de si |

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