22 de maio de 2011

A USP e a segurança


RAUL JUSTE LORES

Fortaleza USP

A USP quer mais segurança, mas sem a Polícia Militar. Até a próxima greve estourar, muitos ali vão exigir mais dos cofres públicos, mas sem admitir que a sociedade discuta como pagar a conta.
O Brasil mudou, mas a melhor universidade brasileira parece uma fortaleza conservadora antimudanças.
É tabu discutir cobrança de mensalidade, financiamento, participação da iniciativa privada e outras urgências -maior diálogo com o mundo, o acesso de mais estudantes vindos da escola pública e o fomento à inovação.
Enquanto o ProUni preenche a capacidade ociosa e enriquece várias universidades privadas, sem muito histórico de investimento em pesquisa ou formação de professores, as públicas estão carcomidas e sem fundos.
O gargalo de mão de obra é uma das mais sérias ameaças ao crescimento sustentado da economia brasileira. Mas governo e empresários reagem com pouca ação.
Nossos concorrentes no mundo emergente têm pressa para dar um salto acadêmico.
Na China, a Faculdade de Direito Transnacional em Shenzhen contratou um ex-presidente da Universidade Cornell como seu diretor. O governo quer graduandos "à altura dos melhores dos EUA".
A Índia tem os seus MITs desde os anos 50, mas só agora consegue promover o retorno de engenheiros indianos que conquistaram os EUA.
Há 128 mil chineses estudando em faculdades americanas -para a elite chinesa, mesmo o mimado filho único precisa se sacrificar para estudar em Harvard ou Yale.
Brasileiros são apenas 8.000, pouco mais que os colombianos nos EUA. Índia, Turquia, Taiwan, Vietnã e México também superam o número de brasileiros.
Dos 10 países com maior número de universitários nos EUA, 8 são asiáticos. A Malásia está atraindo filiais das maiores universidades britânicas para um polo de educação, vizinho a Cingapura, para aproveitar a demanda.
A China abriga 265 mil estrangeiros em suas universidades, 18 mil deles com bolsas do governo, que quer internacionalizar seus campi.
No Vietnã, a Universidade de Hanói até dá cursos inteiramente em inglês. "Nossos alunos serão competitivos no mundo", diz o reitor, sem aparentar trauma histórico.
Um professor estrangeiro que tente lecionar na USP, mesmo com diploma de Stanford, dificilmente vai resistir ao calvário burocrático.
Talentos uspianos parecem resignados ao imobilismo e aos recursos limitados.
A produção de patentes é pequena, a posição em rankings internacionais, decepcionante. Mas, no superprotegido ambiente universitário, passar por avaliação externa ainda soa a reprovação.


RAUL JUSTE LORES é editor de Mercado.

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