26 de julho de 2011

Cinco perguntas para...José Botafogo Gonçalves :Crise na educação Chilena


26 de julho de 2011
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José Botafogo Gonçalves

Ex-embaixador e VP Nato do Centro Brasileiro de Relações Internacionais

"Apesar dos protestos, o ensino no Chile é superior ao brasileiro"

Como ex-embaixador extraordinário de Assuntos do Mercosul, não faltam credenciais a Botafogo Gonçalves ao analisar a conjuntura de movimentos sociais na região. Em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO, ele vai além ao afirmar que as atuais manifestações estudantis no Chile possam ser o começo de uma revisão do modelo político-econômico vigente no país. "Não acredito em nenhum risco à governabilidade do presidente Piñera", pondera.
Ele compara a qualidade dos sistemas de educação chilena e brasileira - sem politizações, e aponta o potencial das relações bilaterais com o Brasil, principalmente no comércio, ponto por enquanto ainda pouco aproveitado pelo lado brasileiro. Leia abaixo os principais trechos da conversa.
Como o sr. avalia este início de governo de Sebastián Piñera?
Neste momento, devemos observar o modelo político-econômico adotado pelo Chile na última década, com partidos de centro-esquerda e duas características: estabilidade macroeconômica e abertura ao mercado externo - soluções para uma economia sem vocação industrial. Porém, nunca se resolveu o problema da excessiva disparidade de renda na população. A chegada de Piñera, de centro-direita, provocou uma mobilização por mais medidas sociais. Acredito que estas manifestações estudantis determinarão a revisão do modelo político-econômico vigente.
Desta forma, as mobilizações nas ruas podem significar outras demandas políticas e sociais?
É uma mistura. A motivação pode ser as queixas sobre o sistema educacional, mas isto dá origem a revoltas de caráter mais profundo. Os descontentamentos sempre surgem de um fato específico e depois derivam para uma crítica mais generalizada.
Há gravidade para Piñera caso os protestos estudantis se intensifiquem?
Não acredito em nenhum risco à governabilidade do país.
O povo chileno já sabe que rupturas políticas não são produtivas. Portanto, não vejo perigo de desequilíbrio neste início de governo Piñera.
Qual sua avaliação sobre o sistema educacional chileno?
Apesar dos protestos, a verdade é que quem vai à escola no Chile tem um ensino básico de qualidade superior comparado ao Brasil. Agora, politizar esta discussão entre esquerda e direita seria uma infantilidade.
Qual o quadro das relações externas entre Chile e o governo brasileiro?
Acredito que são muito boas.
Hoje, o Brasil é o segundo destino de investimentos chilenos.
Por outro lado, as empresas brasileiras ainda não se interessam pelo mercado vizinho.
Não vejo no horizonte problemas políticos ou econômicos.
O Chile viu que um acordo de livre comércio com os Estados Unidos não é solução para todos os problemas.
O futuro chileno estará ligado, em grande parte, ao sucesso das economias brasileira e argentina, as mais fortes do Cone Sul.

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