24 de julho de 2011

De olho na internet das crianças


24 de julho de 2011
Educação no Brasil | Revista Época | Saúde | BR


Rafael, de 14 anos, do Rio de Janeiro, usava todo o tempo livre para navegar na internet. Ora no notebook, trancado no quarto, ora no iPhone, que ganhou no fim do ano passado. O pai, Celso Oliveira, desconfiou que o excesso prejudicaria seu rendimento escolar. E quis tirar os equipamentos do garoto. A mãe, Marcia Taborda, pedagoga especializada em tecnologia, preferiu dar liberdade ao filho. Optei por deixá-lo livre para que tomasse consciência da administração do seu próprio tempo. Mas ele estava avisado de que um boletim escolar manchado de vermelho poderia afastá-lo da internet. No fim do primeiro trimestre, as notas vieram abaixo do esperado. Resultado: Rafael perdeu o notebook e o celular. No começo foi torturante, mas ele teve de aceitar a punição , diz Marcia.
O garoto faz parte de um grupo que está cada vez mais conectado e que, em alguns casos, exagera no uso da internet. Segundo uma pesquisa feita no ano passado em 14 países pela empresa de segurança digital Symantec, as crianças brasileiras são as que passam mais tempo on-line. Ficam 18 horas semanais. Globalmente, essa média é de 11,4 horas. Entre os entrevistados brasileiros, oito em cada dez afirmam que a quantidade é exagerada.
Para complicar, os pais não dominam o mundo virtual por onde as crianças e os adolescentes circulam. De acordo com uma pesquisa recente do canal de TV infantil Nickelodeon sobre os hábitos das crianças na internet, entre os 6 e os 10 anos, elas procuram basicamente diversão, como jogos on-line. Entre 11 e 14 anos, o pré-adolescente navega para se informar e interagir nas redes sociais, como Orkut, Facebook, Twitter e Google+. É nessa faixa etária que o controle por parte dos pais é menor. Com essa idade dominam a tecnologia e têm muitas opções de acesso fora de casa. A internet pode ser usada na escola, na casa de amigos, em tablets e celulares. Isso torna mais difícil tentar controlar o uso, como se fosse um taxímetro.
A inexistência de regras dentro de casa pode levar a problemas que vão desde o acesso a conteúdos ilegais e a comunidades que incitam a violência até o uso de drogas e vício em jogos. Segundo a psicóloga infantil Andreia Calçada, uma das principais queixas dos pais é a dificuldade em impor limites. Como consequência do uso excessivo da web, os filhos não fazem o dever de casa e tiram notas baixas na escola, como ocorreu com Rafael. Também podem perder horas de sono e ficar cansados durante o dia. Além disso, o mundo virtual rouba espaço da vida real. Alguém que só encontra diversão na internet e não sente prazer em atividades fora do computador terá menos repertório para lidar com os desafios sociais , afirma Andrea Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Proibir o acesso à web, no entanto, não é a solução. Em primeiro lugar, porque a internet é uma fonte rica de pesquisa e experiências quando bem empregada. A internet é como a faca: pode ser boa ou ruim. Depende de como você a usa , diz Anna Flora Werneck, da Childhood, ONG internacional de proteção à infância. O caminho é educar e impor limites. Primeiro, é importante conversar com os jovens sobre como se portar no ciberespaço. Além disso, os pais precisam explorar um pouco o mundo virtual. A orientação é que eles naveguem com os filhos, entendam a rede e tenham noção das infinitas possibilidades de comunicação que ela propicia. Alguns pais só usam o e-mail , afirma Anna Flora Werneck, da Childhood. Isso é um erro. Eles precisam conhecer os sites que as crianças usam. Até porque o que os pais sabem sobre a vida, fruto de sua experiência, como noções de ética e segurança, continua se aplicando ao ambiente virtual. Os riscos que se apresentam na web são os mesmos do mundo real. Portanto, é importante reforçar que os cuidados que se deve ter na rede são os mesmos que se tem no ambiente presencial. Não se fala com estranhos na rua, não se deve trocar mensagens com desconhecidos em chats.
A tecnologia pode ajudar a colocar limites no tempo e no tipo de site que as crianças acessam. Há programas que possibilitam bloquear endereços da internet, limitar o tempo de uso e acompanhar o histórico de navegação dos filhos. São os sistemas chamados de controle parental. A maior parte dos pacotes de antivírus traz ferramentas como essas. E os principais programas usados hoje em computadores, como os sistemas da Microsoft ou da Apple, também têm esse recurso (leia no quadro abaixo). Essas ferramentas são especialmente úteis quando as crianças usam computadores sem a presença de adultos. Mas não se engane. Não há tecnologia que substitua a educação. Quem põe limite são os pais, e não a máquina.

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