Um prêmio que cientista deseja
PARIS. Numa decisão ousada para a direção de um órgão da ONU que costuma caminhar com cuidado no campo
minado da diplomacia, a Unesco pediu ontem que o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, desista
de patrocinar um prêmio científico que leva o seu nome. A premiação tem despertado controvérsia em todo o mundo,
devido às acusações de graves violações de direitos humanos que pesam sobre Nguema.
- Da mesma forma que ele foi generoso ao oferecer o prêmio, acho que deveria dar uma prova da mesma
generosidade (retirando-o) - disse a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova. - Não acho que esta organização deva
travar uma guerra contra a comunidade científica.
O prêmio - que continua em suspenso desde sua adoção pelo conselho executivo da Unesco em 2008 - foi criticado
por numerosos países e cientistas, e fortemente defendido por africanos. Ele agora pode provocar divisões na agência
da ONU. A Unesco espera chegar a um consenso que evite levar a medida a votação. A África tem 13 delegados
entre os 58 membros do conselho, e o grupo a favor do prêmio (que inclui Estados árabes) chega a 20 - são precisos
30 votos para aprová-lo.
Numa reunião no início do ano na Guiné Equatorial, Nguema - que preside a União Africana - persuadiu o bloco a
aprovar a moção pedindo à Unesco que aprovasse o prêmio em seu nome.
O prêmio de US$ 3 milhões foi proposto pela primeira vez em 2008, e a Unesco inicialmente concordou.
Um júri foi selecionado, mas candidatos retiraram seus nomes devido à polêmica. O Prêmio Nobel da Paz Desmond
Tutu assinou uma carta com outros ativistas manifestando oposição, por causa "dos abusos de direitos humanos,
repressão da liberdade de imprensa e corrupção que têm marcado" o regime de Nguema.
O ditador tomou o poder há 32 anos. Uma inspeção da ONU, em 2008, constatou que há tortura nas prisões. A
família de Nguema é acusada de saquear os cofres públicos do país.
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