23 de abril de 2012

INTELIGÊNCIA/ROGER COHEN Um lugar seguro demais LONDRES Que pena dos jovens... Existem 5,5 milhões de pessoas de 15 a 24 anos sem emprego na União Europeia, um índice de 22,4%, contra 15% no início de 2008. Na Espanha e na Grécia, metade dos jovens está sem trabalho. Os empregos que conseguem encontrar são geralmente contratos de curto prazo. A educação superior, que já foi gratuita na Europa, hoje pode custar muito, embora ainda menos que nos Estados Unidos. A habitação é cara o suficiente para ter criado uma "geração bumerangue" -jovens obrigados a voltar para a casa dos pais porque não conseguem se sustentar morando em outro lugar. O trabalho, quando se encontra, terá de ser por mais tempo, pois a idade de aposentadoria recua. Não admira que outro slogan circulando seja: "geração pé-frio". Confesso: minha geração "baby boom" teve muita sorte: escapou das guerras de nossos antecessores, nasceu no meio de 30 anos de milagre econômico no pós-guerra, desfrutou o melhor momento entre a chegada da pílula no início dos anos 1960 e o início da Aids. Crescemos sem a competitividade incansável e a dependência do e-mail do mundo on-line. Fomos abençoados pelo nascimento tardio -depois da guerra de trincheiras da Europa- e o nascimento precoce -antes do declínio do Ocidente. Hoje é mais duro, mesmo que a dificuldade dos jovens modernos possa ser exagerada. Afinal, o problema é principalmente do Ocidente: os jovens indianos, indonésios e brasileiros têm muitos motivos para uma exuberância racional. Em toda parte, os jovens podem esperar vidas mais longas, em um mundo mais rico, de sociedades mais abertas e menos inclinadas à guerra -a não ser que as tendências das últimas décadas se revertam. O que eles não podem esperar e o que a minha geração teve tempo suficiente para saber, é algo cujo impacto emocional é difícil de avaliar: um mundo não mapeado. Há muito a se dizer sobre o mistério. Ele está diminuindo rapidamente agora que os satélites podem rastrear todos os seus movimentos e os aplicativos satisfazem todas as suas curiosidades. A pior recessão pode ser aquela do misterioso, porque quando ele desaparece o mesmo acontece com o apetite pelo risco. A segurança parece ser muitas vezes uma obsessão limitadora hoje em dia. Eu disse que o mundo se tornou mais aberto. De acordo com quase todas as medidas, isso é verdade: a União Soviética e seu império desapareceram e o livre fluxo de informação continua derrubando ditadores. Por outro lado, quando eu tinha 17 anos, fui de carro com dois amigos (mas sem guias) de Londres até Cabul, atravessando a Turquia, o Irã e o Afeganistão -uma viagem hoje impossível porque a República Islâmica está fechada para viajantes ocidentais e o Afeganistão está em guerra. Por essa medida pessoal, o mundo tornou-se mais fechado. E talvez a mente dos jovens esteja sob o risco de se tornar mais fechada -saturada pela informação das telas, mas cega para o que está na frente de seus olhos. A aversão ao risco e a atração pelo jogo da culpa parecem ser os dois frutos mais infelizes do avanço tecnológico. Um relatório que acaba de ser publicado pelo National Trust no Reino Unido revelou que menos de uma em cada dez crianças brinca habitualmente em meio à natureza, comparadas com quase a metade há uma geração, e que a metade não sabia a diferença entre uma abelha e uma vespa. Uma frase cunhada pelo escritor Richard Louv -"distúrbio de déficit de natureza"- também está circulando. Talvez seja um exagero ligar a morosidade juvenil à dependência das telas, o menor apetite pelo risco e a alienação do mundo natural. A geração baby boom hoje é bem conhecida como mal humorada, superprotetora de seus filhos e inclinada a atribuir todo problema aos jogos de computador. Muitas vezes derrotados pela tecnologia, tendemos a culpar a tecnologia. Ainda assim, sinto que os jovens poderiam arriscar mais, em vez de reclamar. Existe uma enorme disparidade no desemprego jovem entre o sul e o norte da Europa. A UE é um mercado único, portanto se poderia pensar que muitos jovens desempregados da Grécia e da Espanha rumariam para o norte em busca de emprego. Aparentemente não: é arriscado demais e uma viagem não mapeada para a "geração pé-frio".



LONDRES
Que pena dos jovens... Existem 5,5 milhões de pessoas de 15 a 24 anos sem emprego na União Europeia, um índice de 22,4%, contra 15% no início de 2008. Na Espanha e na Grécia, metade dos jovens está sem trabalho. Os empregos que conseguem encontrar são geralmente contratos de curto prazo.
A educação superior, que já foi gratuita na Europa, hoje pode custar muito, embora ainda menos que nos Estados Unidos. A habitação é cara o suficiente para ter criado uma "geração bumerangue" -jovens obrigados a voltar para a casa dos pais porque não conseguem se sustentar morando em outro lugar. O trabalho, quando se encontra, terá de ser por mais tempo, pois a idade de aposentadoria recua. Não admira que outro slogan circulando seja: "geração pé-frio".
Confesso: minha geração "baby boom" teve muita sorte: escapou das guerras de nossos antecessores, nasceu no meio de 30 anos de milagre econômico no pós-guerra, desfrutou o melhor momento entre a chegada da pílula no início dos anos 1960 e o início da Aids. Crescemos sem a competitividade incansável e a dependência do e-mail do mundo on-line. Fomos abençoados pelo nascimento tardio -depois da guerra de trincheiras da Europa- e o nascimento precoce -antes do declínio do Ocidente.
Hoje é mais duro, mesmo que a dificuldade dos jovens modernos possa ser exagerada. Afinal, o problema é principalmente do Ocidente: os jovens indianos, indonésios e brasileiros têm muitos motivos para uma exuberância racional. Em toda parte, os jovens podem esperar vidas mais longas, em um mundo mais rico, de sociedades mais abertas e menos inclinadas à guerra -a não ser que as tendências das últimas décadas se revertam.
O que eles não podem esperar e o que a minha geração teve tempo suficiente para saber, é algo cujo impacto emocional é difícil de avaliar: um mundo não mapeado. Há muito a se dizer sobre o mistério. Ele está diminuindo rapidamente agora que os satélites podem rastrear todos os seus movimentos e os aplicativos satisfazem todas as suas curiosidades. A pior recessão pode ser aquela do misterioso, porque quando ele desaparece o mesmo acontece com o apetite pelo risco. A segurança parece ser muitas vezes uma obsessão limitadora hoje em dia.
Eu disse que o mundo se tornou mais aberto. De acordo com quase todas as medidas, isso é verdade: a União Soviética e seu império desapareceram e o livre fluxo de informação continua derrubando ditadores. Por outro lado, quando eu tinha 17 anos, fui de carro com dois amigos (mas sem guias) de Londres até Cabul, atravessando a Turquia, o Irã e o Afeganistão -uma viagem hoje impossível porque a República Islâmica está fechada para viajantes ocidentais e o Afeganistão está em guerra.
Por essa medida pessoal, o mundo tornou-se mais fechado. E talvez a mente dos jovens esteja sob o risco de se tornar mais fechada -saturada pela informação das telas, mas cega para o que está na frente de seus olhos. A aversão ao risco e a atração pelo jogo da culpa parecem ser os dois frutos mais infelizes do avanço tecnológico.
Um relatório que acaba de ser publicado pelo National Trust no Reino Unido revelou que menos de uma em cada dez crianças brinca habitualmente em meio à natureza, comparadas com quase a metade há uma geração, e que a metade não sabia a diferença entre uma abelha e uma vespa. Uma frase cunhada pelo escritor Richard Louv -"distúrbio de déficit de natureza"- também está circulando.
Talvez seja um exagero ligar a morosidade juvenil à dependência das telas, o menor apetite pelo risco e a alienação do mundo natural. A geração baby boom hoje é bem conhecida como mal humorada, superprotetora de seus filhos e inclinada a atribuir todo problema aos jogos de computador. Muitas vezes derrotados pela tecnologia, tendemos a culpar a tecnologia.
Ainda assim, sinto que os jovens poderiam arriscar mais, em vez de reclamar. Existe uma enorme disparidade no desemprego jovem entre o sul e o norte da Europa. A UE é um mercado único, portanto se poderia pensar que muitos jovens desempregados da Grécia e da Espanha rumariam para o norte em busca de emprego. Aparentemente não: é arriscado demais e uma viagem não mapeada para a "geração pé-frio".

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