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RIO — Escolhido pela ONU como o tema principal da Rio+20, a Economia Verde vem sofrendo fortes críticas pela sociedade civil. Convidados do Seminário Diálogos para a Prática do Desenvolvimento Sustentável organizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) no dia 17 de abril, o vice-presidente sênior para as Américas da ONG Conservação Internacional, Fábio Scarano, o pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz Alexandre Pessoa, e o ambientalista e presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, debateram o tema.
Para Alexandre Pessoa, a Economia Verde pode se tornar uma armadilha para a mercantilização da vida. Ele criticou o Rascunho Zero das Nações Unidas, documento que servirá de base para as discussões na Rio+20, “centrado na economia e deixa à margem assuntos como a questão da saúde”:
— Saúde é muito mais do que se pensar em hospitais e doenças. Não adianta só falar em saúde global, é preciso entender que as comunidades do Rio de Janeiro ainda vivem numa realidade em que a diarreia $é um dos principais problemas porque falta saneamento. E alguém está pensando nisso?
Para o pesquisador, o atual modelo de desenvolvimento e de crescimento acelerado adotado no Brasil e no mundo tem provocado graves impactos socioambientais à saúde humana e ambiental:
— A Rio+20 deveria fazer uma profunda avaliação dos rumos da humanidade nos últimos 20 anos. A Economia Verde proposta pela ONU e pelas grandes corporações não parte $avaliação e apresenta uma proposta que deixa de lado questões centrais. Ela pode intensificar conflitos territoriais e gerar mais sofrimento, especialmente nas comunidades tradicionais e de baixa renda.
Pessoa afirmou que trabalhar na prevenção é mais barato do que tratar as doenças. Mas, segundo ele, “isso envolve interesses políticos e de corporações”.
— A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), por exemplo, está me processan$porque eu relaciono doenças desenvolvidas por moradores de Santa Cruz à instalação do complexo — disse.
Já Fábio Scarano apoia a escolha da Economia Verde como tema da Rio+20. Ele acredita que a discussão é pertinente e essencial para países como o Brasil, que tem 15% da água doce do mundo e é um dos maiores celeiros de biodiversidade do planeta. No entanto, segundo ele, o país já alterou 55% de suas florestas, perdeu mais da metade do bioma Cerrado e 88% da cobertura verde da Mata Atlântica. Com base nesses dados, Scarano, que é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, acredita que a atribuição de valores econômicos para a floresta seria um avanço para garantir a conservação de áreas verdes:
— A lógica que usamos hoje é: para melhorar o bem-estar das pessoas, acabamos com os recursos naturais. O crescimento do PIB brasileiro nos últimos dez anos se deu às custas de muita degradação. A economia verde traz a ideia de que o capital natural deve ser mantido, enquanto os outros três capitais, social, econômico e humano, crescem. É bem mais fácil dizê-lo do que fazê-lo.
Scarano citou como exemplo estados brasileiros onde a Conservação Internacional tem atuado. É o caso do Amapá, que tem 72% de seu território protegido, e do Amazonas, com 50%. Por outro lado, o vice-diretor da ONG lembrou que o país tem 60 milhões de hectares usados pelo setor agropecuário, com mé$de apenas uma cabeça de gado por hectare, que poderiam ser utilizados para outros fins, como conservação de florestas ou cultivo de alimentos.
Por fim, Scarano afirmou que 80% das hidrelétricas do país dependem de águas que se localizam em áreas de preservação ambiental.
— Quanto recebe a Reserva Chico Mendes pela água limpa que sai de lá e é usada por hidrelétricas? Nada. Isso tem que ser revisto e a Rio+20 é uma oportunidade de se fazer esses cálculos.
Já o presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, criticou o próprio surgimento da expressão Economia Verde, pois ele tem medo que ela substitua o termo desenvolvimento sustentável, surgido com o texto "Nosso Futuro Comum", em 1987 e que precisou desse tempo todo para se tornar conhecido:
— Temos que dar poder ao conceito desenvolvimento sustentável. Se não, melhor explodi-lo. A Economia Verde é um termo inventado por burocratas da ONU. É como um cavalo de troia. Muito bonita por fora, mas ninguém sabe o que tem dentro — brincou, defendendo, em seguida, um protagonismo brasileiro na Rio+20: — O Brasil poderia ousar mais, se tornar líder em propostas ambientais, a estrutura da ONU está falida.
Vieira não acredita em acordos na Rio+20, já que, para mudar a lógica econômica, seria necessário mudar padrões de produção e consumo mundiais.
Para Alexandre Pessoa, a Economia Verde pode se tornar uma armadilha para a mercantilização da vida. Ele criticou o Rascunho Zero das Nações Unidas, documento que servirá de base para as discussões na Rio+20, “centrado na economia e deixa à margem assuntos como a questão da saúde”:
— Saúde é muito mais do que se pensar em hospitais e doenças. Não adianta só falar em saúde global, é preciso entender que as comunidades do Rio de Janeiro ainda vivem numa realidade em que a diarreia $é um dos principais problemas porque falta saneamento. E alguém está pensando nisso?
Para o pesquisador, o atual modelo de desenvolvimento e de crescimento acelerado adotado no Brasil e no mundo tem provocado graves impactos socioambientais à saúde humana e ambiental:
— A Rio+20 deveria fazer uma profunda avaliação dos rumos da humanidade nos últimos 20 anos. A Economia Verde proposta pela ONU e pelas grandes corporações não parte $avaliação e apresenta uma proposta que deixa de lado questões centrais. Ela pode intensificar conflitos territoriais e gerar mais sofrimento, especialmente nas comunidades tradicionais e de baixa renda.
Pessoa afirmou que trabalhar na prevenção é mais barato do que tratar as doenças. Mas, segundo ele, “isso envolve interesses políticos e de corporações”.
— A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), por exemplo, está me processan$porque eu relaciono doenças desenvolvidas por moradores de Santa Cruz à instalação do complexo — disse.
Já Fábio Scarano apoia a escolha da Economia Verde como tema da Rio+20. Ele acredita que a discussão é pertinente e essencial para países como o Brasil, que tem 15% da água doce do mundo e é um dos maiores celeiros de biodiversidade do planeta. No entanto, segundo ele, o país já alterou 55% de suas florestas, perdeu mais da metade do bioma Cerrado e 88% da cobertura verde da Mata Atlântica. Com base nesses dados, Scarano, que é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, acredita que a atribuição de valores econômicos para a floresta seria um avanço para garantir a conservação de áreas verdes:
— A lógica que usamos hoje é: para melhorar o bem-estar das pessoas, acabamos com os recursos naturais. O crescimento do PIB brasileiro nos últimos dez anos se deu às custas de muita degradação. A economia verde traz a ideia de que o capital natural deve ser mantido, enquanto os outros três capitais, social, econômico e humano, crescem. É bem mais fácil dizê-lo do que fazê-lo.
Scarano citou como exemplo estados brasileiros onde a Conservação Internacional tem atuado. É o caso do Amapá, que tem 72% de seu território protegido, e do Amazonas, com 50%. Por outro lado, o vice-diretor da ONG lembrou que o país tem 60 milhões de hectares usados pelo setor agropecuário, com mé$de apenas uma cabeça de gado por hectare, que poderiam ser utilizados para outros fins, como conservação de florestas ou cultivo de alimentos.
Por fim, Scarano afirmou que 80% das hidrelétricas do país dependem de águas que se localizam em áreas de preservação ambiental.
— Quanto recebe a Reserva Chico Mendes pela água limpa que sai de lá e é usada por hidrelétricas? Nada. Isso tem que ser revisto e a Rio+20 é uma oportunidade de se fazer esses cálculos.
Já o presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, criticou o próprio surgimento da expressão Economia Verde, pois ele tem medo que ela substitua o termo desenvolvimento sustentável, surgido com o texto "Nosso Futuro Comum", em 1987 e que precisou desse tempo todo para se tornar conhecido:
— Temos que dar poder ao conceito desenvolvimento sustentável. Se não, melhor explodi-lo. A Economia Verde é um termo inventado por burocratas da ONU. É como um cavalo de troia. Muito bonita por fora, mas ninguém sabe o que tem dentro — brincou, defendendo, em seguida, um protagonismo brasileiro na Rio+20: — O Brasil poderia ousar mais, se tornar líder em propostas ambientais, a estrutura da ONU está falida.
Vieira não acredita em acordos na Rio+20, já que, para mudar a lógica econômica, seria necessário mudar padrões de produção e consumo mundiais.
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