2 de novembro de 2012

Por uma Política de Estado para a Educação, Jorge Werthein


 
 

Unesco defende pacto supra-partidário para a educação

31 de agosto de 2004  
Construir um pacto nacional para transformar a educação em prioridade no Brasil. Esta é a proposta do representante da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil, Jorge Werthein. "Nossa postura, no Brasil, é de que a educação não deve ser só importante, tem de ser prioridade", alerta Werthein.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil , o representante da Unesco, que é doutor em Educação pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, revela que pretende mobilizar os partidos brasileiros em prol de um compromisso com a sociedade de implementar uma política de Estado para educação. Segundo Werthein, a intenção é inserir na pauta de discussões de senadores e deputados, independente de partidos políticos, a valorização da educação como capital social para o desenvolvimento do país.
Durante a conversa, ele contrasta a atual situação da educação brasileira com outros países que tiveram as mesmas condições que o Brasil na metade do século XX e que optaram por investir na educação como rota para o crescimento sustentado. Foi o caso de Espanha, Irlanda, Malásia e Coréia do Sul. "Eles compreenderam que o conhecimento é o capital mais importante. A única maneira de conseguir esse capital era através da educação, da ciência, através de investimentos importantes", explicou.
Leia a íntegra da entrevista: O escritório da Unesco no Brasil é um dos mais atuantes da organização em todo o mundo. Agora ocorre a idéia de colocar a educação como uma plataforma suprapartidária. Qual é o contexto dessa iniciativa no país?
Jorge Werthein - Existe algo que é fundamental, porque estamos num momento da história do Brasil e do mundo, em que há um consenso geral de que o capital mais importante é o conhecimento. E como se constrói o conhecimento? Constrói-se por meio da educação, oferecendo acesso à toda população a aquisição desse conhecimento. Isso significa basicamente, fundamentalmente educação. A educação, mais que nunca, tem um papel fundamental em um país como o Brasil e em países em desenvolvimento. Eles precisam urgentemente concentrar energias, esforços e recursos para melhorar significativamente a educação de seu povo.
Como enfrentar esse problema?
Werthein - Quando falamos de situações mais contemporâneas, falamos de Espanha, República da Irlanda, Malásia, Cingapura, Coréia do Sul. Países que nos últimos 30 ou anos promoveram uma revolução muito grande em suas estruturas sociais, econômicas e políticas. Eles tomaram uma decisão prioritária, que foi de investir maciçamente na educação e ciência. Compreenderam que era o conhecimento o capital mais importante e que deviam ter esse capital.
O que aconteceu em todos esses lugares?
Werthein - Houve um pacto nacional em que todas as forças políticas buscaram uma decisão única. O pensamento foi: "se não tiver investimentos, prioridade na educação e ciência para os próximos 30, 40 ou 50 anos, não vamos poder crescer, não vamos nos desenvolver, não vamos poder democratizar nossa sociedade e não vamos poder ser um ator importante no contexto internacional". Fizeram um pacto com os partidos políticos, tomaram essa decisão e converteram as políticas educacionais e de ciência e tecnologia em política de Estado.
Há uma diferença muito grande. Implantar não só a política de ministro ou de governo, mas uma política de Estado para os próximos 30, 40 ou 50 anos, que deve ser respeitada pelos partidos políticos quando assumem. Isso significa que a educação não tem que ser importante, deve ser prioritária. Hoje a educação não é prioritária em vários países da América Latina. Se não for prioritária nesses países, incluindo o Brasil, não vamos poder superar as limitações.
Um pacto com a sociedade e os partidos envolve um processo de negociação. Como isso será feito? 
Werthein - Estamos fazendo encontros e discussões tremendamente positivas, muito boas onde há um consenso total. Tenho conversado com lideranças no Senado. Escolhemos primeiro o parlamento, porque é um local privilegiado para começar essas conversações. Dentro do parlamento decidimos começar com os líderes dos partidos políticos representados no Senado.
O próximo encontro será com os líderes dos partidos políticos da Câmara. O terceiro passo é um encontro dos presidentes dos partidos políticos. Vamos construindo, por meio do parlamento, esse consenso. Vamos preparar todos os temas consensuais nos encontros preliminares com os parlamentares. Depois, vamos gerar os encontros dos partidos. Isso está lançado e estou muito contente com a receptividade no Senado e com algumas conversas que já tive com partidos políticos também.
Eles consideraram um consenso total de que é importante; e deve passar de importante a prioritário. É fundamental a construção de um pacto nacional. Se conseguirmos isso, o Brasil vai ser o único país da América Latina contemporânea, que conseguiu definir algo que foi estabelecido por outros países há 30 ou 40 anos e que foram experiências exitosas.
Agência Brasil

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