SÃO PAULO - Governos vivem de aplausos, já problemas reais dependem de soluções efetivas para ser solucionados. Como a população tende a reconhecer quando uma dificuldade é resolvida e aclamar o responsável, a democracia às vezes funciona como deveria. Só que há inúmeros casos em que ocorre uma dissociação entre obter a aprovação e resolver o problema. É nesse território que prospera a demagogia.
Receio que a proposta do governo de elevar para 10% do PIB a fatia dos investimentos em educação satisfaça mais aos pendores demagógicos da administração do que às reais necessidades do país. É que, por razões que não cabe aqui analisar, a ideia de gastarmos pouco com o sistema de ensino se tornou uma daquelas verdades axiomáticas, que poucos ousam discutir. Meu amigo Gustavo Ioschpe é um dos que não têm medo de ir contra dogmas e consensos.
No excelente "O Que o Brasil Quer Ser Quando Crescer", Ioschpe, sempre amparado em dados empíricos de difícil refutação, mostra que simplesmente não é verdade que o país destina poucos recursos à educação.
Considerados todos os níveis de ensino, o Brasil investe 4,4% do PIB contra 4,9% da média da OCDE, que pode ser definida como o clube dos países mais ricos do planeta. Mais do que isso, já gastamos mais do que Japão, Irlanda e Coreia do Sul, três nações com sistemas de excelência.
Nosso problema, assim, não é tanto o nível de investimento e muito mais os péssimos resultados que obtemos para o dinheiro que já colocamos no setor. O resto do livro mostra quais são nossos erros mais comuns e traz ideias de como resolvê-los.
Pessoalmente, acho que poderíamos gastar um pouco mais. Se somarmos as verbas para educação e ciência, 7% seria algo razoável. O fato, contudo, é que, se não tivermos um plano coerente e testado de como utilizar esses recursos, estaremos jogando fora uma fatia nada desprezível das riquezas do país.
Folha de SP, 29/12/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário