O ano de 2012 termina com o país apresentando seu menor índice de desemprego da história, os turistas brasileiros gastando 20 bilhões de dólares no exterior, a desigualdade diminuindo e o salário médio do trabalhador subindo.
Quase tudo permitiria fazer do último artigo do ano um momento de celebração. Mas, ao invés de um tradicional Feliz Ano Novo, é mais correto alertar para os riscos adiante.
A inflação mostra sinais de sair do controle. A taxa seria ainda maior se não fossem as medidas artificiais de controle de preços, que não podem durar muito, e vão cobrar um preço alto quando se esgotarem como, por exemplo, a repressão ao preço do combustível, que desequilibra financeiramente a Petrobrás.
Cabe alertar que a inflação sobre os bens de consumo das camadas mais pobres, em quase 8% este ano, reduz substancialmente os resultados da Bolsa Família e os aumentos no Salário Mínimo.
O reduzido desempenho do PIB tem características estruturais que dificilmente serão superadas de maneira estável, se a economia não for capaz de fazer duas inflexões.
Primeira, mudar a exagerada preferência pelo consumo que sacrifica a poupança. O Brasil consumidor de hoje inibe a taxa de crescimento no futuro, por falta de poupança. Esta falta de poupança está vinculada não apenas à preferência pelo consumo, mas também à falta de oportunidades de investimento nos setores mais dinâmicos da economia moderna.
Por isso, a segunda inflexão é desenvolver a capacidade de inovação para a economia brasileira oferecer oportunidades, no setor de produtos de alta tecnologia, o que exige uma revolução educacional ainda não iniciada, nem mesmo anunciada em 2012.
É necessário alertar para o aumento nos gastos públicos que seguirão pressionando ainda mais o risco de elevação da inflação.
Como se não bastassem os alertas sobre a economia, o Brasil precisa ver outros riscos adiante.
O ano começa com enfrentamento entre os poderes: o Poder Executivo demonstra cada vez mais seu poder hegemônico, desrespeitando o Congresso Nacional que, subserviente, aceita aprovar tudo que o governo determina, e acumula 3.060 vetos presidenciais sem votação; o STF tomando medidas que se contrapõem à vontade do Congresso que, por incompetência, inapetência ou descuido para legislar de forma clara, dá a Justiça o poder e a obrigação de interpretar a Constituição, legislando porque os congressistas não legislam.
Não por nossa vontade, poderemos enfrentar a perda de mercados externos dos nossos produtos, majoritariamente primários, pela crise econômica mundial ou por fenômenos naturais, afetando a estabilidade monetária, o crescimento da economia e mesmo a sustentabilidade e a eficiência dos programas sociais.
O ano de 2012 faz parte de um ciclo de 20 anos de contínuo avanço, mas é preciso alertar que os pilares deste período estão a se esgotar.
Por isso, ao lado da celebração do ano que termina, precisamos alertar para o futuro que começa em 2013.
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF
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