20 de dezembro de 2012

11% dos universitários do país estão na 2ª graduação



Conclusão é do Censo de 2010; descontentamento com carreira é uma hipótese
Apesar disso, apenas 10,8% dos jovens com mais de 25 anos tinham completado o ensino superior até 2010
PEDRO SOARESVENCESLAU BORLINA FILHODO RIO,Folha de S.Paulo
Concluir um curso de nível superior é para uma minoria no Brasil, mas um grupo ainda mais seleto (10,8% do total dos estudantes matriculados no país) voltou para as universidades, segundo dados inéditos do Censo de 2010 do IBGE.
Os alunos que buscavam sua segunda graduação eram, em geral, mais velhos -o percentual chegava a 30,1% entre as pessoas com mais de 40 anos- e estudavam mais em instituições públicas, onde 13,2% dos estudantes já tinham frequentado curso de nível superior.
Não havia, porém, diferença significativa entre homens e mulheres, apesar de elas estarem mais presentes em cursos universitários.
O IBGE não indagou os motivos que levaram os alunos a voltar à faculdade, mas as hipóteses são o descontentamento com a carreira profissional escolhida, a exigência do trabalho atual ou mesmo novas oportunidades de emprego.
"Como mais estudantes ocupados já tinham concluído o curso de graduação, isso sugere que o mercado de trabalho também proporciona o retorno à universidade", diz Vandeli Guerra, técnica do IBGE.
Apesar do avanço nos últimos anos, só 10,8% dos jovens com mais de 25 anos tinham completado o ensino superior até 2010 -eram 6,8% em 2000.
No outro extremo, 49,3% não tinham o ensino fundamental completo -em 2000, esse percentual era de 64%.
O IBGE pesquisou ainda os tipos de cursos procurados e o maior número de formados era das áreas de ciências sociais, negócios e direito (38,4%), seguidas pela área de educação (20,2%).
DESLOCAMENTO
Com a menor oferta de cursos superiores, sobretudo em municípios menores, mais pessoas saíam das cidades onde viviam para estudar.
No caso dos cursos de graduação, o índice chegava a 29,2%. Já em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, quase um terço (32,6%) vivia em outras cidades.
Na média, dos 59,6 milhões de alunos do país (em todos os níveis da educação formal), 7,2% (ou 4,3 milhões de pessoas) faziam o curso fora do município onde moravam e se deslocavam para poder frequentar as aulas.


ANÁLISE
Conteúdo do ensino superior está amarrado à profissionalização
ANTONIO FREITASESPECIAL PARA A FOLHA, 20/12/2012
AO INGRESSAR NO ENSINO SUPERIOR, aluno BRASILEIRO DEIXA DE LADO A FORMAÇÃO MAIS ABRANGENTE
Pela primeira vez o IBGE identificou que 11% dos universitários já tinham outro diploma de curso superior e buscaram um segundo diploma, talvez pela inadequação do sistema universitário brasileiro, em que o aluno tem que fazer escolhas prematuras sobre profissões, eventualmente, dissociadas do mercado de trabalho.
A adequação desses profissionais ao mercado de trabalho, quase sempre, vem de cursos de pós-graduação lato ou stricto sensu.
A relevância do conteúdo do ensino superior no Brasil está amarrada na decisão pregressa de que a educação superior existe para oferecer educação profissional, isto é, a profissionalização precoce.
Logo, desde o ensino médio, com uma evasão superior a 50%, inicia-se um processo de restrição da visão do mundo das gerações futuras, tornando-se candidatos à profissão antes de serem candidatos ao saber.
Ao ingressarem nas instituições de ensino superior, tendo vindo do ensino básico, em geral, de péssima qualidade, salvo as exceções de elite, os estudantes brasileiros orientam-se para uma matriz profissionalizante, deixando de lado uma formação mais abrangente, humanística, histórica, social, enfim, a educação verdadeira.
E o que acontece com os que não chegam ao ensino superior? Lotam as cadeias, ficam subempregados ou dependentes da caridade dos governos.
É um crime não cumprir a Constituição oferecendo educação de qualidade a todos os brasileiros. Quantos Joaquim Barbosa, Villa-Lobos, Oscar Niemeyer e tantos outros brasileiros, com igual potencial, são abandonados no meio do caminho?

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