26 de dezembro de 2012

MATIAS SPEKTOR O que nasce em 2013 Se a hegemonia americana fica para trás, quais parâmetros organizarão a política externa brasileira? Se você fizer uma busca rápida na internet pelas melhores coisas escritas sobre política internacional nos últimos 12 meses, verá que o ano foi quase monotemático. Comentaristas e acadêmicos de renome os mais diversos chegaram a uma conclusão comum: mesmo em posse de poder inigualável, os EUA não controlam mais o ordenamento global, nem podem aspirar a fazê-lo no futuro próximo. Você pensará que nada disso é novidade: da Guerra do Vietnã às revoltas árabes, a capacidade americana de mandar no mundo declina há décadas. Mas as análises de 2012 trazem algo de novo que merece atenção. O problema não é o declínio conjuntural dos EUA, que poderá ser revertido quando a crise econômica amainar e os erros autoinfligidos no Iraque e no Afeganistão virarem coisas do passado. O ponto é que, mesmo num cenário de recuperação, seria impossível para Washington restaurar a hegemonia de outrora. Em parte, isso ocorre porque as novas tecnologias dificultam todo tipo de imposição (mesmo que os EUA tenham renovado sua vantagem competitiva com veículos não tripulados e guerra cibernética). Em parte, acontece porque a região do mundo mais aliada aos EUA declina -a Europa. A região que mais se fortalece -Ásia- ainda não oferece alianças tão confiáveis. E a hegemonia tem pouca chance porque, mesmo sendo eficiente para lidar com questões simples, é tosca para resolver problemas complexos, tais como mudança do clima ou proliferação nuclear. Se essas avaliações de 2012 estiverem corretas, então é bom no Brasil estudarmos o tema com atenção. Afinal, nossa política externa tem sido desenhada para responder à hegemonia americana. A sociedade brasileira desenvolveu dois modelos básicos. Na primeiro, o Brasil adere às instâncias de governança controladas pelos EUA -pense em Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial de Comércio, Banco Mundial, Conselho de Segurança da ONU. Reza a lógica que participando desses foros haveria alguma chance de moldar as regras do jogo em benefício próprio. No segundo modelo, o Brasil é mais defensivo. Tem um pé na governança inventada pelos EUA e outro fora, usando para esse fim grupos como G77, G20, Unasul, Brics e Ibas. Sem presença americana, esses foros ajudariam a diluir o poder americano, funcionando como escudo, mas também como alavanca para barganhar com Washington. Apesar das diferenças entre as duas visões, ambas trabalham com a premissa comum de que os EUA exercem hegemonia. Por isso uma pergunta crucial se coloca: se a era da hegemonia americana está ficando para trás, quais parâmetros alternativos devem organizar a política externa brasileira? Esta é a melhor hora para buscar respostas. A mudança do ambiente externo coincide com a maior transformação da sociedade brasileira em gerações. Isso nos dá latitude inédita para pensar com criatividade qual política externa queremos para os próximos anos.


Se a hegemonia americana fica para trás, quais parâmetros organizarão a política externa brasileira?

Se você fizer uma busca rápida na internet pelas melhores coisas escritas sobre política internacional nos últimos 12 meses, verá que o ano foi quase monotemático.
Comentaristas e acadêmicos de renome os mais diversos chegaram a uma conclusão comum: mesmo em posse de poder inigualável, os EUA não controlam mais o ordenamento global, nem podem aspirar a fazê-lo no futuro próximo.
Você pensará que nada disso é novidade: da Guerra do Vietnã às revoltas árabes, a capacidade americana de mandar no mundo declina há décadas.
Mas as análises de 2012 trazem algo de novo que merece atenção.
O problema não é o declínio conjuntural dos EUA, que poderá ser revertido quando a crise econômica amainar e os erros autoinfligidos no Iraque e no Afeganistão virarem coisas do passado.
O ponto é que, mesmo num cenário de recuperação, seria impossível para Washington restaurar a hegemonia de outrora.
Em parte, isso ocorre porque as novas tecnologias dificultam todo tipo de imposição (mesmo que os EUA tenham renovado sua vantagem competitiva com veículos não tripulados e guerra cibernética).
Em parte, acontece porque a região do mundo mais aliada aos EUA declina -a Europa. A região que mais se fortalece -Ásia- ainda não oferece alianças tão confiáveis.
E a hegemonia tem pouca chance porque, mesmo sendo eficiente para lidar com questões simples, é tosca para resolver problemas complexos, tais como mudança do clima ou proliferação nuclear.
Se essas avaliações de 2012 estiverem corretas, então é bom no Brasil estudarmos o tema com atenção.
Afinal, nossa política externa tem sido desenhada para responder à hegemonia americana. A sociedade brasileira desenvolveu dois modelos básicos.
Na primeiro, o Brasil adere às instâncias de governança controladas pelos EUA -pense em Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial de Comércio, Banco Mundial, Conselho de Segurança da ONU. Reza a lógica que participando desses foros haveria alguma chance de moldar as regras do jogo em benefício próprio.
No segundo modelo, o Brasil é mais defensivo. Tem um pé na governança inventada pelos EUA e outro fora, usando para esse fim grupos como G77, G20, Unasul, Brics e Ibas. Sem presença americana, esses foros ajudariam a diluir o poder americano, funcionando como escudo, mas também como alavanca para barganhar com Washington.
Apesar das diferenças entre as duas visões, ambas trabalham com a premissa comum de que os EUA exercem hegemonia.
Por isso uma pergunta crucial se coloca: se a era da hegemonia americana está ficando para trás, quais parâmetros alternativos devem organizar a política externa brasileira? Esta é a melhor hora para buscar respostas.
A mudança do ambiente externo coincide com a maior transformação da sociedade brasileira em gerações.
Isso nos dá latitude inédita para pensar com criatividade qual política externa queremos para os próximos anos.
Folha de SP. 26/12/2012

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