25 de dezembro de 2012 | 2h 05
O Estado de S.Paulo
Notícia boa sobre o trânsito é coisa rara. Mais rara ainda quando ela se refere especificamente a vítimas de acidentes. Com mais de 40 mil mortos por ano, o Brasil está entre os campeões do morticínio no trânsito em todo o mundo. Daí a importância dos dados da CET sobre a redução do número de motociclistas mortos em acidentes na capital paulista, cidade que tem a maior frota de veículos, inclusive motos, do País. A queda foi de 16,2%, ou de 395 para 331, em números absolutos, entre janeiro e setembro deste ano em comparação a igual período de 2011.
Esta queda, a primeira desde 2008, é atribuída pela CET a duas razões principais - a redução da velocidade máxima para todos os veículos, estabelecida em 60 km/h há dois anos, e o aumento da fiscalização das motos. Com os demais veículos andando a uma velocidade menor, os motociclistas tendem a fazer o mesmo, o que leva a uma diminuição tanto do número de acidentes em que eles se envolvem como do de vítimas fatais. O gerente de Planejamento da CET, Irineu Grecco Filho, lembra que isso começou a ser observado quando se reduziu a velocidade na Avenida 23 de Maio.
O especialista em trânsito Horácio Augusto Figueira concorda com a relação entre velocidade mais baixa e queda do número de mortos, inclusive porque o impacto menor dá mais possibilidade de sobrevivência às vítimas. Mas faz uma sugestão, que a CET faria bem em aceitar, para ajudar a compreender melhor a questão - fazer novos estudos para determinar se os acidentes estão caindo de maneira geral ou apenas aqueles mais graves que resultam em mortes.
Outra sugestão, feita por Grecco Filho, é reduzir a velocidade permitida para a circulação das motos entre os carros, quando eles estão parados ou andando devagar. Nada mais natural que exigir dos motociclistas comportamento semelhante ao dos motoristas de carros. A viabilidade dessa medida depende da fiscalização.
O aumento do rigor da fiscalização é justamente a outra razão que explica a redução do número de motociclistas mortos. Para a CET, existe mais uma relação de causa e efeito do que uma simples coincidência no fato de as mortes terem diminuído depois que ela passou a utilizar radares apropriados para flagrar motociclistas em excesso de velocidade. Desde março, quando esses radares especiais - os portáteis e outros instalados, em sistema de rodízio, em 65 pontos da cidade - começaram a funcionar, foram aplicadas 35 mil multas.
O caso da fiscalização é particularmente importante para mostrar como as autoridades de trânsito acordaram tarde para a necessidade de tratar com maior rigor os motociclistas, apesar da notória imprudência com que a maioria deles se conduz, realizando manobras perigosas. Embora eles sejam as principais vítimas, não se pode esquecer de que os acidentes geralmente envolvem motoristas de carro. O comportamento irresponsável desses motociclistas afeta assim todo o trânsito.
Existem hoje na capital 957 mil motos. Elas representam mais de 11% da frota de veículos e os motociclistas se envolvem em cerca de 30% dos acidentes fatais, mas só 4% das autuações de trânsito os atingiam, antes do aperto na fiscalização. Apesar desses números gritantes, a Prefeitura por muito tempo tratou com descaso o problema da fiscalização dos motociclistas, embora nunca tenha medido esforços nem recursos para montar um sofisticado sistema destinado a multar carros, por meio do qual carreia centenas de milhões de reais todos os anos para seus cofres.
Esse problema só tende a se agravar, porque a frota de motos aumenta cada vez mais, o que está ligado à mudança do perfil de seus usuários. Embora o motoboy ainda seja uma figura marcante, vem crescendo o número de paulistanos que escolhem a moto como meio de transporte. E não por acaso 90% dos motociclistas mortos no ano passado pertenciam a esse grupo.
Por tudo isso, agora que as autoridades colhem os primeiros frutos de sua mudança de atitude com relação ao problema, é de esperar que continuem nesse caminho.
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