BRASÍLIA - Em contraponto assumido aos números débeis do PIB, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada decidiu investigar a felicidade dos brasileiros. Os achados parecem consistentes e o tema tem lá sua graça e sua pertinência, mas é inevitável lembrar que o Ipea é vinculado ao Palácio do Planalto.
Os entrevistados deram nota média de 7,1 para suas vidas, resultado compatível com os apurados em questionários do instituto Gallup nos últimos anos. Em um ranking global que vai da Dinamarca (nota 8) ao Togo (3), o Brasil aparece entre os países mais felizes do mundo, em patamar semelhante aos de Espanha, França, Alemanha, Porto Rico, Arábia Saudita e Turcomenistão.
Até aí, muito interessante. E daí, tudo fica mais nebuloso.
É plausível que a felicidade declarada tenha relação com medidas objetivas de bem-estar como renda, emprego, saúde e segurança -mais influências culturais e emocionais tão diferentes quanto valores, religião, artes, clima, a hora do dia e a simpatia do entrevistador.
Detalhar a primeira parte já é impossível o bastante para os recursos estatísticos à disposição da ciência econômica; a segunda é muita areia para o caminhão da nossa vã filosofia. Não é à toa que as tentativas de teorizar sobre os dados, aqui e lá fora, soam penosas, assim como os estudos para substituir o bom e velho PIB por um indicador capaz de medir a realização existencial coletiva.
O comunicado do Ipea se aventura a relacionar a felicidade nacional à fartura de vagas no mercado de trabalho. Mas a Espanha, recordista em desemprego, é mais feliz que o Japão, cujas taxas são melhores do que as daqui (uma Copa do Mundo e duas Eurocopas devem ajudar). E vá explicar por que o Nordeste é a região mais satisfeita do país, e o Sudeste, a menos -ou formular políticas públicas a partir de tal informação.
Uma tarefa, quem sabe, para o 40º ministério do Brasil.
Folha de S.Paulo, 21/12/2012
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