20 de abril de 2013

A nova fase do ensino online


Carta Capital, 20/4/2013


Aos 22 anos, funcionária da IBM, a paulistana Rayssa Küllian coleciona 20 cursos a distância


Daphne Koller, uma das criadoras do Coursera


"A educação nunca mais será a mesma' diz Agarwal
Sem fronteiras

O sucesso dos MOOCs, cursos em larga escala na internet

POR TORY OLIVEIRA

"Bom dia , boa tarde ou boa noite, onde quer que você esteja." E assim que Larry Diamond, professor de Sociologia e Política da Universidade de Stanford, inicia a primeira aula do curso Desenvolvimento Democrático. Oferecida por uma instituição de ensino de prestígio, a aula é inteiramente gratuita e aberta, sem pré- -requisito para a matrícula ou cobrança de mensalidade. Também não é preciso se deslocar até o estado da Califórnia para assistir às aulas. O curso de dez semanas é feito por meio de videoaulas, leituras obrigatórias, discussões com colegas e resolução de exercícios - tudo online, sem chamada ou hora certa - por meio da plataforma Coursera. O curso é um dos 328 Massive Open Online Courses (MOOCs) disponíveis na plataforma. MOOCs ou "cursos abertos para massas", em tradução literal, são programas de ensino desenhados para atender a milhares de estudantes simultaneamente, usando em parte estratégias emprestadas de redes sociais.
Embora o ensino online não seja novidade, os MOOCs têm agitado o mundo acadêmico, em parte por causa dos seus números e alcance astronômicos. Em pouco mais de um ano, o Coursera atraiu 2,9 milhões de usuários registrados, de 220 países diferentes. Os alunos dos Estados Unidos lideram (27%), mas países em desenvolvimento como a índia e o Brasil aparecem em seguida, com 8% e 5% dos estudantes, respectivamente. O convênio com 62 universidades renomadas de 17 países também ajuda a explicar o entusiasmo dos estudantes. Ciências exatas, tecnologia e engenharia compõem grande parte dos cursos disponíveis, mas é possível assistir a aulas incomuns como Cinema e Televisão Escandinavos, da Universidade de Copenhague. Instituições como Stanford, Princeton e Duke, entre outras, também participam da iniciativa.
Professora do Departamento de Ciências da Computação de Stanford, Daphne Koller é cocriadora do Coursera ao lado de Andrew Ng, diretor do Laboratório de Inteligência Artificial na mesma universidade. Fruto do trabalho dos dois pesquisadores, o Coursera foi criado em 2011 e passou a operar formalmente em abril de 2012. A empresa funciona em parceria com as universidades: a plataforma oferece a tecnologia para operacionalizar as aulas e as instituições de ensino fornecem o conteúdo.
Em apenas um ano, o número de alunos e de universidades participantes explodiu. "Acho que foi a combinação do design certo, com a pedagogia e a tecnologia certas." Para Daphne, o Coursera aproveitou uma demanda crescente por educação de qualidade, especialmente em países em desenvolvimento. O aumento do consumo de informações e da interação na rede da última década também ajudou na aceitação do projeto.
É o caso de Rayssa Küllian, paulistana de 22 anos que trabalha na área de Tecnologia da Informação na IBM. Programadora desde os 12 anos, Rayssa já se inscreveu em 20 cursos online, dos quais concluiu quatro, todos em sua área de atuação. "Eles proporcionam uma diferença inalcançável até então, que é o contato com professores e alunos de universidades como Stanford ou Princeton", conta.
"A educação superior é um modelo muito caro, porém cada vez mais essencial para um estilo de vida produtivo e confortável. Novos modelos de ensino-aprendizagem baseados em tecnologia estão permitindo que grandes populações no mundo todo acessem educação de qualidade a um custo relativamente baixo", conta Chris Dede, pesquisador de tecnologias educacionais da Universidade Harvard. Entretanto, Dede aponta alguns desafios, como a baixa taxa de retenção dessas experiências massivas de aprendizado, cujas aulas são organizadas por um pequeno número de professores e especialistas. Apesar dos números astronômicos de participação, as taxas de conclusão não costumam ultrapassar 15%.
Os números do edX, outra plataforma de ensino online, são semelhantes aos do Coursera. Cerca de 800 mil alunos fazem aulas no edX, dos quais 23 mil são brasileiros. O projeto é criação do indiano Anant Agarwal, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que expôs o modelo para 800 educadores e empresários brasileiros no começo do mês. "A educação nunca mais será a mesma", aposta.
Agarwal acredita que o crescimento e aprimoramento dos MOOCs levarão ao fim as aulas tradicionais expositivas. Nas universidades de ponta do futuro, imagina ele, as pessoas estarão imersas em modelos de aprendizagem híbridos, assistindo a aulas e resolvendo exercícios em casa ou em seus dormitórios e indo fisicamente para a universidade apenas para discutir o tema com pequenos grupos ou com o professor.
Somente no primeiro curso online oferecido, ministrado pelo próprio Agarwal, 155 mil alunos se inscreveram e 7,2 mil foram aprovados. De acordo com os cálculos do professor, o MIT levaria 35 anos para formar esse mesmo contingente na disciplina. As contas batem com as projeções da Unesco. Atualmente, 165 milhões de pessoas estão matriculadas no Ensino Superior, porém, para atender aos alunos emergentes, seria necessário criar quatro novas universidades por semana, durante 15 anos. Os MOOCs poderiam equacionar esse problema. "O edX está democratizando completamente a educação, pois não importa sua formação, dinheiro, nacionalidade, religião ou raça. Você pode cursar, fazer os testes e receber um certificado no final", afirma Agarwal.
Um dos maiores entraves para os MOOCs no Brasil ainda é a língua. Grande parte das aulas é ministrada em inglês, o que barra a participação efetiva dos brasileiros não fluentes no idioma. O País, porém, está na mira das empresas responsáveis por operacionalizar os cursos. Alguns cursos no Coursera já têm legendas em português, traduzidas voluntariamente por usuários.
No caso do edX, o próximo passo é a abertura do código da plataforma. Isso significa que, a partir de 10 de junho, qualquer universidade, empresa ou indivíduo poderão utilizar e modificar o software para veicular seu próprio conteúdo, inteiramente de graça.
O COURSERA MANTÉM CONVÊNIO COM 62 UNIVERSIDADES RENOMADAS EM 17 PAÍSES. EM UM ANO, ATRAIU 2,9 MILHÕES DE USUÁRIOS REGISTRADOS. DOS ALUNOS, 27% VIVEM NOS EUA, 8% NA ÍNDIA E 5% NO BRASIL. O edX, QUE SEGUE OUTRO MODELO, TEM ATUALMENTE 800 MIL ESTUDANTES

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