INCLUSÃO |
Proporção se refere aos estudantes que fizeram vestibular de 2013; em relação ao nº de matrículas, eles representam 28,5% do total
Paulo Saldaña, Estado de S.Paulo
Apenas 7,7% dos candidatos de escola pública que fizeram o vestibular da Fuvest conseguiram entrar na Universidade de São Paulo (USP) em 2013, o que representa uma queda em relação ao ano anterior, quando 8,36% desse grupo foi aprovado. No total, os oriundos da rede pública representam neste ano 28,5% do total de ingressantes. O porcentual mostra pouco avanço sobre o ano anterior em 2012, o índice era de 28%.
Após os resultados, a USP estuda alterar sua política de bonificação.O retrato dos ingressantes está longe de refletir a realidade da educação do País, que tem 85%dos estudantes de ensino médio em escolas públicas.
"Foi um bom resultado, mas não estou satisfeita. Esperava que (o porcentual)aumentasse", disse a pró-reitora de Graduação, Telma Zorn. A USP ofereceu 10.982 vagas em 2013.
O resultado surge enquanto se debate a implementação de cotas nas universidades estaduais de São Paulo. Entre outras coisas, o plano do governo prevê 50% de matrículas de alunos de escola pública até 2016.
Se mantido esse ritmo, a USP vai levar 115 anos para ter 50% de alunos de escolas públicas sem levar em conta cursos como Medicina e Engenharia, em que a proporção desses alunos é menor. A USP não divulgou os porcentuais por curso.
Além de ampliar o bônus (o limite hoje é de 15%), Telma mencionou possível bonificação para certas carreiras e para quem participa de olimpíadas estudantis. Apesar de indicar mudanças, nada foi anunciado.
Segundo Telma, a USP precisa verificar por que os resultados não progrediram como esperado. "É uma situação multifatorial, até o ProUni não pode ser desvinculado."
Para ela, o aumento das bolsas federais em faculdades privadas afastaria o estudante de escola pública do vestibular da Fuvest. Para tentar reverter isso, a universidade tem investido em um programa em que estudantes da USP vão a escolas.Em 2012, houve 3,3 mil visitas.
O problema é que o número de inscritos da rede pública subiu quase 5% entre 2012 e 2013, mas o salto no ingresso foi mais tímido, menos de 2%.
Debate. Segundo o educador Jorge Werthein, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, fazer com que os alunos acreditem que é possível entrar na universidade é essencial. "A USP tem de mostrar que realmente busca a inclusão."
Presidente do cursinho Henfil,Matheu Prado diz que a bonificação não mudará o retrato social da universidade. "Se a USP quer incluir, precisa radicalizar,precisa ter cotas."Para a estudante Thaís Cortez, de 18 anos, que está pelo segundo ano no cursinho da Poli, "quem estudou em escola pública não consegue entrar se correr sozinho". Ela quer uma vaga em Administração na Fuvest.
FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 23/4/2013
USP pode aumentar bônus para rede pública
Medida está em estudo para o próximo vestibular; percentual de ingressante de escola pública variou pouco neste ano
Instituição cogita ainda dar vantagem a estudante que se destacar em olimpíadas de conhecimento
A proporção de alunos formados em escolas públicas que entraram neste ano na USP (Universidade de São Paulo) ficou praticamente estável em relação a 2012.
O resultado fez com que a universidade voltasse a discutir novas ações para aumentar esse percentual.
Uma das medidas em estudo, já para o próximo vestibular, é elevar o bônus para esses estudantes.
Segundo dados divulgados ontem pela pró-reitoria de graduação da USP, a participação da escola pública entre os matriculados variou de 28% a 28,5% em um ano.
No total do ensino médio, a rede pública representa cerca de 85% das matrículas. Há mais de uma década, a principal universidade do país tenta deixar o perfil de seus calouros um pouco mais próximo ao do sistema básico.
A principal ação foi a concessão de bônus no vestibular aos estudantes de escolas públicas. No formato mais recente, praticado desde o ano passado, os alunos podem receber acréscimo de até 15%.
Os percentuais variam, basicamente, conforme o próprio desempenho do aluno na primeira fase do exame (quanto mais questões acerta, maior o bônus).
Segundo a pró-reitora de graduação, Telma Zorn, estudos internos mostram que "há espaço" para que o bônus seja maior, sem que a qualidade do ingressante caia. Não há, porém, proposta fechada sobre a alteração.
Outra possibilidade citada pela dirigente é a de conceder alguma vantagem na seleção a alunos que se destaquem em olimpíadas de conhecimento (como as de física ou de matemática).
Diferentemente das universidades federais, a USP não reserva vagas (cotas) a alunos de escolas públicas. A instituição entende que esse modelo fere o princípio da meritocracia e pode diminuir a qualidade do alunato.
"Pelo que converso com colegas das federais, ainda não há definição sobre o efeito [das cotas]", disse Zorn.
Para frei Davi Santos, coordenador da ONG Educafro (que reivindica cotas), os dados apresentados ontem mostram "como a política de inclusão da USP tem sido mesquinha". Para ele, "está provado que é necessária uma ação mais contundente".
A USP discute também a proposta apresentada no fim de 2012 pelos reitores das universidades estaduais e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para beneficiar alunos de escolas públicas.
A principal mudança seria a criação de curso semipresencial, de dois anos, para alunos de escolas públicas. Os aprovados poderiam entrar na USP, sem vestibular.
O modelo enfrenta resistência em algumas unidades, que criticam o cronograma apertado para discussão.
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