Desde 1996, o número de mestres e doutores no país cresce 10% ao ano, mas ainda estamos longe das nações desenvolvidas. O DF lidera o ranking da elite acadêmica
RENATA MARIZ, Correio Brasiliense, 23/4/2013
Eles ainda são poucos em relação à população total. Representam menos de 0,5% dos brasileiros, mas têm nas mãos uma parcela grande de responsabilidade no desenvolvimento científico e tecnológico do país. Ainda longe dos índices das nações desenvolvidas, o número de mestres e doutores por aqui não para de crescer. De 1996 a 2011, a formação de pós-graduados se expandiu em cerca de 10% ao ano. São 517 mil profissionais com curso de mestrado e 188 mil com título de doutor, atualmente. O Distrito Federal ocupa o topo do ranking da elite intelectual brasileira, com o maior número de pós-graduados em relação ao de habitantes entre todas as unidades da Federação.
A capital do país tem 18 mestres e 5,4 doutores por grupo de mil habitantes — praticamente o dobro do Rio de Janeiro, que ocupa a segunda posição, com 9,2 mestres e 3,6 doutores por mil habitantes. As instituições privadas já respondem por 20% da formação de mestres no país. As quatro áreas de conhecimento mais procuradas nesses programas são humanas (17,1% dos formados), ciências sociais aplicadas (15,5%), saúde (14,7%) e as engenharias (12,8%). Os números, com base em dados oficiais, fazem parte de uma pesquisa divulgada ontem pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, uma organização não governamental sem fins lucrativos que atua em projetos de desenvolvimento científico.
Para Mariano Francisco Laplane, presidente da ONG, o estudo mostra que o cenário atual está melhorando, embora revele muitos desafios. “Vemos hoje que as engenharias estão na quarta posição em relação aos cursos que mais formam mestres. Em 1996, era a segunda maior demanda. Então, é preciso incentivar essa área do conhecimento, assim como as exatas, responsáveis por 8% dos títulos de mestre, para que o Brasil se desenvolva melhor e tenha competitividade”, aconselha.
A boa colocação do DF no ranking de mestres e doutores, segundo Laplane, tem a ver com o alto nível de exigência do mercado de trabalho local. “Sobretudo a administração federal, que necessita de mão de obra muito qualificada”, exemplifica. A pesquisa mostrou, entretanto, que, a despeito de um crescimento de 10% ao ano no número de pós-graduados, o Brasil ainda está longe dos países mais avançados na educação.
Para Célio Cunha, especialista em educação e consultor independente para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o ritmo brasileiro de formação respeita a realidade do país. “É preciso lembrar que a nossa primeira universidade foi aberta em 1920. Países europeus já contavam com essas instituições na Idade Média. Os Estados Unidos, no século 16. Precisamos melhorar, mas considero que estamos no caminho certo”, elogia Cunha. Para ele, iniciativas como o Ciência sem Fronteiras — programa do governo federal que concede bolsas em universidades de outros países — e parcerias com instituições estrangeiras são boas iniciativas.
A pesquisa não se restringiu a avaliar a pós-graduação pelo viés numérico. A qualidade também foi medida. O resultado da consolidação dos dados disponíveis mostra que 40% dos programas de mestrado no Brasil têm conceito 3 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) — em uma escala que vai até 7. Cursos com nota 1 e 2 não são permitidos. “Ter 3 é estar no padrão mínimo de qualidade dentro de um sistema muito rigoroso. Não significa que essas formações são ruins”, diz Laplane.
Ele não vê relação entre o desempenho e a expansão das instituições particulares que oferecem pós-graduação . “As (escolas) privadas têm um papel importante no fomento dos mestrados e doutorados. O que me preocupa é que, pela própria natureza, essas instituições têm um foco em humanas, em ciências sociais, áreas que não demandam grandes investimentos em laboratórios, insumos. O papel de formar pós-graduados nas áreas mais sensíveis e estratégicas fica mesmo com as universidades públicas, sobretudo as federais, que precisam de incentivos”.
“As escolas privadas têm foco em humanas, ciências sociais, áreas que não demandam grandes investimentos. O papel de formar pós-graduados nas áreas mais sensíveis e estratégicas fica mesmo com as universidades públicas, sobretudo as federais, que precisam de incentivos”Mariano Francisco Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
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