7 de maio de 2011

Anonimato é garantido a quem entregar armas Campanha é lançada com a presença de parentes das vítimas do massacre de Realengo;


07 de maio de 2011
| O Globo | Rio | BR





Fabíola Gerbase
Lançada ontem no Palácio da Cidade pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Campanha Nacional do Desarmamento 2011 traz a expectativa de superar as duas campanhas anteriores realizadas no país, entre os anos de 2004 e 2005 e entre 2008 e 2009, por garantir o anonimato de quem entregar sua arma. Além de autoridades como o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, a solenidade contou com a presença de parentes das vítimas do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, que hoje completa um mês.
Armamento agora é inutilizado no ato da entrega
O grupo, mobilizado para criar a Associação dos Familiares e Amigos dos Anjos de Realengo, se reuniu com Cardozo e o prefeito após a cerimônia e aproveitou para entregar uma lista de reivindicações. O lançamento da campanha, originalmente previsto para junho, foi antecipado por causa da chacina no colégio carioca.
- O ministro falou, com razão, que não podemos transformar os colégios em fortalezas, mas há coisas a fazer. Propomos, por exemplo, a contratação de pessoal da área de segurança para ajudar o trabalho dos porteiros e inspetores - explicou Raimundo Nazareth, pai da vítima Ana Carolina Pacheco da Silva.
Para Cabral, o lançamento da campanha foi a forma mais correta de responder ao trágico episódio. Cada cidadão que entregar uma arma receberá entre R$100 e R$300, dependendo do tipo. O prazo para se desarmar vai até 31 de dezembro.
- Temos orçamento de R$10 milhões para indenizar as pessoas que entreguem suas armas. Espero que até o fim do ano falte dinheiro. Estamos ousando ao garantir o anonimato. E a maior agilidade no pagamento das indenizações, com o uso de senha bancárias individuais, também é novidade positiva. Temos dados do Instituto Sangari que mostram redução média de 18% no registro de casos de homicídios no país após as duas campanhas de desarmamento - disse Cardozo, que ontem participou ainda da destruição de duas mil armas na Companhia Siderúrgica Nacional(CSN), em Volta Redonda. - O mais importante é que esse aço será entregue à prefeitura do Rio e servirá para a criação de suportes para videogames, entre outros materiais multimídia nas escolas cariocas, principalmente na Tasso da Silveira.
O diretor da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, abriu ao meio-dia de ontem o primeiro posto de coleta de armas na cidade fora de uma unidade da Polícia Federal.
- Um desafio é a ampliação do número de pontos de entrega. É preciso que a polícia dê apoio logístico para que espaços como as igrejas recebam armas - disse Rubem César.
Até as 17h foram entregues no Viva Rio cem armas. O aposentado Jail Serra, de 79 anos, foi um dos que procuraram o ponto. Ele deixou lá uma pistola calibre 22 e se disse aliviado.
- Tenho três netos e essa arma era motivo de preocupação. Não trazia benefício - avaliou Serra, antes de marretar a pistola, cena que se repetiu ao longo da tarde no Viva Rio, já que um dos compromissos da campanha deste ano é inutilizar a arma no ato da entrega.
O posto da ONG funcionará na Rua do Russel 76, na Glória, de segunda a sexta-feira das 9h às 17h e aos sábados das 9h às 13h. Mais informações estão disponíveis no site entreguesuaarma.gov.br
COLABOROU Dicler de Mello e Souza
Um mês após tragédia, dança emociona alunos
Missa lembrará mortos em escola
Marco Antônio Cavalcanti
Ediane Merola
Abraçada ao filho Carlos Matheus, Carla Vilhena sabe que o Dia das Mães, amanhã, será especial. Aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, o menino de 13 anos foi um dos feridos pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira, que exatamente há um mês assassinou 12 crianças no colégio. Aos poucos, a rotina de Carlos e da unidade de ensino começa a voltar ao normal. Ontem, a companhia Dançando Para Não Dançar esteve na escola para uma apresentar o espetáculo "Favela" para pais e alunos. Carlos, atingido de raspão no peito e baleado no braço, estava lá com a mãe:
- Eu poderia estar sem meu filho agora, mas ele está aqui comigo. Isso é o que importa - disse Carla.
Quase no fim do show, a bailarina Ana Botafogo, madrinha do projeto, chegou ao colégio. Segundo ela, os estudantes ficaram emocionados:
- A dança trabalha o movimento, a coordenação motora. Faz a pessoa tirar a emoção que vem de dentro.
A plateia recebeu rosas dos organizadores. Hoje, funcionários, estudantes e seus familiares participarão de uma passeata, que sairá do colégio, às 9h. Às 19h, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, fará uma celebração em memória dos mortos, na Igreja Cristo Libertador, em Realengo.

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