16 de maio de 2011

Educação digital, sim. Não precisamos de aulas de informática



16 de maio de 2011
| Sociedade do Conhecimento | Jornal da Cidade - Bauru | Opinião | SP


Para os ainda nascidos na geração X, entre 1960 a término da década de 70, pode ter sido comum a introdução de conceitos de informática nos conteúdos escolares. Informática era o fim, a ciência a ser percebida. Aprendia-se a ligar e desligar o computador, processar o sistema operacional, operar um editor de textos, manusear o mouse, etc. Estávamos na era do computador fim . Com a intensificação da sociedade da informação e a popularização do computador pessoal, aulas somente de informática não faziam mais sentido nas escolas. Computadores passaram a ser entendidos como realmente deveriam, processadores de soluções. Buscou-se então o uso da informática para facilitar os processos educacionais, desenvolvendo aspectos como coordenação motora, percepção visual, fonética e outros elementos. Surgia a informática educacional. Encenávamos a era do computador meio .
A evolução foi sagaz e continuamos apreendendo com as mudanças sociais. Fomos apresentados a pessoas nascidas após 1980, pessoas multitarefa, autodidatas, conhecedoras de tecnologia, conectadas e que se desenvolveram numa época de grandes avanços tecnológicos: A geração Y ou a chamada geração da Internet.
Com tal geração, toda e qualquer investida e ensinar informática nas escolas se demonstrava uma verdadeira perda de tempo. Eles já sabiam de tudo e mais, sabiam operar palms, smartphones, sistemas operacionais, gps, consoles e outros dispositivos. Informática educacional? Até seria viável, não fosse a elevadíssima auto-estima deste grupo, fruto da formação dada por seus país, que os proíbe de acreditar em qualquer lição sem que antes busquem o aval do Google .
A liberdade que tanto marca esta geração os impede de esperarem passivamente por informações ou conhecimento. O MSN é mais importante que o joguinho chato e lúdico de drag and drop . Estamos lidando com pessoas que nasceram fortemente linkadas com o mundo virtual. E é exatamente neste ponto que percebemos que não mais precisávamos de aulas de informática nas escolas. Eles já sabem, pois nasceram em um berço digital . Para estes, ensinar informática seria algo como ensinar a comer ou a se vestir. Chegamos a atual era da evolução da sociedade da informação: A era do computador como paisagem .
Porém, todo este altruísmo, alta-estima, vaidade, individualismo, egoísmo, umbiguismo trouxeram novas implicações a esta geração, que norteiam como deve ser a educação da sociedade em rede. Superexposição, intolerância, ausência de limites, intromissões e desrespeito são apenas alguns dos fatores geradores do uso reprovável das tecnologias, o que vem gerando danos a estes jovens, que muitas vezes se portam de modo arriscado, para na dizer, imundo, no mundo virtual.
E é neste ponto que percebemos a deficiência. Filhos digitais educados por pais analógicos, que não tinham condições ou preparo para ensinar-lhes sobre os riscos do mundo virtual e a forma responsável e ética de se relacionar com este ambiente. Esta é a lacuna que a escola atual deve suprir, a lacuna da educação digital. Educação digital é nitidamente digitalizar valores e normas do mundo físico, conscientizando-se para os riscos reais dos atos virtuais, gerando o uso responsável da tecnologia. Não precisamos de aulas de informática. Que as escolas possam compreender esta diferença e começar agora a construir as bases para a próxima geração da sociedade da informação.
O autor, José Antonio Milagre, é comentarista de tecnologia, advogado e perito especializado em segurança da informação - e-mail: jose.milagre@legaltech.com.br - Twitter: http://www.twitter.com/periciadigital Site: www.legaltech.com.br

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