11 de maio de 2011
O Globo | Opinião | BR
A resposta é inclusão
Um mês após a morte de 12 crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, o Brasil ainda busca explicações para o crime, inédito no sistema de ensino brasileiro e um dos mais brutais já registrados em escolas no mundo. O que levou o jovem Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da escola, a planejar o assassinato de alunos e a pôr fim à própria vida? O que precisa mudar na escola e na sociedade?
As respostas foram amplamente debatidas pela sociedade. Reabriu-se o saudável debate sobre o desarmamento da população e a realização de nova consulta popular sobre o fim da venda de armas. O reforço da segurança nas escolas também passou a ter uma atenção central.
Mas o aspecto mais discutido foi o da violência e do bullying, as agressões físicas ou psicológicas que afetam a autoestima e a aprendizagem provocam revolta e marginalização e estão na origem de tragédias semelhantes ocorridas em outras partes do mundo.
No vídeo deixado por Wellington, ele diz ter sido "humilhado, agredido e desrespeitado" na escola por suas diferenças. O fato não justifica a barbaridade cometida, mas nos induz a repensar nosso sistema educativo com uma atenção especial para a eliminação de toda forma de violência e de discriminação.
Como base para qualquer política de prevenção à violência na escola, a Unesco defende a educação inclusiva como alicerce fundamental e a adoção de um dos Quatro Pilares da Educação, de Jacques Delors: "Aprender a viver juntos." O que parece ser simples é hoje um dos maiores desafios da educação.
Como transformar um ambiente escolar que exclui e marginaliza os diferentes em uma escola inclusiva, na qual todos têm direito de ser o que são, de ter sua cultura, sua espiritualidade, suas crenças, sua orientação sexual ou condição física especial e de ser respeitados por suas diferenças?
Punir criminalmente meninos e meninas, fechar a escola ou instalar detectores de metais na porta, como chegou a ser cogitado, não resolveria o problema e aumentaria a exclusão.
A escola deve ser explorada como o pilar de uma cultura de paz, que busca a transformação de conflitos em oportunidades de aprendizagem do outro. Deve estar aberta e propiciar que uns conheçam e reconheçam o valor da cultura dos outros. Projetos pautados em valores humanistas, com objetivos comuns e que envolvam diferentes atores, podem ajudar a vencer o preconceito e a violência.
Entre as lições aprendidas com a cruel chacina de Realengo está a de que é tarefa de todos construir uma escola de inclusão, que seja fundamentada na cultura de paz e nos direitos humanos e onde prevaleçam o diálogo, o respeito à pluralidade e à diversidade.
VINCENT DEFOURNY é representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
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