Correio Brasiliense, 13 de Julho, 2011
Por trás dessa questão esconde-se outra: a da metodologia. Independentemente das tecnologias em voga, cabe debater, além de “com o que se ensina e se aprende”, também o “como se ensina e se aprende” diante da nova realidade. Se as atuais tecnologias de comunicação e da informação, as TIC, são elas próprias peças relevantes no atual processo de ensino e aprendizagem, também representam desafio a esse mesmo processo. Afinal, como se sabe, conforme sejam utilizadas, podem ser poderosas aliadas ou temerosas concorrentes da educação formal.
Eis onde entra a metodologia de ensino e aprendizagem. O método, vale lembrar, tem relação direta com a qualidade da educação. Ele faz a diferença, seja em um ambiente altamente tecnológico, seja em um ambiente mais tradicional. Trata-se, afinal, de lidar com mentes de crianças e jovens em um mundo onde há contrastes, disparidades. Para esse mundo desigual, mas no qual a ciência e a tecnologia vão ganhando terreno, o método deve estar comprometido com o raciocínio lógico, a capacidade de pensar por si próprio, a curiosidade científica, a investigação, a descoberta, a inovação.
A criança e o jovem que manipulam habilmente um computador e a vasta rede mundial necessitam de ambiente escolar igualmente instigante. A criança e o jovem que ainda não se familiarizaram com teclados e monitores necessitam, mais ainda, desse ambiente escolar instigador, que os capacite para atuar em uma sociedade altamente informatizada e um mercado de trabalho sequioso de inovação. Para uns e outros, a metodologia mais adequada está comprometida com o presente e de olho no futuro.
Se os tempos de lousa e giz resistem em numerosas partes do globo, em outras tantas regiões, especialmente as que mais se desenvolvem, o quadro-negro vai ficando para trás. A interatividade, já banal na TV e na internet, chega atrasada (mas chega) às salas de aula. O bordão “eu falo e você ouve” cai em desuso e vai dando lugar a indagações como “o que descobrimos aqui e agora juntos?”.
Exames como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que os estudantes dos países economicamente mais desenvolvidos já possuem habilidades equivalentes na leitura em livro impresso e na tela de um computador. O que eles leem, em um e outro formato, é que faz toda a diferença, porém. Debater as ideias presentes seja em um romance, seja em um blog, é tarefa para hábeis professores. Assistir a uma ficção científica em HD ou em 3D, cruzar galáxias em um videogame ou visitar um planetário são apenas bons pretextos para se dialogar sobre astronomia, e a qualidade desse diálogo depende da qualificação dos professores e do material didático disponível no dia a dia.
Transformar o mundo em uma aldeia virtualmente global traz numerosas vantagens. Mas aproveitá-las em termos pedagógicos é um desafio que, em grande parte, está na metodologia de ensino. Em princípio, ela deve anteceder a máquina. A mente do estudante precisa estar preparada para lidar com a enorme quantidade de informação disponível, seja como texto, imagem, som. Filtrá-la, por exemplo, é passo fundamental, que depende principalmente da escola. Aprender a aprender, enfim, está no cerne mesmo do processo educativo. Só metodologia avançada e professores altamente capacitados podem garantir aos estudantes aproveitamento adequado das TIC e de tudo o que o contato com elas envolve.
Na educação do presente voltada para o futuro, a afirmação cede espaço à indagação, e esta vai em busca de soluções que movam o mundo e o tornem melhor. As crianças sempre souberam disso. Parece que só faltava os adultos lhes darem ouvidos.
*Doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), foi representante da Unesco no Brasil e é vice-presidente da Sangari Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário