3 de julho de 2011

Precisamos cultivar uma cultura de paz nas escolas


03 de julho de 2011
Educação e Ciências | A Notícia | Capa | SC

O fenômeno bullying tem motivado profissionais a se especializarem no tema e lançarem livros dando dicas para identificar o problema. O médico Gustavo Teixeira é um deles e acaba de lançar o livro Manual Antibullying , pela Editora Best Seller. Na obra, ele fala sobre os casos de violência nas escolas e explica o que é o bullying, como identificar os envolvidos e como pais e professores devem agir. Teixeira estudou nos Estados Unidos e é mestre em educação pela Framingham State University, membro da American Academy of Child and Adolescent Psychiatry e professor visitante da Bridgewater State University. Na entrevista, ele fala sobre bullying, cyberbullying e dá dicas para educadores e familiares de crianças que sofrem e cometem bullying.
Anexo D Como saber que a criança está sofrendo bullying se ela não se manifestar?
Gustavo Teixeira O bullying é sinônimo de sofrimento, é uma violência que deve ser prevenida e combatida, pois os prejuízos são incalculáveis. Portanto, os pais devem estar atentos às mudanças de comportamento do filho ou filha. Entre outras coisas, o estudante apresenta-se entristecido e desmotivado com a escola; chega em casa com o material escolar rasgado ou destruído; evita atividades como grupos de estudo, passeios ou atividades esportivas; é xingado, ridicularizado ou recebe apelidos pejorativos dos colegas; e apresenta uma queda no seu rendimento.
Anexo D Todos são vítimas nessa história (o agressor e o agredido)?
Gustavo Na verdade, a violência não deve fazer parte da infância ou adolescência e precisamos cultivar uma cultura de paz nas escolas. Podemos encontrar um padrão de comportamento, um perfil característico dos agressores e das vítimas de bullying. Normalmente, o agressor é mais velho e mais forte que sua vítima; existe um desejo de poder e domínio, uma necessidade de afirmação por meio da violência física, verbal ou moral e acreditam na impunidade de seus atos. A vítima apresenta uma incapacidade de se defender das agressões e tem muito medo de pedir ajuda aos adultos. Muitas vezes, são tímidas, retraídas, fisicamente fracas, menores e mais jovens que os agressores. Possuem poucos amigos e não se destacam socialmente ou nos esportes.
Anexo D O cyberbullying é mesmo mais prejudicial que o bullying praticado na escola? Por quê?
Gustavo Podemos dizer que o cyberbullying machuca tanto quanto a agressão física, pois agride a alma da vítima e pode destruir a autoestima dessa criança ou adolescente. O cyberbullying tem ainda um caráter mais cruel, pois permite que os agressores se escondam por trás de identidades falsas e assim podem permanecer no anonimato, agredindo e perseguindo suas vítimas. Os estudos revelam que uma pessoa que foi vítima de bullying na infância tem mais chances de se tornar novamente um alvo de bullying na faculdade e também no ambiente de trabalho, sendo vítima de assédio moral. As pesquisas científicas também identificam uma incidência maior de casos de depressão e ansiedade na idade adulta.
Anexo D Na sua opinião, o problema está aumentando ou o bullying sempre existiu e as pessoas é que não o identificavam?
Gustavo Existem poucos estudos nacionais sobre o tema, mas acredita-se que o bullying sempre existiu, a diferença é que estamos mais atentos na identificação dos casos e as pessoas estão mais conscientes dessa violência. Temos observado também um crescimento do cyberbullying, o bullying executado através da internet. O comportamento bullying tem uma distribuição global. Escolas pequenas ou grandes, todas, convivem com essa violência.
VIDA REAL
Não é só na sua escola e também não é só com você. Muito pelo contrário. O bullying chega nas escolas do mundo inteiro e afeta altos, baixos, ricos, pobres, famosos e desconhecidos.
BRASIL
- Por aqui, alguns ataques em escolas também chocaram a população. Em 2003, na cidade de Taiuva, interior de São Paulo, o garoto Edimar de Freitas foi para a escola armado e atirou contra 50 pessoas. Ele feriu oito e se matou depois. A investigação concluiu que ele era vítima de bullying por ser obeso e que já havia prometido se vingar.
ESTADOS UNIDOS
- Em 1999, dois alunos que sofriam e praticavam bullying contra colegas entraram na escola Columbine e atiraram contra alunos e professores. Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17 anos, mataram 13 colegas com idades entre 14 e 18 anos, e um professor. Eles também feriram 21 pessoas e se mataram.
AUSTRÁLIA
- Este ano, Casey revidou um soco de um colega que seria bully. As imagens foram parar na internet, causaram comoção mundial e os dois meninos deram entrevistas na televisão. Casey ficou conhecido como herói, enquanto o agressor, Richard Gale, é chamado de vilão e passou a ser hostilizado. Os dois alegaram ter sofrido bullying a vida toda e estariam reagindo.
NORUEGA
- Em 1982, três crianças com idades entre dez e 14 anos tiraram a própria vida. A investigação apontou que a causa principal foi o ataque sofrido por elas e cometido por colegas de escola. Devido a isso, e à mobilização que os suicídios causaram, o governo fez uma campanha sobre o bullying já em 1983.
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